Por thiago.antunes
Rio - Carlos Lyra trabalha com comércio exterior. Vende café solúvel e pasta de amendoim para europeus e americanos, por exemplo. Conversando com clientes de várias nacionalidades, ele percebeu a curiosidade que havia sobre um produto autenticamente brasileiro: a cachaça.
“Eles buscavam informação e eu não sabia onde poderiam encontrar. Porque não tem mesmo”, diz. Para preencher a lacuna, o filho de usineiros pernambucanos abre, na próxima sexta-feira, em plena Lapa, o Centro Cultural Cachaça Social Club.

O espaço tem equipamentos típicos de um alambique artesanal (moenda, dornas, tonéis de armazenamento...) e um balcão de bar. Mas não vai funcionar — pelo menos no princípio — como um bar comum. "É um local para se viver uma experiência, para celebrar a alegria e a cachaça", diz Lyra.

Carlos Lyra%3A filho de usineiros%2C ele tem a cachaça no sangue e quer apresentar ao mundo a nossa ‘pinga’Alexandre Brum / Agência O Dia

A 'experiência' foi batizada como Da cana à caipirinha. Funciona assim: o interessado compra um passaporte de R$ 100. Ele é recebido por guias que irão contar (em português, espanhol ou inglês) um pouco da história da cachaça e revelar o processo de produção do destilado. “Ele começa moendo a cana para saber o que é a garapa, que vai virar cachaça depois”.

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Na continuidade do passeio, o cliente recebe uma primeira caipirinha na mão. Depois de aprender sobre o envelhecimento da cachaça, última etapa da produção, chega-se ao bar. Do outro lado do balcão, um bartender ensina os segredos do drinque brasileiro que é famoso no mundo todo. "Mas cada um prepara a própria caipirinha. Os ingredientes estarão à disposição".
A partir dessa segunda caipirinha, o cliente tem a opção de continuar a 'experiência' aproveitando o cardápio de caipirinhas da casa (com, no mínimo, 25 opções a cada estação, como jabuticaba e lichia ou kiwi com limão) e petiscos como bolinho de feijoada com recheio de calabresa.
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“A cachaça tem cinco séculos. Nós vamos contar essa história aqui na Lapa", diz Lyra, que chegou aos 70 anos em boa forma, segundo ele, graças ao traguinho de todo santo dia.
Os ingressos para a experiência Da cana à caipirinha já podem ser comprados pelo site Ingresso Certo ou, no local, entre 14h e 20h, de terça-feira a sábado. O Cachaça Social Club fica na Rua do Resende 53.
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Cachaça, uma bebida com muita história para contar
Lyra reclama: “Como a cachaça faz 500 anos (em 2016) e o governo não faz nenhuma homenagem?”. Seria absurdo, de fato, já que todas as nacionalidades celebram com orgulho seus destilados. Mas a data é controversa. Em 1516, o português Pedro Capico instalou o primeiro engenho de cana do Brasil em Itamaracá, Pernambuco.
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Mas não há provas de que ele alambicou cachaça. Certo mesmo é que, na segunda metade do século XVI, no Engenho dos Erasmos (hoje, em Santos-SP), a cachaça já era produzida e tinha caído no gosto dos moradores do Brasil. No início do século seguinte, ela se espalharia para a província do Rio de Janeiro. Paraty e São Gonçalo se tornaram grandes produtores.
A Coroa portuguesa, incomodada com a concorrência às bebidas da metrópole, resolveu proibir a fabricação da cachaça. Depois, desistiu, mas apelou para a taxação sobre o produto brasileiro. Como resultado, aconteceu em 1660, no Rio de Janeiro, a Revolta da Cachaça. O líder da revolta acabou executado pela Coroa portuguesa, mas a cachaça foi liberada.
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Reportagem de Dirley Fernandes