Por bianca.lobianco
Rio - Com o estado quebrado financeiramente, uma das áreas que mais pode ser atingida é a Segurança Pública. A medida que a falta de recursos se torna latente para a manutenção do mínimo necessário para a operacionalização das polícias Civil e Militar — chega a faltar papel higiênico nas delegacias e combustível suficiente para as viaturas da PM —, os índices de violência disparam a cada mês. Em outubro, o ápice da crise: uma guerra em pleno bairro de Copacabana, onde intenso tiroteio nas comunidades de Cantagalo e Pavão-Pavãozinho deixaram três suspeitos mortos, fechou o comércio e apavorou moradores na regão, fez com que o secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, pedisse demissão. O cargo foi ocupado pelo ex-subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, Roberto Sá.
Crise abala policiais%3A no protesto de quarta-feira%2C dois que faziam segurança se uniram a manifestantesLUIZ ACKERMANN/16.11.2016

Os números do Instituto de Segurança Pública (ISP) de setembro, divulgados recentemente, traduzem a sensação de insegurança, deixando ainda mais incertezas no ar quanto ao futuro do setor. Os homicídios dolosos (com intenção) aumentaram, no acumulado de janeiro a setembro deste ano, em 17,8% em relação ao mesmo período do ano passado (3.098 casos, contra 3.649).

Nos mesmos meses, os roubos de rua (a transeunte, celulares, em coletivos) cresceram 44,1% (63.714 ataques em 2015 e 91.826 este ano). Também morreram mais policiais civis e militares em serviço: 21 nos primeiros noves meses de 2015 e 26 no mesmos período deste ano. Já balas perdidas mataram 38 pessoas de janeiro a setembro, quando 150 pessoas no total foram atingidas.

“O Ministério da Defesa tem que intervir imediatamente na segurança do Rio. A situação é caótica. O clima de insegurança tomou conta dos cariocas e dos integrantes das próprias corporações, o que é muito grave. Não é possível garantir a segurança da população contra facções poderosas e bem armadas, com batalhões sucateados e policiais que sequer recebem seus salários em dia”, adverte o sociólogo e cientista político Paulo Baía.
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‘Há muitos policiais nos quartéis da PM’
José Vicente Filho, coronel PM e ex-secretário nacional de Segurança Pública, discorda de Paulo Baía. “Não acho que um estado com cerca de 60 mil policiais militares e civis, tenha necessidade de intervenção da Força Nacional. O que falta ao governo do Rio é fazer uma arrumação na gestão da segurança e ter pulso forte junto aos comandados”, opina, defendendo a prisão dos dois PMs do Batalhão de Choque que passaram para o lado dos manifestantes em recente protesto na Alerj.
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“Foi abandono de postos”, justifica. “Outra saída é o estado colocar nas ruas mais de dois mil homens que fazem serviços burocráticos em quartéis. Há outros dois mil como agentes penitenciários. E há bombeiros demais no Rio (em torno de 17 mil) . O dobro de São Paulo”, critica.
Policiais reivindicam salários em dia

Representantes de policiais civis e PMs, por sua vez, não poupam críticas ao estado. O coronel PM Fernando Belo, presidente da Associação de Oficiais Militares Estaduais, diz que as tropas “só querem o mínimo: receber em dia e o 13º salário”.
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Fábio Neira, presidente da Coligação dos Policiais Civis, diz que é preciso fazer a revisão das isenções fiscais concedidas pelo estado, além da cobrança efetiva da dívida ativa e da extinção de cargos comissionados nos três poderes. “Se não resolver, restará a intervenção federal e a rediscussão do pacto federativo”, lamenta.
O coordenador de comunicação da PM, major Ivan Blaz, defendeu a realização de protestos pelos policiais, mas pediu que os manifestantes respeitem os colegas em serviço.