Por thiago.antunes

Rio - A redução no roubo de cargas apontada pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), principalmente na área do 41º BPM (Irajá), deixou uma esperança: é possível obter bons resultados no combate ao crime no Rio. A principal estratégia foi o reforço nas estradas federais com blitzes constantes.

”Esta área foi alvo central da Operação Asfixia, de combate ao roubo de carga, integrando as forças estaduais e as forças nacionais de segurança”, apontou, em nota, o instituto. Índices de roubos a veículos, ônibus, pedestres e homicídios, no entanto, continuam crescendo, mesmo com a atuação das forças federais.

Ação conjunta com soldados das Forças Armadas%2C polícias Militar%2C Civil e Federal e Força Nacional sufocaram bandos que atacam caminhoneirosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Somente os roubos a veículos, por exemplo, tiveram aumento de 51,6% em comparação com o mesmo período de 2016. Se em agosto de 2016 foram registrados 3.041 roubos, em agosto de 2017 foram 1.572 motoristas a mais que tiveram seus carros roubados. Também foram registrados aumentos em roubos em coletivos (39,64%), de celulares (37%), e a transeuntes (9,9).

Aliado a esses problemas, as polícias sofrem com sucateamento, conforme noticiado na série publicada pelo DIA ‘Rio sem Polícia’. Mesmo com os R$ 44 bilhões investidos na Segurança Pública desde 2007, faltam viaturas, efetivo, arsenal e a PM depende de doações de itens como alimentos para manter os batalhões.

Com efetivo reduzido, a Polícia Civil tem dificuldade em prosseguir com investigações. Entre outros índices criminais, desde 2011, a série de mortes de policiais ganhou curva ascendente. O ano de 2017 já contabiliza mais de 100 assassinados.

Caminho da carga roubadaArte%3A O Dia

O DIA consultou seis especialistas em Segurança que foram indagados a respeito de estratégias que podem ser utilizadas para a redução dos crimes que afligem a população. Entre as soluções sugeridas estão desde operações psicológicas a mais blitzes nas ruas.

Operação Psicológica - Vinícius Cavalcante, especialista em Segurança

Cavalcante sugere investir no que chama de Operações Psicológicas."Devemos empregar nossos recursos a fim de aproximar as forças de segurança da população e 'queimar o filme' dos criminosos; comprometer sua imagem diante da população. Intranquilizar os criminosos e desestabilizá-los é uma ação de inteligência, das chamadas Operações Psicológicas.

1.Difundir a imagem e os melhores esforços que vêm sendo levados a cabo pelas forças de segurança;

2.Angariar o apoio à política de segurança pública, bem como para as forças de segurança do Estado;

3.Fortalecer a vontade popular no enfrentamento do crime e da violência, prestigiando os policiais e elevando o moral dos efetivos de forma permanente;

4.Influenciar a população contra os criminosos, comprometendo a sua perspectiva de contar com apoio local, intranquilizando os bandidos de forma permanente, mesmo naqueles locais que consideravam sob seu controle;

5.Enfraquecer a vontade dos grupos criminosos, abalando-lhes o moral e comprometendo seu recrutamento e adesões;

6.Influenciar a opinião pública sempre favoravelmente às forças de segurança".

Evitar compra de produtos roubados - José Ricardo Bandeira, especialista em Segurança

Bandeira diz que é preciso identificar os receptadores de mercadorias roubadas."Cada um desses crimes exige uma estratégia específica. Mas, com um objetivo global de reduzir os índices de criminalidade, podemos traçar como ação fundamental a repressão policial.

Cabe aos serviços de inteligência das polícias Civil e Militar fazerem um trabalho de coleta de informações, visando a desbaratar as quadrilhas especializadas em roubos e furtos que atuam nos grandes centros e a identificar os receptadores das mercadorias roubadas pois sem o comprador não existe demanda para o roubo.

Porém, nenhuma dessas estratégias ou investimento terá resultado se o Estado não assumir o seu papel, quebrando o domínio territorial imposto pelas facções criminosas que dominam o tráfico de drogas e financiam toda a cadeia de crimes contra a vida e contra o patrimônio.

Quebrar o domínio territorial armado pelos criminosos também implica no governo assumir o seu papel e "ocupar" as comunidades com todos os serviços aos quais o cidadão tem direito, como educação, saúde, saneamento básico e infraestrutura".

