Por thiago.antunes

Rio - Um dos projéteis que atingiu a menina Maria Eduarda Alves Ferreira, de 13 anos, dentro da escola que estudava, na última quinta-feira, é de fuzil calibre 7,62 X 51mm, que corresponde ao modelo Fal.

Fontes do DIA Online confirmaram a informação. Segundo a polícia, os dois homens mortos estavam com um fuzil AK-47 e duas pistolas calibre 9mm, sendo uma com 'kit rajada'. 

Já os disparos que atingiram o corpo da adolescente foram feitos por diferentes direções. Próximo ao pescoço há duas perfurações que entraram de cima para baixo. Já o tiro que transfixou suas nádegas entrou de baixo para cima. A informação é da Delegacia de Homicídios, que já recebeu o laudo cadavérico. Os investigadores esperam o laudo balístico de um projétil que deverá apontar se o disparo foi da PM ou de criminosos.

Maria Eduarda Alves da Conceição%2C de 13 anos%2C foi morta dentro da escola onde estudava%2C em Acari. Reprodução Facebook

Os pais de Maria Eduarda, Rosilene Alves Ferreira, de 53 anos, e Antônio Alfredo da Conceição, de 63, foram recebidos pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativ do Estado do Rio (Alerj), no início da tarde desta segunda. Segundo o advogado da família, João Tancredo, o encontro teve o objetivo de pedir rigor nas investigações.

"Até o momento, só tivemos promessas. Mas, a família vai lutar pelos seus direitos. Nós temos que nos preocupar com a questão emocional dessa família. Eles estão destroçados. Eles precisam de atendimento piscicológico imediato. E o Governo do Estado tem que arcar com isso, como já fez com outras famílias. A família não abre mão de nenhum direito, e eles tem o direito a uma indenização. Claro que dinheiro nenhum trás de volta a Maria Eduarda. Mas, é um direito deles", disse João Tancredo.

Os pais de Maria Eduarda%2C morta dentro da escola%2C em Acari%2C na Zona Norte do Rio%2C são recebidos pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj)Clever Felix/Parceiro/Agência O Dia

Ainda segundo o advogado, as investigações apontam que os disparos que atingiram a menina partiram do lado onde os policiais militares estavam. "Pessoas que estavam no local que tentavam socorrer a Maria Eduarda contam que os autores do disparos continuaram atirando em direção aos alunos, mesmo depois da menina ter sido baelada. Lamentável esse comportamento. Precisamos apurar o que de fato aconteceu". 

Anderson Rodrigues Pereira, tio e padrinho de Maria Eduarda, também participou da reunião. De acordo com ele, a família aguarda por providências da prefeitura e governo do estado. Durante conversa com a imprensa, o rapaz também reforçou que aguarda o resultado das investigações. "Agora o que a gente precisa fazer é esperar o que a DH (Delegacia de Homicídios) vai dizer a respeito de tudo isso". 

O deputado estadual Marcelo Freixo, que também é Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, disse que o gabinete garantiu que haja atendimento psicológico e que a DH receba a família. "Uma mãe enterrrar uma filha nunca pode ser naturalizado. Precisamos ouvir essa família e ter respeito por essa dor", disse.

Secretário acusa PMs

O secretário municipal de Educação, Cesar Benjamin, usou seu perfil no Facebook para falar sobre a morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, dentro de uma escola em Acari, na Zona Norte. Na postagem, deste domingo, ele acusa os policiais que trocavam tiros contra traficantes do assassinato. A família se reunirá nesta segunda-feira com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj. 

"Não resta dúvida de que os assassinos foram policiais militares que, de uma distância de cerca de 250 metros, decidiram alvejar com tiros de fuzil dois homens que transitavam armados. Atrás desses homens, dentro da escola, nossos alunos praticavam voleibol. Ficaram, pois, na linha de fogo. Maria Eduarda recebeu quatro tiros fatais", escreveu.

Na postagem (leia a íntegra no final), direcionada a profissionais da Educação, ele exalta o "heroísmo" dos professores, do diretor da escola e da coordenadora do 6ª Coordenadoria Regional de Educação no momento do tirotrio, que "comportaram-se heroicamente, protegendo os demais alunos e impedindo que houvesse mais vítimas."

Na tarde desta segunda-feira, a família de Duda e o advogado que a representa, João Tancredo, vão se reunir com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para montar uma frente para cobrar rigor nas investigações. De acordo com Tancredo, testemunhas são categóricas ao afirmarem que os tiros partiram de policiais. 

Leia o texto de Cesar Benjamin na íntegra

?"AOS PROFISSIONAIS DO ENSINO PÚBLICO

1. Na quinta-feira, 30 de março, nossa aluna Maria Eduarda Alves da Conceição, de treze anos, foi baleada e morta nas dependências da escola Jornalista Daniel Piza, em Acari. Não resta dúvida de que os assassinos foram policiais militares que, de uma distância de cerca de 250 metros, decidiram alvejar com tiros de fuzil dois homens que transitavam armados. Atrás desses homens, dentro da escola, nossos alunos praticavam voleibol. Ficaram, pois, na linha de fogo. Maria Eduarda recebeu quatro tiros fatais.

