Rio - A Polícia Civil fez, na manhã deste domingo, a reconstituição do atropelamento e morte da estudante Júlia Resende de Moura, de 19 anos. O acidente aconteceu em Botafogo, na Zona Sul, no último dia 11. A vítima morreu após ser atingida por um ônibus quando pedalava na Rua São Clemente. De acordo com a delegada Bárbara Lomba, da 10ª DP (Botafogo), que investiga o caso, o motorista tinha visão para ver a ciclista.
"Podemos constatar que ele teve visão, parece que houve uma visão anterior do ponto da colisão. Antes do ponto da colisão, ele teria condições de vê-la no recuo dos ônibus a direita. No momento da colisão, já é uma distância impossível, há várias ondulações e defeitos no asfalto que certamente contribuíram para a queda da ciclista. Com a velocidade, se pararmos a imagem, poderíamos admitir que ele poderia vê-la, mas com a velocidade, pelo que eu conversei com os peritos, seria muito rápido, frações de segundos, mesmo se tivesse visto não teria condições de parar", disse.
Sete policiais e quatro peritos da 10ª DP (Botafogo) participam da reconstituição, que começou por volta das 11h30. Antes, eles mapearam e realizaram medições no local do acidente. A polícia pretende reproduzir o que aconteceu no momento em que Júlia foi atropelada. Em depoimento, o motorista do ônibus afirmou que não teria visto a jovem pedalando. Uma policial civil, com uma bicicleta do Bike Rio, a mesma que Julia usava, simula os passos dados pela jovem antes do atropelamento.
O motorista do coletivo pode responder por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. "Se ficar constatado que haveria algo a se fazer ainda, diminuir a velocidade, por conta dessa possibilidade de visão, e por algum outro motivo não houve a visão, como desatenção, não estaria olhando para o lado direito, há uma imprudência ou uma negligência aí, que vai se configurar como homicídio culposo", explicou. Uma das câmeras do ônibus analisadas mostra que a ciclista passou pela frente do coletivo, entre 15 e 20 segundos antes do atropelamento.
A delegada pretende ouvir passageiros do ônibus para saber se ouve algum tipo de percepção ou se o motorista esboçou alguma reação no momento do acidente. "Pelas câmeras internas do ônibus, não houve alerta do motorista (de perceber o atropelamento), mas as câmeras não são tão boas para o fundo do ônibus. Então a gente precisa ouvir essas pessoas."
Moradores reclamam dos perigos de pedalar na região
Moradores e curiosos acompanharam o trabalho dos peritos na Rua São Clemente. O professor de Sociologia Roberto Zogbhi, de 55 anos, mora em Botafogo e reforça o perigo que é andar de bicicleta no bairro.
"Só consigo andar de bicicleta no domingo. Dia de semana a via fica muito movimenta e não dá para disputar espaço com os veículos, fora os buracos e as lombadas", disse.
Segundo a delegada, outros fatores, como as péssimas condições da pista, serão considerados no inquérito e os responsáveis podem ser punidos, inclusive a prefeitura. "Civilmente, acredito que sim. Não é minha atribuição dizer, o inquérito policial vai documentar isso. A reprodução simulada foi feita levando em conta todos esses fatores. Então a responsabilidade civil pode ser imputada a outros atores, outros personagens e outras entidades que tenham tido culpa, responsabilidade no resultado", falou Bárbara Lomba.
Reportagem do estagiário Guilherme Guagliardi