Por thiago.antunes

Rio - Depois de muitos apelos, o Rio de Janeiro, finalmente, recebeu o reforço de 300 integrantes da Força Nacional. A questão agora é saber o que fazer com eles, já que até a noite de ontem nem o Ministério da Justiça e Segurança Pública, nem a Secretaria de Estado da Segurança tinham informações de como a tropa será empregada.

Segundo a portaria publicada no Diário Oficial (DO) da União, a Força Nacional vai “atuar nas ações de segurança pública, de forma integrada à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, na manutenção da ordem pública, através do policiamento ostensivo”.

Os agentes chegaram ontem ao Cefap%2C em SulacapFabio Motta / Estadão Conteúdo

A hipótese mais provável é que os agentes sejam mobilizados no patrulhamento de vias como a Linha Vermelha e rodovias Washington Luís e Presidente Dutra (as duas últimas federais), com foco na repressão ao roubo de cargas. Procurado pelo DIA, o Ministério da Justiça informou que “os detalhes para emprego do novo efetivo seguem sendo definidos em conjunto entre a Secretaria Nacional de Segurança Pública e a Secretaria de Estado da Segurança do Rio de Janeiro (Seseg)”.

Foi um longo caminho de Brasília até o Rio. Não somente por causa da distância de 1,5 mil quilômetros entre o Distrito Federal e a capital fluminense, percorridos em 19 horas de ônibus. Afinal, o governador Luiz Fernando Pezão, desde o fim do ano passado, fez vários pedidos à União, que protelou o envio da tropa até a situação no território fluminense tornar-se praticamente insustentável.

Porém, além do aumento de efetivo — que saltou dos 100 prometidos inicialmente para 300 homens —, o tempo de permanência da Força Nacional foi dilatado, de 30 para 90 dias, que poderão ser prorrogados.

Outros 125 homens da Força Nacional já se revezam na segurança da Alerj e do Palácio Guanabara há três mesesCléber Mendes / Agência O DIa

O contingente que chegou ontem se soma a outros 125 agentes da FN que estão no Rio desde dezembro, cuidando, exclusivamente, da segurança da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e do Palácio Guanabara, sede do governo do estado.

Ambas são alvo constante de manifestações e protestos por conta da crise financeira do estado, que está com salário dos servidores atrasados (208 mil não recebem desde março) e dificuldades para manter serviços básicos como Saúde e Segurança.

A tropa vai ficar hospedada no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da Polícia Militar (Cefap), em Sulacap. A PM informou que não foi preciso fazer nenhuma adequação para abrigar os agentes da Força Nacional, que chegaram em ônibus e viaturas.

Isso atende uma das exigências do convênio, que determina que o solicitante (Estado do Rio) é quem “deverá dispor de infraestrutura necessária à instalação da base administrativa da operação, bem como permitir o acesso aos sistemas de informações e ocorrências, no âmbito da Segurança Pública”.

Os 300 homens devem se revezar em turnos, o que vai garantir, pelo menos, mais 100 agentes diariamente nas ruas. Segundo dados do ISP, o números de homicídios no estado retrocedeu aos tempos anteriores à implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A quantidade de policiais mortos também é recorde: 66 nos cinco primeiros meses de 2017.

‘No entorno da favela, nem pensar’

Para o ex-comandante da Polícia Militar do Rio, coronel Mário Sérgio Duarte, o efetivo da Força Nacional que chegou ontem ao Rio é bem-vindo e pode auxiliar a conter a explosão de violência que tem apavorado a sociedade fluminense.

Entretanto, Duarte alerta que tudo vai depender de como a tropa será utilizada. “É um efetivo ineficiente para todo o estado. Mas, se for empregado nas vias especiais, como Linha Amarela e Linha Vermelha, ou nas rodovias Washington Luís e Presidente Dutra, vai resolver um megaproblema”, afirmou.

Duarte, entretanto, alerta que para participar da “guerra do Rio” a Força Nacional não é a solução adequada. “Nem pensar em colocar os agentes da Força nos entornos das favelas”, disse. O ex-comandante da PM garante que para o patrulhamento ostensivo o reforço de 300 homens é um bom efetivo, mas ressalta que “quanto mais, melhor”.

Para Duarte, a Força Nacional deveria ter um grau de independência maior. “Poderia se estabelecer em regiões para dar uma reposta mais rápida às necessidades dos entes da federação”, defendeu o coronel.

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