Segundo a polícia, uma associação criminosa foi montada para fraudar as últimas eleições no município de Campos dos Goytacazes, em que foi eleita a ex-governadora Rosinha Matheus.
Anthony Garotinho foi levado para a superintendência da Polícia Federal no Rio, na Praça Mauá. A deputada federal Clarissa Garotinho está acompanhando o pai.
No início da tarde, Garotinho deixou a sede da PF, foi ao Instituto Médico Legal (IML) fazer exame de corpo de delito, que durou cerca de 15 minutos. Inicialmente, estava previsto que o ex-governador fosse para o Aeroporto Santos Dumont pegar um voo às 19h30, com destino a Campos. No entanto, às 18h15, ele passou mal e foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar.
A prisão ocorreu por volta das 10h, no apartamento do político, na Rua Senador Vergueiro no Flamengo, Zona Sul. Ele foi alertado que policiais estavam na portaria do edifício para cumprimento do mandado de prisão, desceu e se entregou. Na garagem, uma viatura da PF já o aguardava. A Polícia Federal informou que cumpriu mandado de busca e apreensão no imóvel.
O mandado de prisão preventiva foi expedido pelo juiz Glaucenir Silva de Oliveira, na Operação Chequinho da Polícia Federal, que investiga o uso eleitoral do programa "Cheque Cidadão".
O criminalista Fernando Fernandes, defensor de Garotinho, afirmou que "prisão é ilegal". O advogado vai recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para tentar revogar o decreto de prisão expedido pelo juiz da zona eleitoral de Campos. Um argumento da defesa é que o ex-governador não foi candidato nas eleições municipais. Garotinho governou o Rio entre 1999 e 2002.
Em outubro, a Polícia Federal prendeu três vereadores de Campos por suposto envolvimento no esquema - Kellenson Ayres Figueiredo de Souza (PR), Miguel Ribeiro Machado (PSL) e Ozeias Martins (PSDB). Outro alvo da Operação Chequinho é a secretária de Desenvolvimento Humano e Social da prefeitura de Campos Ana Alice Ribeiro Lopes de Alvarenga.
Para Justiça, ele seria o mão de ferro do esquema
Garotinho é atual secretário de Governo de sua esposa, Rosinha Garotinho, prefeita de Campos, onde realizava reuniões periódicas com os coordenadores do programa Cheque Cidadão.
Desde setembro do ano passado, nove pessoas do governo municipal de Campos foram presas devido a fraudes no programa. Mas, pela primeira vez, através de depoimentos de duas testemunhas, incluindo uma que o MP diz ter sido ameaçada, além de interceptações telefônicas, a Justiça afirma que Garotinho seria “a mão de ferro de um verdadeiro esquema de corrupção eleitoral”.
Em seu despacho, o juiz Glaucenir de Oliveira disse que, em uma das gravações, o ex-governador afirma a uma pessoa para não se preocupar com o alto número de inscritos no programa Cheque Cidadão. “(Garotinho) determina ao outro interlocutor que insira milhares de pessoas no pagamento de benefícios assistenciais, embora aquele esclareça não haver possibilidade jurídica e legalidade”.
Em outro trecho, o juiz diz que Garotinho ordenou a destruição de documentos que comprovassem as fraudes e diz que ele não se preocupava com as consequências jurídicas. “O réu inclusive afirmou que o importante seria realizar o pagamento e que caso houvesse problemas com a Justiça, a responsabilidade deveria recair sobre os beneficiários”. A intenção de Garotinho, caso fosse confrontado com a Justiça, seria dizer que os inscritos fraudaram o programa, segundo Glaucenir.
A defesa do ex-governador afirma que as acusações são infundadas. Sua defesa pediu habeas corpus, que foi negado pelo TRE, e recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral, que não havia julgado o pedido até o fechamento desta edição. “A fundamentação principal seria ameaça a testemunha, no entanto, a pessoa que se diz ameaçada não fala de ameaça. O delegado do caso é investigado por tortura psicológica e há denúncias de Garotinho sobre isso”, afirmou seu advogado Fernando Fernandes.