Por clarissa.sardenberg
Rio - Um vídeo feito por uma estagiária mostra o psicólogo Leonardo Rosa Nascimento agredindo uma criança autista a tapas em uma clínica especializada na Tijuca. O caso ocorreu em meio a uma atividade pedagógica, quando o menino, de 13 anos, pegou uma massinha de modelar sobre a mesa e a levou até a boca. “Não! Põe! Na boca! C..!”, gritou o profissional. Em seguida, deu dois tapas no queixo do menino, que desviou de um terceiro golpe. Mas acabou sendo atingido por outro tapa. Desta vez, no rosto.
Menino autista é agredido por psicólogo WhatsApp O DIA (98762-8248)

O episódio ocorreu no dia 19 de dezembro do ano passado. O DIA teve acesso com exclusividade às imagens, feitas acidentalmente por uma estagiária que registrava a atividade de outro aluno. As agressões apareceram no fundo do vídeo. A gravação de 1 minuto e 26 segundos, feita por celular, foi postada em um grupo do WhatsApp de profissionais da clínica. E, inicialmente, passou despercebida. No dia seguinte, uma das funcionárias alertou a diretora, que encaminhou as imagens aos pais da vítima.

“A intenção foi filmar o êxito da criança que aparece em primeiro plano. Nem a estagiária tinha percebido o que o vídeo mostrava”, contou a diretora, que preferiu não se identificar.

Em seguida, Leonardo foi demitido, depois de uma conversa com a diretora. “Ele disse que não era o que parecia, que ele teve outro tipo de intenção, de tirar a massinha da boca da criança. Como é uma postura que não consideramos adequada, decidimos pedir a dispensa. Ele trabalhou por dois anos na clínica. Fez todas as qualificações que oferecemos. Era calmo e tranquilo com as crianças. Foi um choque”, desabafou a diretora.

Os pais da criança registraram ocorrência na 19ª DP (Tijuca), que abriu um inquérito por maus tratos. “Se não houvesse o vídeo, o caso não teria ido adiante. Até porque não houve lesões físicas aparentes na criança. É uma história que choca, principalmente porque a agressão foi feita por um profissional qualificado para atender crianças com autismo”, disse o delegado Gilberto Dias, responsável pela investigação.

Especialistas condenam postura de profissional em flagrante de agressão
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As imagens foram mostradas a especialistas, que criticaram a postura do psicólogo. O caso também foi encaminhado pelo DIA à Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da OAB/RJ, que vai acompanhar as investigações. Nos próximos dias, a polícia vai intimar o psicólogo e a estagiária que fez o vídeo. “Vamos buscar informações. É uma conduta inadequada, que precisa ser acompanhada”, argumenta o advogado Luis Cláudio Freitas, vice-presidente da comissão.
O advogado Gilson Moreira, pai do menino agredido, registrou petição com pedido de cassação do registro do profissional no Conselho Regional de Psicologia. Ele criticou a ação do psicólogo desde o começo do vídeo. “Aqueles tapas que ele deu na mesa já desestabilizam uma criança com autismo. Eles não suportam barulho ou pessoas falando em voz alta”, analisa. O pai da criança se refere ao começo do vídeo, quando o psicólogo foi flagrado dando sete tapas com violência sobre a mesa, próximo ao local onde o menino agredido estava sentado. E, depois, disse, aos gritos: “Vou falar, hein? Vou mandar a real! Caraca! Que ideia é essa!”.
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O educador físico Rodrigo Brivio, que trabalha há 14 anos com o desenvolvimento da psicomotricidade de crianças autistas, também condenou a postura do psicólogo. “Os autistas têm uma sensibilidade auditiva grande. É uma enorme agressão para qualquer criança. A agressão física ou verbal é um retrocesso no desenvolvimento do autista”, critica.
Ele acredita, ainda, que esse tipo de agressão é mais comum do que se imagina. “Infelizmente, não são todos os casos que são divulgados, porque os pais têm medo da exposição da criança. “A clínica poderia omitir. A divulgação do vídeo é um fio de esperança”, elogia.
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A terapeuta Helena Gueiros, especializada no tratamento de pessoas com autismo, pede respeito aos pacientes. “As pessoas com autismo merecem respeito. Existem diversas abordagens para o trabalho. E as formas de lidar com os problemas são diferentes. Porém, essa conduta não se encaixa em nenhuma delas”, critica.