Por gabriela.mattos

Rio - Por trás da fumaça das detonações de caixas eletrônicos, que passaram a ser frequentes — em uma semana foram seis —, está um dado alarmante: pelo menos 4,5 toneladas de explosivos, roubadas nos últimos cinco anos no eixo entre Rio e São Paulo, estão nas mãos de bandidos, conforme registros na polícia e publicações na imprensa. A preocupação é com a possibilidadade do uso de dinamites, do tipo TNT (trinitrotolueno), de alto poder de destruição em atos terroristas.

O material pode colocar abaixo, por exemplo, seis Maracanãs ou 16 prédios de 10 andares. Os explosivos estariam sob domínio de facções ligadas a essa modalidade de crime, a maior delas o Comando Vermelho (CV).

Agência da Caixa Econômica Federal completamente destruída em Ipanema%2C na Zona Sul%2C mostra o poder dos explosivos usados por bandidos em ataques pelo estado do RioDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

“A possibilidade do uso de explosivos em ataques terroristas é grande, pois não está escrito em lugar algum que as quadrilhas vão se limitar apenas a explodir caixas eletrônicos”, adverte Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (Abseg), especializado em proteção de autoridades e assuntos terroristas, com enfoque em artefatos explosivos. “Há 20 anos alerto: com tantos recursos dessa natureza em mãos erradas, só não aconteceu tragédia ainda por milagre”, diz. Mesmo mal acondicionados, os explosivos precisam de detonadores.

Para se ter ideia da força do TNT, 700 quilos foram suficientes para implodir o Estádio da Fonte Nova, em Salvador, com capacidade para 80 mil pessoas. “No Brasil, infelizmente, subestimam a capacidade dos criminosos. A probabilidade de as quadrilhas importarem conhecimentos terroristas com uso de explosivos do Exército Republicano Irlandês (IRA), hoje de posse das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que têm estreitos vínculos políticos e criminosos com o Brasil, é real”, garante Cavalcante.

Quase 100 explosões em dois anos

Enquanto não há sinais de participação internacional nos crimes com explosivos no estado do Rio, que já registrou nove explosões bancárias este ano — em 2016 foram 51 casos, 18 a mais que 2015—, bandidos do Rio teriam sido treinados para manusear explosivos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Os ‘cursos’ foram dados a criminosos do CV, quando a facção ainda mantinha vínculo com o grupo paulista. “A parceria evidenciou a intenção de expansão territorial”, deduziu o promotor do Ministério Público Estadual, Fabiano Gonçalves, do Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

As polícias Federal e Civil, além do Exército, que controla e fiscaliza todo tipo de material explosivo, garantem ter investigações sobre roubos, mas, alegando sigilo, não dão informações detalhadas dos crimes.

Arsenal apreendido pela Polícia Federal recentementeDivulgação

No dia 20, em ação com a PM, o Gaeco prendeu 20 suspeitos de pertencerem a bandos que atacavam caixas eletrônicos. Porém, 24h depois, assaltantes explodiram uma agência da Caixa, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema. A estimativa é que pelo menos R$ 2 milhões já tenham sido levados de equipamentos explodidos no Rio, neste ano.

Mais de 13 mil kg recuperados

Entre 2013 e 2015, a atuação do Exército e polícias Civil, Militar e Federal resultou na apreensão de 13,7 toneladas de explosivos no Rio. Ano passado, durante ação da Polícia Militar, 220 bananas de dinamite foram recuperadas no Complexo da Pedreria, em Costa Barros. Um dos maiores assaltantes com explosivos do Brasil, Cássio de Souza, o Cassinho do Bobó, foi preso no mês passado, pela 50ª DP (Itaguaí).

Em nota, o Exército informou que vem intensificando, desde 2012, as ações de fiscalização das atividades de fabricação, importação, exportação, comércio, armazenagem, transporte e tráfego de explosivos e produtos correlatos. De acordo com o general Laerte Santos, comandante da 1ª Região Militar, o último roubo no estado do Rio foi em 2015. A corporação evita detalhar a suposta quantidade de explosivos em poder de quadrilhas. A Federação Brasileira de Bancos diz ter investido R$ 9 milhões em segurança desde 2010.

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