Por gabriela.mattos

Rio - Moradores de Mesquita estão em pé de guerra com a TV Globo. Tudo por conta da novela das sete, ‘Rock Story’, da estreante Maria Helena Nascimento. O enredo conta a história de Gui (Vladimir Brichta), um músico que fez sucesso nos anos de 1990, mas que caiu no esquecimento. Embora seja uma obra de ficção, os mesquitenses estão na bronca com as falas e o duro tratamento que Dona Néia (Ana Beatriz Nogueira), que teve passado de pobreza na cidade da Baixada Fluminense, dá a personagem Stefany (Giovana Cordeiro), também nascida lá, e namorada de Léo (Rafael Vitti), filho que a deixou milionária pela música. Néia usa termos considerados preconceituosos e depreciativos em relação aos moradores, classificados por ela como “aquele povinho da Baixada”.

O assunto é tão sério, que seis representações pedindo indenização e retratação da emissora já tramitam na Promotoria de Tutela Coletiva do Ministério Público do Rio. Além disso, vereadores preparam uma carta de repúdio à Globo, na qual também exigirão “retratação perante ao povo”, endossada por instituições de proteção feminina.

Moradores de município da Baixada protestam e vão à JustiçaFabio Gonçalves / Agência O Dia

Morador de Mesquita e autor da ação no MP, Alan Mendes, de 29 anos, entende que há “injúria racial” não só contra Mesquita, mas contra toda a região da Baixada Fluminense. “Fui à Justiça a pedido de amigos, principalmentes mulheres, que se sentem ofendidas com os ataques gratuitos e desnecessários. Ninguém merece menções pejorativas como ‘povinho baixo, sem cultura e sem educação’”, justifica.

O vereador Marcelo Biriba (PRB), adiantou que o assunto já foi debatido com os parlamentares. “Rock Story está desmoralizando a cidade, passando péssima imagem nossa para o país. Exigimos respeito e pedido de desculpas”.

Em nota, a TV Globo garante que “não há qualquer intenção em ofender Mesquita ou seus moradores”, alegando que Néia, por ter tido um passado de dificuldades em Mesquita, onde criou dois filhos sozinha, como gari, não gosta de ter lembranças do lugar. “Em contrapartida, o local é exaltado o tempo todo por Léo. Lá (Mesquita) é o único lugar em que ele é feliz de verdade: joga futebol, tem amigos e reencontrou Stefany, por quem é apaixonado”, argumenta no texto.

Protestos contra a novela crescem nas redes sociais. Prefeito de Mesquita diz não ver problema

Alan Mendes lembra que no capítulo de quinta-feira, Manu, personagem de Antônia Morais, diz que Stefany “tem cara e jeito de garota de programa”. Em outros capítulos, a moradora de Mesquita é chamada de “corrimão, aquela que todo mundo põe a mão”, e “virose, que todo mundo pega”.

“No meu entender, isso é uma afronta indireta às mesquitenses”, diz Alan. “Infelizmente, quando dizemos ser de Mesquita em outras cidades, em hotéis, por exemplo, há sempre uma piadinha lembrando como o município é difamado na novela. Me sinto envergonhada”, desabafa Adriana Cosme, de 34 anos.

No enredo de Rock Story%2CDona Néia (Ana Beatriz Nogueira)%2C usa termos como “aquele povinho da Baixada”%2C ao se referir à cidade da personagem StefanyDivulgação

O ambulante Roberto Rodrigues, 63, também está uma fera. "Sustento minha família dignamente vendendo caas de celular há 20 anos no Calçadão de Mesquita. Esses dias, Dona Néia menosprezou a atividade, taxando vendedor de capinha de celular da cidade como um pobre coitado”, comentou Roberto, pai de dois filhos.

Nas redes sociais, o desconforto é latente. “Porque não falam das nossas belezas, como cachoeiras, rampa de parapente e Parque Natural?”, questinou Marilene Germano. “Falta de respeito mesmo”, resumiu Maurício Silva, outro internauta.

Em nota, o prefeito Jorge Miranda (PSDB) disse que lamenta que alguns telespectadores estejam se sentindo ofendidos. Ele disse não ver polêmica, “pois se trata de uma obra de ficção”.

Um telefonema e briga com três cidades

Em março do ano passado, o ex-prefeito do Rio, Eduado Paes, também foi motivo de polêmica. Em conversa gravada pela Polícia Federal com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele debochou de três cidades da Região dos Lagos — Maricá, São Pedro da Aldeia e Araruama —, classificadas por ele como m., e deixando os moradores em polvorosa. Diante da reação indignada de políticos e moradores, Paes acabou pedindo desculpas públicas.

Quanto à Mesquita, o município é o mais novo da Baixada, tendo se emancipado de Nova Iguaçu em 1999. Seu território tem 41,4 mil km² e uma ‘feição geológica’, semelhante a uma cratera vulcânica. O Maciço do Mendanha predomina. Mesquita tem hoje 697 ruas, travessas e avenidas, sendo 95% delas pavimentadas, segundo a prefeitura. Atualmente, 60% do território é considerado Área de Proteção Ambiental (APA). Outro orgulho dos moradores são os estádios Niélsen Louzada e Giulite Coutinho.

Colaborou o repórter Luarlindo Ernesto

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