Rio - Intensas rajadas de tiros de fuzis e rasantes de helicópteros da polícia têm interrompido com frequência as orações das 27 irmãs clarissas que vivem sob clausura (sem contato com o mundo externo) no Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos, na Gávea. A instituição, um oásis de paz prestes a completar 90 anos de fundação, a cerca de três quilômetros da Favela da Rocinha, onde os confrontos pela disputa do tráfico se acirraram, virou o maior símbolo de esperança para os sobressaltados vizinhos. Uma média de 100 pedidos de orações chegam ao mosteiro por dia.
"Nossa capela passou a receber mais fiéis e solicitações de preces para que a situação se acalme. Na maioria das vezes, os pedidos de socorro chegam por cartas e bilhetes", destacou a abadessa, madre Maria Pacífica de Jesus Crucificado, cujo nome de batismo é Gláucia Garcia de Almeida, de 83 anos, 63 deles enclausurados. Ao lado dela, um cesto repleto de súplicas em pequenos pedaços de papéis. "As orações ajudam muito, mas os governantes têm que fazer a parte deles também, com mais ações em segurança", alfinetou, em tom de puxão de orelhas nas autoridades.
Violência alterou rotina
Madre Pacífica conta que são constantes os 'sinais sonoros' que indicam o domínio da violência do outro lado dos muros do convento, de seis andares, fincados junto à mata fechada. A floresta corta os fundos da imponente construção. "Esses dias, suspeitos fugiram pela vegetação, passando por dentro do mosteiro, em direção ao Horto e Jardim Botânico", lamentou, preocupada, pois o local é usado pelas irmãs para retiros espirituais e meditações, nos chamados 'Dias de Deserto'.
O terror na Rocinha obriga as freiras algumas enclausuradas há quase seis décadas a encurtarem horários de preces e mudarem a ordem de tarefas. Os fiéis encontram horários de missas e visitas ao parlatório pelo site www.irmasclarissas.org.br.