Rio - Caso Lula seja impedido de se candidatar à Presidência, boa parte do eleitorado do petista migrará para... Jair Bolsonaro (PSC). Quem defende a tese, que a princípio pode parecer estranha, é Marcello Faulhaber, mestre em Economia Política pela London School of Economics e estrategista da vitoriosa campanha de Marcelo Crivella (PRB) à prefeitura.
O DIA: Em que você se baseia para sustentar essa tese?
FAULHABER: Observamos na eleição passada que o eleitor do Freixo (Psol), muitas vezes, tinha como segunda opção o Flávio Bolsonaro (PSC) e vice-versa. Esse eleitor não tem um viés ideológico claro. Ele é simplesmente "contra tudo isso que está aí". Apesar de o Lula estar à esquerda no espectro político e o Jair Bolsonaro estar do outro lado, isso não significa que não haja migração de eleitores. Em vez de imaginar uma régua onde cada um esteja numa extremidade, pense numa fita métrica em que as pontas se unem, o zero e o cem. A distância do eleitorado não é tão grande.
Mas uma coisa é a migração Freixo-Bolsonaro. Funcionaria com Lula?
É que esse eleitor não ideológico também tem uma questão de comunicação muito forte. Hoje, se você analisar os candidatos que já estão em pré-campanha, os únicos que têm linguagem simples e direta que o público consegue absorver são Lula e Bolsonaro. Marina Silva (Rede) se perde no discurso progressista dela, Ciro Gomes (PDT) tem talento para usar a linguagem das massas, mas usa retórica tecnocrata.
O discurso de Bolsonaro é muito voltado para o enfrentamento com Lula. Se Lula não for candidato, isso não esvaziaria Bolsonaro?
A não candidatura do Lula beneficia o Bolsonaro no primeiro turno, só que mata a candidatura dele no segundo turno. É muito pouco provável que qualquer outro candidato perca a eleição para o Bolsonaro no segundo turno. A única chance do Bolsonaro seria enfrentando o Lula.
Uma candidatura de Luciano Huck teria força?
Teria um potencial gigantesco. O Luciano Huck tem um posicionamento camaleônico. Pai de três filhos, casado há muitos anos, ajuda os pobres no programa de TV. Ele é facilmente entendido pelo eleitor conservador. E também consegue se comunicar muito bem entre os eleitores de comportamento mais liberal.
Você foi estrategista de Crivella. Como avalia o governo hoje?
Ele pegou a prefeitura numa situação bem delicada financeiramente. Acho que deveria ser um ano para o Crivella montar uma equipe redonda e planejar as entregas que deveriam ser feitas em 2019 e 2020. Acho que ele não tem feito isso da melhor forma. Teve que fazer concessões demais à Câmara dos Vereadores. Então não é uma equipe do ponto de vista técnico muito qualificada.
O reajuste do IPTU terá impacto eleitoral?
Mais de 80% do ganho com o reajuste vem da Zona Sul. Ele poderia ter aumentado só nessa região. Teria sido aprovado facilmente na Câmara e não traria desgaste, já que o eleitor da Zona Sul já não vota nele.