Por thiago.antunes

Rio - Indignados com o preço da gasolina, que chegou a R$ 4,84 nas bombas — preço considerado por eles como exorbitante e um dos mais caros do país —, moradores de Volta Redonda, no Sul do estado, iniciaram um boicote inédito aos postos de combustíveis. Pelas redes sociais, instituíram o chamado “Calendário Selvagem” (em alusão ao filme `Relatos Selvagens´, que aborda atos de vingança contra abusos), no qual listaram os 23 maiores estabelecimentos do ramo na cidade. Identificado por cores, diariamente, de segunda a sexta, quatro postos são boicotados pelos manifestantes.

“Você também está indignado pelo aumento abusivo no preço do combustível? Mais ainda por morar em Volta Redonda, onde se tem praticado um dos maiores, senão o maior valor do combustível do Brasil? Bem, para que haja mudança, é preciso fazer algo diferente e inteligente. Se for para incomodar que seja para incomodar o cartel e não os usuários”, diz um trecho do texto que circula pelo WhatsApp e redes sociais, com imagens do calendário e a lista dos postos, com os respectivos dias da semana a serem boicotados. “O calendário não tem prazo de validade. Não se omita. Faça sua parte. Este movimento é  coletivo e de combate à injustiça praticada em Volta Redonda”, ressalta outro trecho.

Nos postos%2C painéis apontam o preço da gasolina%2C a R%24 4%2C84 o litro%2C considerado exorbitante pelos consumidoresFrancisco Edson Alves / Agência O Dia

Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência no Estado do Rio de Janeiro (SINDESTADO-RJ) alegou que “os postos compram combustíveis das companhias distribuidoras, e não das refinarias, e que por isso os custos nos postos dependem dos preços cobrados pelas distribuidoras, que muitas vezes variam conforme o local”. “Os próprios donos de postos estão sofrendo duramente com a atual situação”, argumentou o texto (veja a íntegra da nota abaixo).

Volta Redonda está entre as dez cidades como maior frota de veículos do Brasil. Segundo último levantamento da Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana, entre 2001 e 2015, a frota cresceu 136%, contra 7,17% da população. No total são mais de 91 mil automóveis e 14 mil motos emplacadas no município, que tem quase 400 mil moradores. Ou seja, cerca de quatro habitantes por veículo, em média.

Imagem de parte dos postos que integra o boicote pregado pelos moradores nas redes sociaisReprodução

“Não aguentamos mais. Estamos sendo extorquidos pelos postos de combustíveis e nenhuma autoridade toma providências”, desabafou o pintor José Roberto da Silva, 45 anos. “O único Jeito é boicotar mesmo os estabelecimentos”, completou o funcionário público Mirantão Duarte Felipe, 40.

Íntegra da nota do Sindestado

SINDICATO DE DONOS DE POSTOS NO ESTADO DO RIO PROTESTA CONTRA SISTEMA DE PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS

A atual política da Petrobras de efetuar flutuações quase que diárias nos valores dos combustíveis tornou extremamente confuso o cenário da comercialização dos produtos e, a um só tempo, está sacrificando os consumidores e caminha para tornar inviável a sobrevivência da maioria dos postos. A opinião é do presidente do Sindicato estadual dos Revendedores (Sindestado-RJ), Ricardo Lisbôa Vianna, preocupado com o agravamento do cenário de crise:

"Os governos estão resolvendo seus problemas de caixa com uma solução grotesca: simplesmente jogando às alturas os impostos sobre os combustíveis. E a isto se soma a ganância desenfreada das distribuidoras, que estão aproveitando a dança contínua de percentuais para reajustar, sempre para cima, os preços cobrados ao revendedor. Lá na ponta da cadeia de comercialização, o dono do posto está tendo que encomendar novas remessas de produtos sem saber quanto pagará por elas de um dia para o outro, e ainda por cima tende a ficar mal visto por parte da população, que tende a enxergá-lo como o grande causador do problema", comenta Ricardo Vianna.

O presidente do sindicato destaca que muitos donos de postos estão caminhando para a falência, caso a situação não seja normalizada. "O dono de posto não é o responsável pelos combustíveis custarem tão caro, mas esta é uma realidade que não interessa aos governantes nem às poderosas companhias distribuidoras. Nesse cenário, quem sai perdendo é o consumidor final, que tem que pagar caro; e também o dono do posto, que além de ser mal-visto acaba vendo despencar os lucros e o movimento de vendas do seu estabelecimento. Não é à-toa que problemas estão surgindo ao mesmo tempo em todo o país", arremata Ricardo.

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