Por tabata.uchoa

Rio - Celulares, componentes de computadores e TVs, relógios, pneus, preservativos, roupas, produtos de beleza, móveis e até dinheiro vivo. Não se trata de nenhuma loja em promoção. Os materiais descritos são apenas alguns itens encontrados nas 160 toneladas de lixo, recolhidas mensalmente sob o solo do Rio de Janeiro, nos mais de 50 mil quilômetros de galerias das concessionárias do município. Os detritos, jogados por moradores, influenciam na prestação inadequada de serviços para a própria população.

Equipes da Light fazem 450 inspeções diárias em 18%2C5 mil caixas subterrâneasEstefan Radovicz / Agência O Dia (24.3.2017)

Somente a Cedae, a cada 30 dias, retira nos seus mais de 22 mil quilômetros de redes subterrânea, 85 toneladas de cacarecos, areia e óleo de cozinha. “No Centro do Rio, caminhões de sucção retiram mais de 20 toneladas de resíduos obstruindo as galerias de esgotos. Nesta região, devido à concentração de restaurantes, há alto lançamento de gordura nas redes, que também obstrui a tubulação. Boa parte vai parar até nas elevatórias dos bairros”, aponta nota enviada pela empresa.

O mau uso da rede, alerta a Cedae, é a principal causa de vazamentos e obstruções em seus dutos, o que acaba interrompendo periodicamente o abastecimento para milhares de pessoas. Na tentativa de minimizar o problema, a concessionária passou a equipar suas estações com grades para conter o lixo e proteger as bombas. A sujeira removida é transportada para aterros sanitários. “A areia, porém, não é retida pelas grades e de vez em quando danifica equipamentos, prejudicando a operação do sistema”, explicou a concessionária.

Polícia prende ‘morador de uma galeria’ que furtava cabos da LightDivulgação

Equipes da Light, que fazem 450 inspeções diárias em 18,5 mil caixas subterrâneas nos 31 municípios de sua concessão, costumam achar até pessoas abrigadas dentro das galerias. Nos últimos dois anos, a polícia registrou 121 invasões, com furtos de equipamentos na maioria das vezes. Alguns invasores são recorrentes, como José Cardoso dos Santos Neto, de 44 anos, que acabou ganhando o apelido de ‘Tatu da Zona Sul’.

Preso pela terceira vez ano passado numa galeria da Light, em Ipanema, ele acabou fugindo da cadeia novamente este ano. Tatu é acusado de ter furtado, sozinho, pelo menos cinco toneladas de fios da empresa no Centro, Ipanema, Jardim Botânico e Lagoa, desde 2013. Há dois anos, em um dos furtos, deixou Ipanema inteira sem luz por várias horas. Em 2012, um andarilho que ‘morava’ em uma subestação no Centro, morreu eletrocutado.

Em nota, a Light informou que é comum seus técnicos encontrarem desconhecidos ‘morando’ em galerias. “Nas galerias da Barra, às vezes, são encontrados armários improvisados em transformadores, com roupas, sapatos e outros pertences. O jeito é reforçar portas e tampas para evitar acessos indevidos”. Nos últimos seis anos, a empresa investiu R$ 455,1 milhões na rede subterrânea, priorizando sistemas de segurança.

Até cachorro morto no teto dos trens

Nos trilhos e estações de trens, a SuperVia retira cerca de 46 toneladas de lixo por mês. Entre os materiais recolhidos, são encontrados desde objetos comuns, como guimbas de cigarros, pares de tênis e sacolas plásticas, até itens lançados na rede aérea e sobre os trens, como bicicletas, balões, animais e pipas.

No dia 15 de março deste ano, um cachorro morto foi encontrado no teto de uma composição do ramal Japeri. Neste ano, a SuperVia já foi obrigada a fazer 13 paralisações para a retirada de objetos e bichos nas calhas de trilhos e equipamentos, que podem causar graves acidentes.

A Light empresa investiu%2C em seis anos%2C R%24 455 milhões na rede subterrâneaDivulgação

Para evitar as paradas do sistema de transporte, a empresa informou ser primordial a construção de muros e passarelas ao longo da linha férrea. Mas esclareceu que tal iniciativa depende do poder público, pois envolvem soluções urbanísticas de acessibilidade, desapropriações de imóveis e programas sociais.


Em 2016, 13 mil itens achados

Entre as concessionárias que operam galerias subterrâneas e túneis no estado, a MetrôRio é a que mais encontra objetos inusitados. Só no ano passado, a empresa recolheu 13 mil itens curiosos. Entre as esquisitices, estavam um par de dentaduras, uma gaiola com um trinca-ferro (pássaro de valor considerável no mercado), cadeira de rodas, TVs, carrinho de bebês para gêmeos, além de várias muletas e bengalas.

De acordo com um funcionário da empresa, que preferiu não se identificar, cédulas de dinheiro são achadas diariamente. “Sempre entregamos tudo no setor de achados e perdidos”, comentou ele, que já encontrou R$ 300 dentro de um maço de cigarros na Estação Uruguaiana. Diariamente, 25 pessoas, em média, vão atrás de objetos perdidos no setor de achados e perdidos.

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