Seguiu-se um intenso confronto, que se prolongou por algumas horas e se estendeu até a avenida Brasil. Nossos professores, o diretor da escola e a coordenadora da 6ª CRE, professora Rejane Pereira Faria da Costa, comportaram-se heroicamente, protegendo os demais alunos e impedindo que houvesse mais vítimas.

Não é possível exagerar a boçalidade da ação policial.

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2. Até hoje, sábado, dia 1 de abril, nossa preocupação concentrou-se no amparo à família, que prossegue. Pai, mãe, irmão e amigos vivem uma situação dolorosíssima, que se estende a todos nós.

Com nossa assistência direta, Maria Eduarda teve velório e sepultamento dignos, em local escolhido pela família.

Um grupo de assistentes sociais e psicólogos está mobilizado para ajudar os colegas, professores e funcionários que foram diretamente afetados.

Eu me reunirei com o corpo docente na segunda ou na terça-feira – aguardo o chamado dos professores – para debatermos como será a reorganização das atividades escolares.

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3. Infelizmente, essa tragédia não foi um fato isolado. Somente ontem, sexta-feira, 31 de março, a violência provocou o fechamento de 25 escolas em diversos bairros e comunidades, deixando 6.227 alunos sem aulas. Três outras escolas abriram, mas nenhum aluno compareceu, por falta de segurança nas imediações de cada uma delas. Essa situação tem se repetido todos os dias.

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4. Por isso, diversas ações já estavam em curso no âmbito da nossa secretaria.

A experiência positiva do grupo de trabalho sobre o Complexo da Maré, com a participação dos diretores, está sendo estendida a outros territórios conflagrados.

No dia 10 de março emiti um memorando interno, dirigido às subsecretarias de gestão e de ensino, nos seguintes termos: “A resolução em vigor, que define escolas de difícil acesso, está defasada. Tenho recebido sucessivos pedidos de professores e diretores sobre as dificuldades de acesso e permanência em escolas que estão em áreas de violência endêmica e não recebem nenhum tratamento especial. Peço que vocês preparem a primeira versão de uma resolução que mantenha os critérios de difícil acesso, em vigor, e acrescente outros critérios, para que possamos tratar, de maneira abrangente, de escolas de difícil lotação.”

Poucos dias depois emiti outro memorando interno (não tenho cópia dele aqui em casa), constituindo um grupo de trabalho específico sobre violência. Estabeleci prazo até meados de abril para receber uma proposta completa e coerente sobre as possibilidades de ação da secretaria em tema tão difícil e delicado.

Estávamos esperando o encerramento da campanha contra o Aedes Aegypti, previsto para o final de abril, para iniciar uma campanha sistemática contra a violência nas escolas e no entorno delas. “Escola como lugar de paz” é o nome provisório com que trabalhamos.

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5. Na próxima segunda-feira, depois de amanhã, terei mais uma reunião com o secretário de Administração Penitenciária e sua equipe. As duas secretarias – uma municipal, outra estadual – já vinham preparando uma ação conjunta nos presídios do Rio de Janeiro, onde estão 51 mil pessoas, tendo em vista propiciar estudo e trabalho aos detentos, em uma tentativa de diminuir a percentagem de reincidência no crime.

Com a mediação da Unesco, já estabelecida, iniciaremos ação semelhante nos estabelecimentos do Degase, que cuida de menores infratores.

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6. Já atuávamos no limite das nossas possibilidades, sem divulgar prematuramente ações que ainda estavam em fase preparatória.

A morte de Maria Eduarda altera a situação. Ela nos impele a levar nossas ações a um novo patamar. Todo o nosso cronograma deve ser compactado, e novas ações precisam ser pensadas. É enorme o número de cidadãos e cidadãs que, com razão, mostram sinais de impaciência e desespero com a situação atual da cidade, do estado e do país, sentimentos que se associam ao descrédito nos partidos políticos e na ação do poder público.

Creio que a comunidade escolar da nossa cidade – que não é pequena – deve tomar a frente de uma mobilização cidadã. Convocarei uma reunião na segunda-feira para debatermos isso. Não desejo tomar uma posição pessoal. Quero ouvir nossos colegas e compreender qual é o sentimento da rede.

Neste momento, inclino-me a sugerir que todas as nossas 1.537 escolas dediquem a próxima quarta-feira a realizar debates, reflexões, ações de mobilização e preparação de materiais em torno do tema da violência e da necessidade da paz, para que na quinta-feira, quando se completará uma semana da morte da nossa aluna, saiamos juntos às ruas, pacificamente e sem conotações partidárias, para dizer ao povo do Rio de Janeiro que é hora de começar a reconstruir as condições da convivência em nossa cidade.

Os profissionais da educação têm autoridade moral para assumir um papel ativo nessa mobilização, cada vez mais necessária, da sociedade carioca.

É o que penso agora, às 3:30 horas da manhã, nesta madrugada insone de sábado para domingo.

Cesar Benjamin
Secretário"

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