Por clarissa.sardenberg
Rio -  O que era para ser um passeio inesquecível pelo Rio de Janeiro se transformou no maior pesadelo da vida dos italianos Roberto Bardella e Rino Polato, de 52 e 59 anos. De férias na América Latina, os primos motociclistas chegaram ao Brasil por Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai, com o sonho de conhecer a Cidade Maravilhosa. Mas violência do tráfico de drogas acabou com a aventura da dupla.
Na manhã desta quinta-feira, eles aproveitaram o dia ensolarado para ir ao Cristo Redentor. No retorno, o destino seria as praias da Zona Sul, mas erraram o caminho, guiado por GPS, e entraram no acesso do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, onde se depararam com cerca de dez traficantes fortemente armados.
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Roberto Bardella, que vinha na frente, não parou e foi baleado na cabeça e outro no braço. Morreu na hora. Assustado, Rino Polato parou com sua moto, ergueu os braços e retirou o capacete, salvando-se da morte, mas não dos piores momentos de sua vida.
Turistas italianos Roberto Bardella e Rino Polato viajam em motocicletas e entraram por engano nos Prazeres Reprodução Facebook
O italiano viu o corpo do primo ser jogado na mala de um carro branco, depois foi obrigado a entrar no veículo, sob a mira de fuzis, e ficar por cerca de duas horas nas mãos dos bandidos. Ao perceberem que as vítimas eram turistas em vez de policiais, os criminosos ficaram sem saber o que fazer.
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Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade avisaram aos criminosos, através de mototaxistas, que a repercussão da morte dos turistas poderia provocar uma intervenção da Força Nacional e da Polícia Federal. Os traficantes, então, decidiram liberar Rino Polato junto com as duas motos e o corpo do primo na subida da Rua Cândido de Oliveira, no Rio Comprido, que dá acesso ao Morro dos Prazeres, pouco depois das 13h. Polato foi resgatado por policiais e levado para a Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat), no Leblon, onde prestou depoimento acompanhado por funcionários do Consulado Italiano e de policiais da Interpol.
“Segundo o Rino Polato, que estava muito abalado e chorava muito, a impressão que ele teve foi de ter sido, junto com o primo, confundido com policiais, por estarem com câmeras acopladas aos capacetes”, explicou o delegado Fábio Cardoso, titular da Delegacia de Homicídios da capital.
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Provas foram enterradas e motos, limpas

A preocupação dos traficantes com a repercussão internacional do caso e a possível ocupação com tropas federais fez com que os bandidos destruíssem e enterrassem as provas que pudessem identificá-los, como celulares e câmeras que estavam com os turistas. A polícia espera que Rino Polato consiga, através do mapa da região, identificar onde estas provas podem ser encontradas, bem como o local exato do assassinato do primo.
As motos usadas pelos italianos também foram lavadas pelos criminosos que, segundo Polato, usaram luvas para não deixar impressões digitais. As motocicletas, superequipadas, tinham placas da União Europeia, e foram trazidas pelos turistas, que pretendiam percorrer o Brasil de Norte a Sul, além de outros países da América Latina.
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“Já estamos com equipes no local e temos, também, a identificação de muitos traficantes que atuam na região. Esperamos poder solucionar este caso rapidamente, com o apoio dos moradores”, disse Fabio Cardoso.
Notícia foi destaque no mundo
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Os sites de jornais italianos lamentaram expressivamente o caso dos motociclistas. A notícia ocupava, à noite, o alto da capa digital do ‘Corriere Della Sera’, o principal do país. “É o terceiro (italiano morto) em menos de um mês”, lembrou o ‘Il Fatto Quotidiano’. “Tragédia no Brasil”, lamentou o ‘Il Gazzettino. La Stampa’ e ‘Il Tempo’ foram outros da imprensa local a noticiar o incidente.
Além dos italianos, outros veículos de comunicação internacionais noticiaram a morte do turista. O espanhol El País, com sede no Brasil, dedicou espaço grande ao caso.
O ‘Daily Mail’, do Reino Unido, reproduziu reportagem da agência Reuters, uma das maiores do mundo. Nela, o autor destaca que o crime ocorreu depois de anos tentando reduzir a violência na cidade para a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada.
A Associated Press, outra agência renomada, também destacou a morte. A matéria foi usada até na distante Nova Zelândia, pelo ‘NZ Herald’.
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