Por clarissa.sardenberg

Rio - Em entrevista ao DIA, o novo secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, afirma que nesse momento de crise conta com “a paixão, a vocação e o sacerdócio dos policiais”. Sá, que foi do Bope— antes de virar delegado federal e ser subsecretário de José Mariano Beltrame por nove anos — lembra que já esteve em confronto. Preocupado com os fuzis, ele fala sobre inovações na sua gestão: um fórum para as UPPs e a participação direta da sociedade no apontamento de possíveis causas para os crimes. 

Confira a entrevista:

Como gerir nessa crise?

Gerir com recursos já é dificil, principalmente na pasta de Segurança Pública e na Segurança Pública do Rio de Janeiro. Sem recursos dificulta muito mais, porque a gente precisa fazer investimentos em tecnologia, em polícia técnica, que não são baratos. Sem recursos a gente tem que fazer o que pode com o que tem. O que eu conto com isso? Com a vocação, com a paixão, com o sacerdócio de ser policial, de cada policial civil e de cada policial militar. É o que me restou. E a gente vai tentar conduzir nossa gestão baseada nisso: na compreensão de que mesmo na dificuldade tem determinadas profissões que elas acabam fazendo parte de uma ressurreição, de uma recuperação, da solução.

Roberto Sá (centro) foi do Bope antes de virar delegado federal e ser subsecretário de Beltrame por nove anosSeverino Silva / Agência O Dia

Sua escolha para o cargo representa uma continuidade do trabalho do Beltrame. Tem algo que queira fazer de diferente?

Alguns programas são muito exitosos e vão continuar, fiz parte da implementação deles. No entanto, a gente vai percebendo a necessidade de ajustes. Por exemplo, em relação às UPPs vou chamar a Polícia Civil de forma sistêmica para um fórum de discussão, pois é importante que ela se veja compreendida no processo de tomada de decisão. Vou pegar como legado das Olimpíadas e aproximar fisicamente as agências de inteligência no Centro Integrado de Comando e Controle.

O senhor é pai do sistema de metas que premia os policiais por bons resultados. Pretende continuar ou reformular o programa?

Pretendo continuar, pois é um método para além da aplicação de resultados, é de integração entre as polícias. Agora,quero fazer um aperfeiçoamento do sistema aproximando a sociedade do diagnóstico. Minha equipe fez um treinamento com a ONU onde recebeu ensinamentos de Segurança Cidadã, que tem uma oferta de uma mandala de condicionantes.

O que é isso? É um desenho de uma mandala com temas que o policial vai olhar e dizer ‘esse tem sido o problema, mas causa disso é, talvez, a falta da prefeitura de iluminar. E isso aqui? Ah, é porque tem presos por latrocínio saindo rápido’. Ou seja, uma possibilidade de enxergar o sistema como um todo e de identificar outros atores nas causas. E isso já está sendo feito como um piloto em todas as regiões e deverá ser uma novidade se der certo.

O que é mais importante: o combate ao tráfico de drogas ou ao de armas?

De armas, pois são as armas que matam mais. Tenho grande preocupação com fuzil pela forma que ele é usado na lógica de confronto do Rio. Então, encomendei para a Polícia Civil manter a investigação com as armas comuns, mas ter foco nos fuzis. E a polícia está trabalhando muito, pois apreende quase uma arma por hora e a agradeço por isso. Mas, temos que trabalhar mais.

Beltrame criticava a entrada de armas ilegais pelas fronteiras do Brasil, monitoradas pela Polícia Federal. Esse armamento chega ao Rio pelas rodovias. Mas o estado possui somente 10 rodovias federais, já as estaduais são 116 e de responsabilidade da PM...

Eu tenho falado de divisas, não de fronteiras. Mas a gente sim tem que fazer o nosso dever de casa, usando a inteligência e a investigação para policiair pontualmente essas rodovias e impedir a entrada das armas. Agora, a inteligência aponta que as rotas mais usadas são pelas rodovias federais.

Se o senhor tivesse recursos para expandir agora as UPPs, expandiria?

Nesse momento, não,pois precisamos de um freio de arrumação. Depois disso, poderia pensar.

Por que morrem tantos policiais assassinados no Rio?

É uma pergunta de difícil resposta, mas de muita lamentação minha e estendo esse lamento para as mortes de todo o Rio. Em 2006, encontramos o estado com uma taxa de 46 homicídios dolosos. Já ano passado essa taxa foi de 25. Sou policial e já estive lá na ponta ( em combate). Já vi policial morrer, já socorri muito policial, só não morri porque tinha um poste me protegendo. Então, eu sei o que é passar por isso. Agora, faço uma reflexão sobre a legislação. Penso que para aqueles que cometem crimes de forma bárbara, a legislação deveria ser mais rigorosa.

E o 13º salário dos policiais será pago?

É uma esperança, uma expectativa e uma necessidade. A gente vai torcer muito para o estado poder pagar.

Os índices criminais estão altos, batendo recordes históricos, como o de roubos. O que a população pode esperar do senhor de forma prática?

Queria muito dar uma resposta que fosse ao encontro dos anseio de todos, inclusive do meu e que, no dia seguinte, reduzisse a violência. Mas não é simples assim. Podem esperar muita determinação, empenho e seriedade. A sociedade pode esperar que no cenário mais caótico financeiro do Rio eu vou colocar uma dedicação sem precedentes.

Beltrame saiu alegando que estava cansado. E o senhor, que estava ao lado dele, não está?

Estou. Mas aceitei o desafio. A oportunidade de fazer algo me reenergiza.

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