Por tabata.uchoa

Rio - Lançada em 2009, a internet gratuita que deveria funcionar em 19 pontos, incluindo áreas turísticas e comunidades da cidade do Rio e alguns municípios da Baixada Fluminense, está fora do ar há um ano. O programa Rio Estado Digital, da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia prometia atender mais de três milhões de pessoas. Em algumas regiões a rede wi-fi nunca funcionou. O DIA testou a conexão sem fio em várias áreas da cidade durante dois dias. O resultado deixou muito a desejar, embora só a manutenção, segundo dados divulgados pelo estado, custe R$ 4,5 milhões por ano. 

Auxiliar administrativa Lilian da Cruz%2C de 30 anos%2C tenta sem sucesso acessar a rede perto do MaracanãSeverino Silva / Agência O Dia

Na orla da Zona Sul o sinal simplesmente não aparece no visor do telefone. Em alguns pontos, quando funciona, é preciso ter muita paciência para fazer o cadastro no site. Para usar a internet, em apenas duas horas, o usuário tem que preencher um formulário com diversos dados pessoais, o que pode demorar até cinco minutos. Entre o Leme e o Copacabana Palace o sistema não funcionou. Em Ipanema, Leblon e no Aterro do Flamengo a conexão sequer foi localizada. Já na Lagoa, o sinal aparece, mas no momento do acesso a algum site, a rede simplesmente cai e a pessoa não consegue acessar alguma página.

Fora do asfalto, na comunidade Santa Marta, não foi possível o acesso. “No início era maravilhoso, agora, quando clica, não entra”, contou uma moradora, que preferiu não se identificar. Já no Maracanã, a internet simplesmente não existe. Em 2013, o sinal foi lançado e deveria servir aos frequentadores da região. A auxiliar administrativa Lilian da Cruz, de 30 anos, disse que nunca havia ouvido falar na existência de wi-fi grátis no local. Depois de uma tentativa frustrada de acessar a rede, desabafou: “É revoltante saber que são gastos milhões em manutenção e a internet, que deveria ser um benefício para todos, não funciona”.

No Complexo do Alemão, em Bonsucesso, o estudante Hector Santos, 19, contou que desde a instalação das antenas na comunidade, em 2012, ninguém consegue acessar a internet pelo sistema. “Nunca funcionou. Ligamos várias vezes e eles dizem que ‘vão mandar um técnico para consertar’. Estão mandando há anos”, completa o jovem.

Oportunidade%3A Marcelo de Oliveira%2C dono de barraca na Praia do Leme%2C oferece wi-fi gratuita para clientesSeverino Silva / Agência O Dia

Turistas também desaprovam o sistema. “Acabo de vir de Buenos Aires, na Argentina, e lá a internet funciona perfeitamente e é de qualidade. Em qualquer lugar que vá você tem um acesso livre e sem senha. Aqui no Rio, a minha experiência foi decepcionante”, conta a psicóloga paulista Munike Miguel, 29. Ela está no Rio há alguns dias e tentava publicar uma foto nas redes sociais, em Copacabana, às 10h de quarta-feira. A tentativa não teve sucesso.

Barraqueiros da orla da Zona Sul decidiram inovar para atrair os frequentadores. Entre o posto 2 e 3, no Leme, a Barraca do Marcelo oferece conexão de graça para quem consome no local. “A internet do estado é muito lenta e às vezes os banhistas não conseguem conectar. Os nossos clientes já chegam procurando a senha da internet”, conta Marcelo de Oliveira, 42, dono da barraca.

A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação informou que “as redes que fazem parte do Rio Estado Digital no município do Rio foram desligadas para adequação. A ação é uma etapa necessária para implantação do novo modelo do programa”. Ainda não há precisão para o programa voltar a ser usado no Rio.

Problema que se arrasta desde 2015

Não é de hoje que O DIA divulga a dificuldade de conexão na internet pública. Em 2015, uma reportagem mostrou que a própria Secretaria de Ciência e Tecnologia admitia problemas em mais da metade das antenas listadas como ‘ativas’. Na ocasião, a pasta informou que outras áreas da cidade receberiam a conexão gratuita. Passados quase três anos, a conexão continua não funcionando e a cidade não recebeu nenhuma antena sequer.

A decisão de desligar a rede wi-fi teria partido, há um ano, do ex-secretário, o deputado estadual Gustavo Tutuca (PMDB). O DIA questionou o motivo do desligamento e quanto foi gasto durante os quase nove anos de projeto. Tutuca informou, por meio de sua assessoria, que não falará a respeito e que o assunto é de responsabilidade da atual gestão da Secretaria. Em 2013, o deputado havia feito promessa de instalar, ao menos, 50 pontos de acesso aberto à internet sem fio em um ano.


Reportagem do estagiário Rafael Nascimento

Você pode gostar