Por rafael.nascimento

Rio - A Polícia Civil fez, na manhã deste domingo, a reconstituição do atropelamento e morte da estudante Júlia Resende de Moura, de 19 anos. O acidente aconteceu em Botafogo, na Zona Sul, no último dia 11. A vítima morreu após ser atingida por um ônibus quando pedalava na Rua São Clemente. De acordo com a delegada Bárbara Lomba, da 10ª DP (Botafogo), que investiga o caso, o motorista tinha visão para ver a ciclista. 

"Podemos constatar que ele teve visão, parece que houve uma visão anterior do ponto da colisão. Antes do ponto da colisão, ele teria condições de vê-la no recuo dos ônibus a direita. No momento da colisão, já é uma distância impossível, há várias ondulações e defeitos no asfalto que certamente contribuíram para a queda da ciclista. Com a velocidade, se pararmos a imagem, poderíamos admitir que ele poderia vê-la, mas com a velocidade, pelo que eu conversei com os peritos, seria muito rápido, frações de segundos, mesmo se tivesse visto não teria condições de parar", disse. 

Policial civil simula passos de Júlio Resende momentos de ser atropelada por ônibus em BotafogoEstefan Radovicz / Agência O Dia

Sete policiais e quatro peritos da 10ª DP (Botafogo) participam da reconstituição, que começou por volta das 11h30. Antes, eles mapearam e realizaram medições no local do acidente. A polícia pretende reproduzir o que aconteceu no momento em que Júlia foi atropelada. Em depoimento, o motorista do ônibus afirmou que não teria visto a jovem pedalando. Uma policial civil, com uma bicicleta do Bike Rio, a mesma que Julia usava, simula os passos dados pela jovem antes do atropelamento.

Ciclista atropelada Julia Resende havia acabado de se formar no ensino médio Reprodução Facebook

O motorista do coletivo pode responder por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. "Se ficar constatado que haveria algo a se fazer ainda, diminuir a velocidade, por conta dessa possibilidade de visão, e por algum outro motivo não houve a visão, como desatenção, não estaria olhando para o lado direito, há uma imprudência ou uma negligência aí, que vai se configurar como homicídio culposo", explicou. Uma das câmeras do ônibus analisadas mostra que a ciclista passou pela frente do coletivo, entre 15 e 20 segundos antes do atropelamento. 

A delegada pretende ouvir passageiros do ônibus para saber se ouve algum tipo de percepção ou se o motorista esboçou alguma reação no momento do acidente. "Pelas câmeras internas do ônibus, não houve alerta do motorista (de perceber o atropelamento), mas as câmeras não são tão boas para o fundo do ônibus. Então a gente precisa ouvir essas pessoas." 

Delegada Bárbara Lomba%2C da 10ª DP%2C disse que motorista tinha condições de ver ciclista antes do atropelamentoGuilherme Guagliardi / Agência O Dia

Moradores reclamam dos perigos de pedalar na região

Moradores e curiosos acompanharam o trabalho dos peritos na Rua São Clemente. O professor de Sociologia Roberto Zogbhi, de 55 anos, mora em Botafogo e reforça o perigo que é andar de bicicleta no bairro.

"Só consigo andar de bicicleta no domingo. Dia de semana a via fica muito movimenta e não dá para disputar espaço com os veículos, fora os buracos e as lombadas", disse.

Segundo a delegada, outros fatores, como as péssimas condições da pista, serão considerados no inquérito e os responsáveis podem ser punidos, inclusive a prefeitura. "Civilmente, acredito que sim. Não é minha atribuição dizer, o inquérito policial vai documentar isso. A reprodução simulada foi feita levando em conta todos esses fatores. Então a responsabilidade civil pode ser imputada a outros atores, outros personagens e outras entidades que tenham tido culpa, responsabilidade no resultado", falou Bárbara Lomba.

Motorista afirmou que não viu ciclista em BotafogoReprodução TV

Reportagem do estagiário Guilherme Guagliardi

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