Por thiago.antunes

Rio - Um lugar que já formou atletas olímpicos, tirou pessoas das ruas e ensinou os valores do esporte, anuncia o fim de suas atividades. O Sesi/Senai de Honório Gurgel, equipado com piscina, quadras e pistas de atletismo em dimensões olímpicas vai fechar as portas no dia 10 de julho.

De acordo com o sistema Firjan, que administra o espaço, o encerramento é motivado pela falta de verba, mas ao visitar o local e conversar com moradores e associados do clube fica evidente que a violência é um fator que dificulta as atividades esportivas na região. Cercado por terrenos baldios o Sesi/Senai fica nos fundos da Favela da Palmeirinha, em Guadalupe, dominada pela facção criminosa Comando Vermelho.

No Sesi%2C atualmente%2C só a piscina é utilizada para aulas de hidroginástica e natação. Sempre com os portões fechados%2C moradores dizem que local fica deserto e é perigosoCléber Mendes / Agência O DIa

Aluna da hidroginástica, Lucimar da Silva, de 61 anos, junto com o marido estão sem saber o que fazer. “Já estamos velhos, não tem como ir para a unidade Vicente de Carvalho, como eles (administração) indicam para a gente. Meu marido é deficiente. Já tem 27 anos que frequento isso aqui. Desde 2015 vem piorando. Os cursos acabaram e não há mais atendimentos médico e odontológico. A gente vai fazer o que agora?”, lamenta a aposentada.

Professor de atletismo do Sesi desde a década de 1990, Nelson Rocha se entristece ao saber do fechamento da unidade e lembra que o local já resgatou pessoas da rua e em situação de vulnerabilidade social para o esporte.

Cercado por terrenos baldios o Sesi/Senai fica nos fundos da Favela da Palmeirinha%2C em Guadalupe%2C dominada pela facção criminosa Comando VermelhoArte O Dia

“Tinha mais de 50 alunos. Fechar o Sesi vai deixar órfãos nossos jovens. Sou nascido nesse bairro, tenho um amor muito grandepor ele. E ver essa piscina e quadra olímpicas sendo descartadas é muito triste”, lamenta o professor, pai da atleta Evelin Santos, que iniciou seus treinos no Sesi e, de lá, chegou a duas Olimpíadas, de Pequim e Londres.

Associados ao Sesi contam que o local já vinha mostrando sinais de precariedade. Uma pessoa que preferiu não se identificar conta que foi assaltada na fila da secretaria. “Aguardava para pagar as mensalidades e fomos todos assaltados. Nunca mais consegui voltar lá, mas morria de saudades, fui muito feliz naquele ambiente. É lamentável”, desabafa.

Em 2015 um menino de 9 anos foi vítima de uma bala perdida enquanto estava na piscina do clube. O Sesi fica entre os complexos do Chapadão e da Pedreira, dois dos principais redutos de criminalidade no Rio.

Em nota, a Firjan explica que a decisão foi tomada levando-se em conta os custos de manutenção da unidade. Os associados serão remanejados para a unidade de Vicente de Carvalho, que fica a aproximadamente 10 km do Sesi de Honório Gurgel, cerca de 30 minutos de ônibus.

Moradores temem abandono na após fechamento das instalações

Além de perderem a maior referência de prática esportiva do bairro, moradores e comerciantes de Honório Gurgel e Guadalupe temem que o fechamento do Sesi deixe o lugar menos movimentado e, com isso, contribua para o aumento da violência já tão alta na região. Com o fim de cursos que eram realizados no Centro até o ano passado, a área já ficou mais deserta e moradores têm reclamado de mais assaltos na região.

A região é uma das que têm maior incidência de roubo de cargas da Região Metropolitana do Rio. Comerciantes chegam a transportar as mercadorias em carros de passeio para evitar chamar a atenção dos bandidos com os caminhões.

Quadrilhas da Palmeirinha, que fica em frente ao Sesi, roubam os veículos e fazem feirões na comunidade com as mercadorias roubadas. Dono de um estabelecimento comercial na região diz que já foi assaltado oito vezes nos últimos meses. 

Na Rua Menezes Brum, que dá acesso ao Sesi, no número 163 funciona a 2ª Cia do 41º BPM, no entanto o batalhão não atua na área da Palmeirinha. Os responsáveis pelas ações nessa comunidade são do 9º BPM (Rocha Miranda), que fica na Rua Tacarutu, em Guadalupe, conforme informou um agente da 2ª CIA.

O estado registrou 9.862 casos de roubo de cargas no ano passado, o terceiro recorde consecutivo, conforme mostrou o estudo ‘O impacto econômico do roubo de cargas no Estado do Rio de Janeiro’, divulgado pelo Sistema Firjan no dia 16 de fevereiro deste ano. O prejuízo com os ataques em 2016 chegou a R$ 619 milhões, segundo informou a federação no estudo.

Você pode gostar