Por gabriela.mattos

Rio - Os números de policiais mortos e de mortes praticadas por policiais aumentaram no Rio de Janeiro entre 2014 e 2015, aponta o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado ontem. Enquanto em todo o país 3.345 pessoas foram mortas por policiais em 2015 (nove por dia), somente no Rio foram 645 — 61 a mais do que no ano anterior. Esses números colocam o estado atrás somente de São Paulo, que registrou 848 homicídios praticados por policiais no ano passado. Os dois estados concentram 1.493 mortes decorrentes de intervenções policiais – 45% do total do país.

É também no Rio que policiais morrem mais. Segundo o anuário do FBSP, o número de agentes mortos em serviço no estado pulou de 18, em 2014, para 26, em 2015. No mesmo período, o número de policiais mortos fora de serviço caiu de 82 para 72. Dados divulgados recentemente em audiência pública na Alerj apontam que somente este ano 115 policiais foram mortos e outros 556, feridos. Segundo a PM, 20 policiais militares morreram em serviço, em confronto com criminosos, e outros 41 em folga, vítimas da ação de criminosos.

Um protesto recente nas escadarias da Alerj denunciou o alto índice de homicídios de PMs no estadoSeverino Silva / Agência O Dia

Há um ano estudo divulgado pelo Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP) registrou 3.256 casos de homicídio decorrentes de intervenção policial entre 2010 e 2015. “É um padrão de letalidade extremamente típico e tudo indica que está em crescimento de novo. É muito preocupante porque está fugindo ao controle. É uma quantidade de mortes por intervenções policiais inaceitável”, afirma Silvia Ramos, especialista em Segurança Pública.

A PM informou que, para reduzir a incidência de policiais mortos, determinou a realização de operações envolvendo as unidades do Comando de Operações Especiais (COE) em locais de vitimização de PMs em serviço, além do treinamento dos policiais. Também foi desencadeada a Operação Deslocamento Seguro nos locais de maior incidência de vitimização na folga. As medidas, diz a PM, já resultaram na redução nas mortes em folga e em serviço desde junho.

Mãe sofre com morte do filho policial

Maria de Sousa Januário Eduardo, de 49 anos, até hoje chora a morte do filho, o policial militar José Ribamar Freire Junior, aos 26 anos, em 6 de setembro de 2013. Lotado no 16º BPM (Olaria), ele atuava na UPP Parque Proletário em Nova Brasília, no Alemão, quando foi rendido por dois bandidos na porta de casa, junto com a namorada.

O PM entregou o celular e a chave do carro, mas os assaltantes viram sua arma e dispararam contra ele, que morreu cerca de meia hora depois. “Minha vida acabou. Desde então eu estou abandonada pelo estado. Meu filho me ajudava em 70% nas despesas financeiras”, diz ela, que sofre de depressão.

Redução de armas de fogo

Sílvia Ramos analisa os dados da pesquisa. “O número de mortes de policiais parece pouco em relação ao de pessoas mortas por policiais. Mas ele (policial) não pode morrer, não é porque sua vida vale mais que as outras, mas porque ela vale por todas nós. É para a polícia que a gente entrega o direito de nos defender”, diz.

Para a especialista, o mais urgente é a redução das armas de fogo e munições dentro da cidade e das favelas. “Mesmo não sendo essas as armas que produzem mais mortes, são as armas de guerra que produzem na cidade essa dinâmica muito peculiar de controle de território. Falta um trabalho de investigação e inteligência. Nós não vamos acabar com isso no tiroteio, no confronto. Há 20 anos fazemos isso e não dá certo”.

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