Guarda Municipal armada - Marcos Espíndola, especialista em Segurança

Armar a Guarda Municipal está entre as sugestões do advogado Espíndola. "A falta de oportunidade, emprego e a queda no poder de compra contribuem para que os traficantes atraiam mão de obra, recrutando jovens para o crime. Para reverter essa situação, a educação deve ser a palavra de ordem. Investimento em outras áreas sociais, como moradia, saúde e emprego, também serão determinantes para um futuro mais promissor. Integrar os municípios, estados e federação e investir nas polícias.

E a segurança pública é um problema nacional, começando pelas fronteiras, onde chegam as drogas e armas que abastecem o tráfico. O caminho é aumentar o efetivo da Polícia Militar, porém oferecendo treinamentos adequados, equipamentos e condições de trabalho. Há 4 mil concursados aguardando para ingressar na corporação, mas, por questões financeiras, não são chamados. Na Polícia Civil, responsável pelas investigações, o efetivo que deveria ter mais de 23 mil agentes, hoje conta com menos de 10 mil. Armar a Guarda Municipal, como já acontece em alguns municípios, pode ser um fator de apoio para a segurança".

Mais blitzes nas ruas - José Vicente Filho, especialista em Segurança

A falta de efetivo não é justificativa, para José Vicente, que sugere mais blitzes. "Há muita choradeira em relação ao efetivo, já que o Rio possui 30% a mais de policiais do que São Paulo, que tem uma população maior. A polícia precisa ter uma presença mais impactante. Algumas comunidades precisam de um cerco de três a seis meses, uma ocupação com revista a todos. Vai incomodar os moradores, mas também vai levar a paz.

É preciso identificar 30 a 40 áreas com maior criminalidade e abordar, em grande quantidade, a população com blitzes. Essas áreas devem ter companhias da polícia comandadas por majores da PM. Cada companhia terá capitães que, se revezando em turnos, devem ir para a rua supervisionar o trabalho dos policiais. Essas áreas devem ser integradas com os delegados e com um plano de trabalho revisto semanalmente.

Não adianta a polícia ficar só rodando em viaturas. É necessário uma resposta rápida a crimes violentos, como latrocínio, estupro. A rápida resposta, prendendo os criminosos que cometam esses crimes, irá inibir os criminosos. Se não é possível atuar em tudo, é necessário atuar nas áreas que têm maior incidência de crimes.

Solução é investir e desmilitarizar - Márcio Garcia, especialista em Segurança

Entre as soluções apontadas por Garcia está a desmilitarização da PM. "Resultados eficazes demandam investimentos em material, pessoal e treinamento, modernizando as polícias com adoção de carreira única policial, ciclo completo mitigado e desmilitarização das PMs. Valorizar o serviço de inteligência e a investigação da polícia judiciária.

As estratégias paliativas que podem ajudar:

1.Crimes a pedestres: Iluminação, policiamento ostensivo com maior mobilidade (bicicletas, motos), pagamento de RAS para aumentar o efetivo da PM e PC nas ruas, aumento da rede de monitoramento por câmeras, com convênios com a prefeitura e setor privado;

2.Roubo de carros: Fortalecer a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis, com maior efetivo oriundo de concursos e investimento em tecnologia para desmantelar as quadrilhas. Maior controle da PRF na saída de veículos do Estado, bem como nas fronteiras internacionais.

3.Roubo de celulares: rastreadores instalados de fábrica. Cadastro de todos os chips vendidos, relacionando um CPF por responsável, com habilitação presencial na operadora e apresentação de documentos.

4.Homicídios: Fortalecimento das DHs com maior efetivo".

Intensificar as rondas de policiais a pé - Paulo Lopes, especialista em Segurança

Para o coronel Lopes, são necessários mais PMs a pé nas ruas da cidade. "Com relação às estratégias para a redução de roubos/furtos de rua e celulares, devem ser alicerçadas na análise as incidências criminais e a consequente alocação de policiamento ostensivo, a pé, por ter maior capilaridade nesses pontos críticos. Esses crimes experimentaram crescimento exponencial porque nos últimos anos a PM, diferentemente do que preconiza a doutrina operacional, somente executa o patrulhamento motorizado.

No tocante aos roubos de autos e coletivos, devem ser prevenidos, mediante a intensificação de operações, a REP 3 (revista) e motivação da tropa para a realização de abordagens permanentes a suspeitos (protocolo em desuso, na atualidade). Além disso, há a necessidade de a Polícia Civil incrementar as investigações e prender os criminosos.

Homicídios e latrocínios, para sua redução, demandam uma persecução penal, que tenha maior efetividade na fase investigativa, no sentido de que se difunda uma sensação de que tais crimes não ficarão impunes, como vem sendo verificado, atualmente, com a eficiente atuação das Delegacias de homicídios".

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