Rio - ‘Violentos”. Assim o delegado Fábio Barucke descreveu o perfil dos PMs que integravam o esquema de propina no 7º BPM. Uma das principais atividades dos PMs era sequestrar traficantes “maus pagadores”.
De acordo com responsável pela Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, raptar os criminosos era uma forma de mostrar força e receber mais rápido a propina. As recompensas chegavam a custar mais de R$ 10 mil aos bandidos.
“Foi verificado que há pelo menos três registros de sequestros e quando faltava dinheiro do arrego era a forma de receber mais rápido e mostrar força, dando demonstração que eles não aceitavam inadimplência. Eles cobravam um valor acima do limite”, afirmou Barucke, acrescentando que as guarnições insatisfeitas com o baixo pagamento do tráfico, também vendiam armas frutos de espólio de guerra (apreendidas em confrontos que não eram apresentadas na delegacia). “Muitas vezes não havia o procedimento legal de registrar o apreendido. Eles vendiam armas e até compravam de criminosos”, ressaltou o delegado.
O delator do esquema, que começou a ser investigado em fevereiro de 2016, disse que vendeu mais de 20 armas para os PMs. Cada pistola custou R$ 5 mil. O delegado Barucke afirmou que há informações de venda de fuzis da Polícia Militar.
Além dos sequestros, PMs vendiam as drogas que apreendiam. Os policiais do Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) do Mutuá faziam em ‘feirão’ de entorpecentes. De acordo com as investigações, eles tomavam o local e vendiam as drogas mais barato.
Investigações revelam que os PMs mandavam criminosos assaltar para conseguir pagar o dinheiro da propina. Mesmo quando traficantes avisavam que o dinheiro da semana não dava para pagar o combinado, militares pressionavam cobrando ‘juros’. Policiais fingiam resultados, segundo as investigações, apreendendo drogas e armas.
“Percebemos que essa organização criminosa não deixou de arrecadar recursos do tráfico”, frisou o delegado Barucke, afirmando que as investigações prosseguem e oficiais são monitorados.
O delator afirmou que policiais eram punidos por um oficial porque entraram em comunidades parceiras, ou seja, que pagava propina. Ele contou que o oficial disse que isso estava atrapalhando a relação da PM com o tráfico e colocou os PMs para trabalharem mais dias.
Contratados para intermediar as relações entre tráfico e policiais
Além de Adrienison Barbosa Santos e o delator do esquema, outros dois homens também fariam o papel de elo do tráfico com os policiais. Daniel Soares e Renato Drumond Tardin, presos em abril, com quase R$ 11 mil, carregadores e munições, fariam o papel de pagar propina aos agentes.
Entre os traficantes denunciados está Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, que apesar de não ser liderança direta em São Gonçalo, constava como recebedor de recursos do tráfico local.
Também foram denunciados Shumaker Antonácio do Rosário, apontado como chefe do tráfico de drogas no Jardim Catarina, e Érico dos Santos Nascimento, o Farme, acusado de liderar a comunidade do Jóquei. Os dois constam como procurados pelo Disque-Denúncia e integrariam o Comando Vermelho (CV).
Bandidos usavam fardas
PMs colocavam até um articulador entre eles e bandidos para incursionar nas favelas usando farda e armas da corporação. Adrienison Barbosa Santos aparece em diversas fotos na investigação da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo como sendo um PM.
Nas imagens, posa com fuzil e colete à prova de balas, em frente a viatura com fardas. Em outra foto, o ‘elo’ está deitado com a farda em cama igual à de de alojamento. Ele foi capturado em abril de 2016 junto com o cabo Marcelo Bento Vidile e outros dois. Um dia antes de ser preso Daniel Soares e Renato Tardin, foram detidos com quase R$ 11 mil. O dinheiro seria de propina a PMs. Nenhum deles quis delatar.