Por gabriela.mattos
Rio - As fortes chuvas já começaram e 180 comunidades do Estado do Rio estão sem as sirenes de alerta para evitar desastres por falta de dinheiro para novos contratos. Com o serviço desativado desde março, a tragédia anunciada ocorreu: uma morte por soterramento, na madrugada de ontem, em uma comunidade que está com sirenes desligadas. Luizete Paz dos Santos, de 69 anos, estava sua casa, no Morro dos Cabritos, em Xerém, Duque de Caxias, quando uma encosta encobriu sua casa durante forte chuva. Seu corpo foi retirado pelos bombeiros após 11 horas de escavações.

Sua filha, Andreia Santos, afirmou que pretende processar o estado, já que a sirene não tocou. “A sirene está desligada. Acordei com um barulho. Saí correndo de casa, com minha filha de 9 anos e vi o que tinha acontecido”, afirmou. Ela morava ao lado da mãe.

Assim como outras casas do morro, ela teve sua residência interditada pela Defesa Civil e foi com os filhos de 9 e 6 anos para a casa de parentes, no bairro. O filho mais velho, de 17 anos, foi morar com o pai, em Campo Grande, na Zona Oeste.

Bombeiros levaram 11 horas para retirar corpo da idosa dos escombros devido ao risco de novos deslizamentosDivulgação

Outras 73 pessoas, de um total de 25 famílias, estão desalojadas, segundo o coronel Marcello Silva, secretário de Defesa Civil do município. “Temos 4 mil famílias que moram em áreas vulneráveis, ou seja, cerca de 15 mil pessoas. São 20 áreas de risco das quais 18 têm sirenes, que estão desativadas. As sirenes são importantes, mas apesar disso estamos realizando outros treinamentos de evacuação”, disse. O último deles ocorreu no dia 4 justamente no Morro dos Cabritos, onde Luizete morreu.

“Mesmo com as sirenes desligadas, treinamos as pessoas a procurar áreas seguras em caso de chuvas fortes. Agora, a sirene é um instrumento importante para reduzirmos o risco de morte nesses locais”, disse o coronel Marcelo Silva. Ele participou da implantação das primeiras sirenes no estado, em 2010, na capital. As sirenes do Município do Rio estão funcionando, segundo a prefeitura, responsável pela sua manutenção.
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Agentes comunitários intensificaram os trabalhos de avisos ontem. A previsão do tempo é de chuva para hoje, com possíveis ressacas nas praias do Rio e Niterói.
Sirenes soaram na Região Serrana, houve deslizamentos, mas sem feridos
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O temporal também atingiu a Região Serrana, que tem as sirenes de alerta mantidas pelos municípios. Em Petrópolis, chove forte desde quarta-feira e todas as 18 sirenes instaladas nas comunidades foram acionadas.
A Defesa Civil do município registrou vários deslizamentos de terra, mas não houve registro de feridos. Em dois dias foram registrados 67 chamados à Defesa Civil sobre deslizamentos atingindo residências e vias públicas.
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Há pelo menos três famílias desalojadas, que foram para a casa de amigos ou parentes. Não há desabrigados na cidade. O maior índice pluviométrico foi registrado no bairro Independência, onde choveu 206 milímetros em 24 horas. A Defesa Civil opera no estágio de alerta.
Em Teresópolis cinco sirenes foram acionadas em pontos distintos. No total, foram feitos 28 chamados à Defesa Civil em 24 horas em 1 7 bairros diferentes, a maioria sobre deslizamentos de terra. Em um deles, no Jardim Meldon, uma casa foi atingida, mas não houve feridos.
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Nova Friburgo permanece em estágio de atenção. Foram atendidas 21 ocorrências em decorrência das chuvas. Um deles foi o deslizamento de pedras no bairro Debossan, embora não haja registro de feridos.
A Rodovia Rio-Teresópolis permaneceu ontem com o sistema pare e siga na altura do Km 84 devido a um deslizamento.
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De acordo Instituto Climatempo há possibilidade de novos deslizamentos de terra na Região Serrana provocados por temporais. A Região Norte fluminense também está em estágio de alerta devido à registros de enchentes e áreas alagadas.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) registrou 216 mm em Independência 2 e 193,24 mm em Alto da Serra, no município de Petrópolis. Há previsão de mais chuvas nestas regiões para hoje.
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Contrato sem renovação desde 2015
O dono da Tecal Engenharia, Marcello Matta, afirmou que o governo do estado não renovou o contrato feito com licitação, no ano de 2015. “Nós tivemos um contrato de um ano com o governo estadual que se encerrou em outubro de 2015, e tudo foi pago. Mantive por conta própria as sirenes funcionando na época mais crítica, a do verão e chuvas. Mas não houve renovação”, disse ele.
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As sirenes foram desligadas, então, em abril de 2016, em 180 comunidades de 12 municípios: Duque de Caxias, Queimados, Barra Mansa, São Gonçalo, Barra do Piraí, Mangaratiba, Angra dos Reis, São João de Meriti, Areal, Cachoeira de Macacu e Magé. Em Niterói, a prefeitura resolveu arcar com os custos.
O Ministério da Integração Nacional anunciou um repasse de R$ 9 milhões para o estado do Rio para normalizar o serviço.