Por gabriela.mattos
Rio - Duas décadas após a criação do programa de despoluição da Baía de Guanabara, as principais ações estão longe de serem executadas. Nem mesmo o empréstimo de R$ 1,2 bilhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), contraído antes dos Jogos Olímpicos 2016 para agilizar o projeto, foi suficiente para colocar fim à sujeira nas águas.
O governo do estado, agora, tenta prorrogar com a União o uso do dinheiro. Para, de fato, conquistar uma Baía limpa, pelo menos três metas precisam ser alcançadas: a conclusão dos troncos coletores — que recebem as ligações domiciliares — da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Alegria, a ampliação no sistema de abastecimento d’água e a execução do plano de saneamento básico dos municípios.
Publicidade
Quem afirma a necessidade do cumprimento dessas metas são as instituições que analisam a Baía há anos, como o Instituto Baía de Guanabara, que além de cobrar políticas públicas para a região, realiza ações de mobilização com a sociedade para disseminar, principalmente, o conceito de descarte correto do lixo. “Focamos muito nas crianças, em escolas, para inserir isso no processo de educação. As pessoas acham que a Baía não tem solução e, por isso, não vale a pena lutar por ela. Mostramos ao contrário, pois cada um precisa fazer sua parte e, quando se aprende isso ainda criança, é muito mais fácil”, explicou o superintendente do Instituto, Adauri Souza.
Os passos para uma Baía limpa vão desde programas de saneamento até ampliação no sistema de abastecimentoArte O Dia

Inaugurada em 2009, a ETE Alegria, no Caju, ainda não consegue atender seu objetivo de tratar 5 mil litros de esgoto por segundo, pois os troncos coletores que recebem as ligações domiciliares não tiveram as obras concluídas. Atualmente, a ETE trata 2,5 mil litros. Em funcionamento pleno da estação, a Baía deixará de receber 216 milhões de litros de esgoto in natura por dia, o equivalente a 90 piscinas olímpicas.

Em nota, a Cedae informou que aguarda recursos do Ministério das Cidades para concluir o tronco coletor Manguinhos. Já o Faria Timbó, aguarda decisão judicial para homologação da licitação pelo estado.
Publicidade
A vulnerabilidade do abastecimento d’água no Rio é uma das tristes consequências
da poluição da Baía. Com rios assoreados e secos, o temido colapso hídrico fica cada vez mais perto da realidade dos moradores. “É um grave problema que pode chegar já na próxima década”, alertou o ecologista Sérgio Ricardo, do Baía Viva. Para driblar esse transtorno, seria necessária a ampliação do sistema de abastecimento. Atualmente, 10 milhões de pessoas dependem de apenas dois: o Imunana Laranjal, que atende a região leste do estado, e o Guandu, abrangendo o oeste, inclusive a cidade do Rio. 
Novos projetos
Publicidade
Para reforçar o abastecimento no lado oeste, o plano do Novo Guandu, ainda em fase de licitação, prevê mais uma Estação de Tratamento de Água (ETA), em Nova Iguaçu, com capacidade de produção de mais 12 mil litros de água por segundo. A nova unidade atenderá, preferencialmente, a Baixada Fluminense. O Programa de Abastecimento de Água para essa região também conta com investimento na ordem de R$ 3,4 bilhões, oriundos de empréstimo da Cedae junto à Caixa Econômica Federal, e a previsão é de que 2,2 milhões de pessoas sejam beneficiadas.
A Baía precisa ainda, como um importante passo para despoluição, da dedicação de cada município que depende dela. Para tal, na Lei do Saneamento, criada em 2007, ficou decidido que cada prefeitura deveria apresentar o seu plano com metas a serem executadas. O prazo para entrega do documento era até 2013, foi prorrogado para 2015 e, hoje, está estabelecido até 31 de dezembro de 2017. “Se os prefeitos não apresentarem um plano de metas de saneamento até o fim do ano, a partir de janeiro de 2018, eles podem responder por improbidade administrativa”, ressaltou Sérgio Ricardo, que defende a criação de consórcios públicos entre as prefeituras para avançar no plano de saneamento.
Publicidade
Enquanto o avanço da despoluição pelo poder público não engrena, instituições de defesa da Baía tentam fazer a parte delas. O Baía Viva, criado nos anos 90, prepara uma agenda para saúde ambiental da Guanabara, com ações previstas ao longo de 2018. O documento será lançado no mês que vem. A instituição também faz fóruns itinerantes para conscientização de moradores do entorno da Guanabara. Nesse ano, foram 14 edições, em Paquetá, Ilha do Governador, Belford Roxo e bairros da Zona Oeste. Já o Instituto Baía de Guanabara, com 24 anos de atuação, oferece cursos e oficinas, além de promover seminários em escolas públicas. A entidade também atua em parceria com ONGs e fundações em defesa do meio ambiente.