Por bianca.lobianco

Rio - Na primeira vez, ela entrou tímida. Só de curiosidade. Para comprar um ‘creminho de massagem’. Aos poucos, virou mania. Hoje, o gasto com a sex shop já entrou no orçamento da gestora ambiental Camila Vilela, de 39 anos. Casada há três anos, ela encontrou numa pequena loja de galeria no Centro do Rio um verdadeiro ‘parque de diversões’ para alegrar — e apimentar — a relação. E, para tornar tudo muito mais agradável e divertido, haja criatividade: de roupas sensuais, géis e instrumentos eróticos até um macaco de pelúcia que esconde um vibrador e um aparelho que estimula o pompoarismo, técnica de musculação vaginal que promete aumentar o prazer feminino.

Mulheres perdem cada vez mais a vergonha de assumir que usam objetos eróticosDivulgação

“Chego em casa com tanta coisa diferente que ele fica até assustado”, brinca Camila, hoje totalmente à vontade com o que chama de um novo ‘vício’. A última novidade que ela levou para casa foi um hidratante que promete exalar ferormônio, hormônio sexual que estimula a atração física. É tiro e queda para chamar a atenção até daquele homem mais apegado ao controle remoto. “O verdadeiro elixir da sedução!”, garante a vendedora Silvana Doval, 31, da Chocolate com Pimenta. A loja oferece até horário especial para as clientes mais envergonhadas.

E cada vez elas estão perdendo mais a timidez. Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme) aponta que as mulheres já são responsáveis hoje por 70% das vendas em sex shops. Para este mercado, não existe crise. O setor tem crescido, em média, 8,5% ao ano e chegou a faturar R$ 1,7 bilhão em 2015, segundo pesquisa da Erótika Fair, maior feira do segmento no Brasil. O aumento, em 2016, foi de 14,5% segundo a mesma pesquisa.

O interesse é tão grande que gerou até estudo universitário e acabou virando tema de livro. No recém-lançado ‘Mulheres que não ficam sem pilha: como o consumo erótico feminino está transformando vidas, relacionamentos e a sociedade’, Luciana Walther trata de sua tese de Doutorado em Administração pelo Instituto Coppead, a escola de negócios da UFRJ.
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“Agora elas são mais bem acolhidas nos sex shops e nas butiques eróticas femininas”, ressalta. Apesar disso, a pesquisa mostrou que no Brasil ainda há muito tabu e preconceito contra o consumo erótico feminino. Luciana lembra que a primeira sex shop foi criada em 1962 por uma mulher, a alemã Beate Uhse, para mulheres. “Com o passar dos anos, foram introduzidos serviços destinados ao público masculino na sex shop, o que afugentou as clientes do sexo feminino”.
Mulheres perdem cada vez mais a vergonha de assumir que usam objetos eróticosMarcio Mercante / AG. ODIA

A advogada Mariana Pimentel, 35, garante não sentir vergonha de admitir que usa produtos eróticos, mas prefere não ser fotografada, por medo de ser rotulada. “Não falo para todo mundo, mas não tenho vergonha de falar com os meus amigos. Não falo também por causa da minha profissão.”

Para o empresário Rodrigo Bordallo, esse tabu tem logo que acabar. “Em vários países se encontram lojas nas esquinas, e aqui no Brasil não existe isso”, afirma o proprietário da sex shop online Sexo Falado.
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Luciana diz que isso tem explicação na questão cultural: “Ainda há homens que consideram traição o uso individual por sua parceira de um produto como o vibrador. Outras pessoas ainda acham que a mulher que usa o faz porque não obteve sucesso na busca por um parceiro ou porque seu parceiro não a satisfaz. Outras mais associam os produtos eróticos à perversão.”
Mas nada que uma boa conversa não resolva. Aos 27 anos, Renata Frisson, a Mulher Melão, diz que já perdeu a conta de quantos brinquedinhos já usou para ‘dar um gás’ na relação. Adepta de gel, óleo lubrificante, fantasias e acessórios, ela vê com naturalidade o uso do vibrador numa relação: “No começo o homem machista se assusta, fica um pouco ciumento. Mas a mulher segura e bem resolvida consegue tudo com jeitinho. É só ser bem feminina que ele vai cair no encanto”.
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Camila Vilela também dá as dicas, para o caso das casadas. “Tudo é uma questão da forma como vai levar para o marido. Tem que mostrar que pode ser um prazer a dois, que não está tirando algo que ele pode te oferecer”. Ainda segundo ela, é preciso seguir etapas. “Não foi fácil para ele me ver chegar com um vibrador. Mas tudo foi devagar... Primeiro passando um creminho... Fui descobrindo as coisas na loja e levando... Não cheguei e impus. Consegui quebrar essa barreira, construí uma ponte entre nós dois”, afirma.
Para a Mulher Melão, consumir produtos eróticos é uma conquista da liberdade sexual. “Antigamente era um tabu tão grande a mulher se estimular por meio de um objeto sexual... Hoje é mais livre, o casal usa para apimentar a relação, além de ajudar a mulher a conhecer melhor o corpo e chegar ao ápice”. E ápice é tudo que elas desejam. “Não existe nada proibido entre quatro paredes porque o objetivo é só prazer. Mas jamais vou trocar um homem de verdade por algo de borracha. Com certeza complementa, mas eu gosto muito do verdadeiro”, diz ela, aos risos. 
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