Por gabriela.mattos
Moradores da Providência deram entrevistasDivulgação

Rio - Exatos 120 anos após o início da ocupação do Morro da Providência, as ‘crias’ da favela Maurício Hora, fotógrafo autodidata, e Luiz Carlos Torres, historiador da UFF, fizeram o caminho inverso de seus antecessores. A dupla saiu do morro entre Santo Cristo e Gamboa e viajou até a cidade baiana de Canudos, onde ocorreu, em 1897, a guerra homônima entre Exército Brasileiro e sertanejos liderados pelo beato Antônio Conselheiro. Foram os soldados remanescentes das batalhas que, voltando ao Rio, deram origem e nome à primeira favela do Brasil.

Com fotografias e entrevistas de moradores dos dois lugares-irmãos, foi montada a exposição fotográfica ‘Morro da Favela à Providência de Canudos’, em cartaz no Espaço Cultural BNDES até o dia 14 de julho. A comunidade atrás da Central do Brasil, até 1930 chamada Morro da Favela, já tinha relevância cultural no início do século XX. Em 1916, ela virou música, em ‘Morro da Favela’; em 1935, foi cenário de filme, em ‘Favela dos Meus Amores’.

Ao resgatar a história da comunidade, os idealizadores da exposição evitam o pano de fundo da violência, que costuma pautar discussões sobre o tema. Sobrou espaço para ressaltar as raízes das favelas: o negro e o nordestino. “Nas primeiras décadas do morro, não se resolvia nada com arma de fogo, e sim com peixeira (do nordestino) e canivete (do malandro). Hoje, morrer de peixeira se torna até romântico. As pessoas não morriam como se morre nas comunidades hoje”, conta Torres, que fez a pesquisa com a antropóloga Flávia da Costa.

No interior da Bahia, o fotógrafo Horta viu de perto as ruínas do Arraial de Canudos, descrito por Euclides da Cunha no clássico ‘Os Sertões’, e as paisagens permeadas por faveleiras, o arbusto que inspirou o nome das comunidades de hoje. Ali, o artista também viu uma conexão entre a Canudos e a Providência atuais.

“De um lado, a seca rigorosa do sertão baiano fez reduzir o nível de água do açude construído em cima do antigo vilarejo de Antônio Conselheiro, trazendo à tona as ruínas do cenário da guerra; de outro lado, as obras de revitalização da Zona Portuária carioca rasgaram as ruas e o cotidiano da favela e dos bairros do entorno”, disse.

Curadora da mostra, Bruna Azevêdo destaca que nas entrevistas com moradores de Canudos, fica evidente como “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Eles passaram de geração em geração a história do beato Antônio Conselheiro. Para ela, a mesma resistência está na favela: “A história da favela é de resistência e de permanência. Queremos que as pessoas vejam as expressões e a beleza que tem ali dentro".

?Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat, sob supervisão de Joana Costa

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