Por tabata.uchoa
Rio - Pelo menos uma loja fechada por hora. Este é o resultado da crise para o comércio do Estado do Rio nos primeiros nove meses do ano. De acordo com o Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do Rio (CDL Rio), de janeiro a setembro, 8.419 lojas fecharam as portas em todo o estado. Na comparação com o mesmo período de 2015 (quando 6.681 passaram o ponto), a alta foi de 26%. A média é de 1,2 loja por hora.
Agravamento da crise no comércio é retratado nas ruas cariocas%2C como na Arquias Cordeiro%2C no MéierEstefan Radovicz / Agência O Dia

Para especialistas, o cenário só tende a piorar com o colapso econômico do estado. É desemprego aliado à imprevisibilidade do pagamento de servidores públicos, proposta de aumento de impostos... Haja criatividade e planejamento para manter as vendas e o negócio de pé.

Segundo o presidente do CDL-Rio, Aldo Gonçalves, as perspectivas para o Rio são ainda mais pessimistas com a crise estadual. “Além de estarmos vivendo um cenário econômico difícil no Brasil, o estado tem o agravante de estar falido, sem pagar funcionários. E o Rio tem um número grande de servidores públicos, por já ter sido a capital federal. Isso afeta bastante o comércio”, diz.
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Ele acredita ainda que as dificuldades possam respingar no Natal, que sempre foi o melhor período do ano para o comércio. “Nossa pesquisa indicou crescimento de 1% nas vendas, mas isso foi antes de a situação do estado se agravar. Possivelmente podemos registrar índice negativo, como ocorreu nos dias festivos este ano”, alerta Aldo.
Vítima da crise, o comerciante Leandro Rovay, de 47 anos, decidiu fechar o Sobral da Serra — bar antigo e conhecido de Madureira, na Zona Norte — na virada de 2015 para 2016. “Estava tendo prejuízos. Não valia a pena gastar tanto de energia, com contas altíssimas, para poder manter a quantidade de serviços”, conta ele, que até agora não conseguiu vender o ponto.
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A saída, neste período, foi voltar à casa dos pais. Ele cogita reabrir o bar ano que vem, já que não conseguiu vendê-lo. Mas ele acredita que a iniciativa do governo de aumentar impostos agravará a situação do comércio. “Não vai funcionar. Vai ter muita gente migrando para a informalidade”, diz.
Para manter seu negócio, a Trigo e Cevada Pães e Massas, Paulo Cevada, 54, economiza em cada detalhe. “Já tive 15 funcionários há 5 anos e fui reduzindo. Hoje, apenas dois: minha esposa e outro empregado”. A padaria fica em Quintino, perto da Faetec, que também enfrenta problemas com a crise do estado. “Minha clientela é de funcionários e alunos da Faetec, e de moradores da região, a maioria de aposentados”, conta.
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Para driblar a crise, ele busca manter o preço competitivo: “Fui cortando custos e vendendo coisas mais baratas. Vendo pãozinho francês por R$ 0,45 e faço promoção de 6 por R$ 2,50”.
POR REGIÕES
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Desistências na Zona Norte
Na capital, todas as regiões são afetadas, mas a Zona Norte é a que registra mais desistências de comerciantes. Segundo o CDLRio, de janeiro a setembro de 2016, foram 3.299 fechadas no município. No mesmo período de 2015, foram 2.718. Se comparar as regiões, também nesses nove meses, a Zona Norte é a mais afetada.
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Neste período, o Centro teve 463 lojas fechando em 2015 e 562 em 2016. Na Zona Oeste, foram 795 desistências em 2015 e 976 em 2016. A Zona Sul registrou a entrega de 504 estabelecimentos em 2015 e de 571 em 2016. Já a Zona Norte foi ‘campeã’: 956 lojas fecharam em 2015 e 1.190 este ano.
Economista e professor do IBMEC, Gilberto Braga associa esse problema à ausência do estado — pelo policiamento — na região. “As lojas de rua ainda enfrentam o agravante da violência. O comerciante tem que fazer um seguro e arcar com a falta de segurança”. Para ele, “o aumento da carga tributária e a imprevisibilidade de crédito de salário do funcionalismo só vão piorar esse quadro”.