Rio - A acomodação de rochas no Morro São João, um maciço que divide os bairros de Copacabana e Botafogo, está deixando moradores da Zona Sul atônitos. É que boa parte deles jura enxergar no fenômeno, que é natural e vem ocorrendo ao longo dos anos, segundo geólogos, a formação de uma cruz gigante na encosta.
Quem reside em prédios ao redor da Praça do Lido ou nas proximidades da Praça Cardeal Arcoverde garante que a suposta cruz é um sinal para que a cidade, que atravessa uma fase de violência, tenha mais paz. Só no ano passado 5 mil pessoas foram assassinadas no Rio, segundo estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP).
“Com certeza é um sinal divino para os cariocas. Fico até emocionada. Precisamos de tempos mais calmos, de mais compreensão, caridade e amor entre as pessoas”, justifica uma moradora, que se identificou apenas como Maria Lúcia, de 50 anos, e que diz ter sido a primeira a perceber “o milagre” no morro, que já tinha na paisagem o Corcovado e o Cristo Redentor. O detalhe também intriga o aposentado Juvêncio da Conceição, 64.
“Dependendo da hora e da posição que se olha, a gente vê perfeitamente uma cruz. Parece coisa feita delicadamente com as mãos. É de arrepiar”, confessa.
Ao analisar a imagem, a pedido do DIA, a diretora de Geologia do Departamento de Recursos Minerais (DRM-RJ), Aline Freitas, informou que o desenho da suposta cruz é resultado de “um processo natural de evolução de paisagens em encostas do tipo gnaisse facoidal, a mais carioca das rochas”.
“Essa acomodação de rochas é conhecida como fraturas de alívio de pressão (horizontal) e de preenchimento (vertical), provocadas por descontinuidades do maciço. É um fenômeno conhecido como casca de cebola, muito comum. As encostas vão se descascando com o passar do tempo. Olhando de longe, as pessoas podem interpretar as novas formações como diversos tipos de imagens ”, comentou.
População em busca de amparo e fé
Para a psicóloga, psicanalista e terapeuta de famílias Márcia Modesto, é natural do ser humano buscar uma referência como proteção, principalmente no momento atual, onde, segundo ela, as pessoas estão diante de total descontrole social, político e econônmico, e sofrendo diariamente com a violência urbana.
“A ideia da concepção de Deus foi criada pelo próprio homem, para se sentir protegido. Então, em momentos de tantos contratempos, decepções e insegurança geral, é comum que as pessoas recorram à religião e seus fenômenos, para se sentirem amparadas de alguma forma”, ressalta Márcia.
A psicóloga diz que “enxergar sinais de fé”, como a suposta cruz no Morro de São João, é um alerta de que as pessoas precisam de ajuda. “Precisamos mesmo, especialmente de mais diálogo e serenidade”, completou.
Contatado no início da noite, o arcebispo do Rio, dom Orani João Tempesta, que estava viajando, não teve tempo de comentar o assunto, segundo sua assessoria.
Na orla, o melhor ponto de observação da ‘cruz da encosta’, é ao lado do Posto 2, em frente a Praça do Lido.