Por thiago.antunes

Rio - Em 1885, o fotógrafo franco-brasileiro Marc Ferrez tirou uma foto em preto e branco da Pedra da Gávea que captura o cenário quase intocado da vegetação. Exatos 130 anos depois, uma equipe do Instituto Moreira Salles (IMS) e do Museu Sankofa subiu ao mesmo ponto usando geolocalização e a ajuda de moradores. Desta vez, um novo cenário: além dos prédios de São Conrado, as numerosas construções da maior favela do Brasil, a Rocinha.

Equipe comparou fotos de acervo com a paisagem atual da RocinhaDivulgação

A ‘refotografia’ é parte do projeto Memória Rocinha. Por dois anos, um time das duas instituições percorreu a pé ruas e vielas da favela e das regiões do entorno, do Alto da Boa Vista a Ipanema, buscando conexões entre passado e presente. Nesse caminho, a equipe resgatou a época da Fazenda Quebra-Cangalha, que se estendia por toda a região onde hoje é a Rocinha e fazia fronteira com o Quilombo das Camélias, no Alto Leblon. Uma antiga estrada que leva o mesmo nome ainda existe, e teria visto a passagem da Família Real. Na Estrada da Gávea, eles reviveram histórias das corridas de ‘baratinhas’, provas de automobilismo que ocorriam nos anos 1930.

As ‘refotografias’ foram feitas a partir de 23 imagens do acervo do IMS. “Nosso arquivo é muito vasto, vem do século XIX para cá. Podemos comparar a paisagem natural com a paisagem cultural e ver a transformação. Isso seria mais difícil em São Paulo, por exemplo, porque não tem pontos de referência naturais”, disse Denise Grinspum, coordenadora de educação do IMS.

No trajeto, entrevistas com moradores ajudaram a construir um mapa ‘afetivo’ com os pontos de maior importância da favela. “A Rocinha não está em nenhum mapa. No Google, são poucas as ruas mostradas. Queríamos tirar a invisibilidade que a maioria das favelas têm, para que as pessoas possam conhecer a Rocinha e ver que ela também faz parte da cidade”, disse Ana Luiza Abreu, supervisora de Ação Social do IMS.

O site www.memoriarocinha.com.br vai ao ar na próxima sexta-feira, e deve continuar a ser alimentado com a ajuda de moradores, que podem enviar fotos da favela pelo Instagram. “Resgatar nossa história é importante pela questão de identidade, ligada à preservação dos nossos direitos e nossa cidadania”, disse Antonio Carlos Firmino, um dos fundadores do Museu Sankofa.

Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat

Você pode gostar