Ação prendeu 26 suspeitos e apreendeu um menor, além duas pistolas, um simulacro de fuzil, carregadores de armas, munição, 12 carros, 13 motos, oito radiotransmissores e drogas - AFP
Ação prendeu 26 suspeitos e apreendeu um menor, além duas pistolas, um simulacro de fuzil, carregadores de armas, munição, 12 carros, 13 motos, oito radiotransmissores e drogasAFP
Por Bruna Fantti e Gustavo Ribeiro

Rio - Mais de 3.200 militares das Forças Armadas foram deslocados ontem para operações conjuntas com as polícias civil e militar nas comunidades da Vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia, na Zona Oeste. Soldados do Exército fotografaram pessoas que entravam e saíam e seus documentos. A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) e a Defensoria Pública criticaram o que chamaram de 'fichamento' de moradores.

As imagens eram enviadas para setor de Inteligência, para verificar antecedentes criminais. Carros também foram revistados e a imprensa teve que se afastar do local.

A OAB-RJ considerou que a prática "afrontou os direitos constitucionais de ir e vir da liberdade de expressão, ao cercear moradores e equipes de imprensa". A instituição acionou juristas para analisarem o caso e tomarem as medidas judiciais cabíveis em uma reunião na segunda-feira, às 10h.

A Defensoria Pública reforçou que a abordagem generalizada de cidadãos é "grave violação do direito à intimidade e à liberdade de locomoção". "De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, a abordagem pessoal por qualquer agente de segurança só é permitida quando há razões concretas e objetivas para a suspeita de que o indivíduo esteja portando bem ilícito ou praticando algum delito. O fato de se morar em uma comunidade pobre não é razão suficiente para este tipo de suspeita", declarou. E acrescentou que nenhum cidadão deve ser submetido à identificação criminal se estiver com devida documentação civil.

Já o Ministério Público afirmou que a conduta de fotografar as pessoas ao lado dos seus documentos pode ser justificada porque a fisionomia apresenta mudanças com o tempo e para afastar suspeita de falsidade da identificação civil.

O Comando Militar do Leste negou que haja ilegalidade e informou que as fotos eram deletadas após serem enviadas para a Polícia Civil. "O processo 'sarqueamento' (consulta ao Sistema de Arquivo da Polinter) é um procedimento policial para averiguação da existência de mandado judicial contra pessoas sob suspeição. O uso da plataforma digital móvel dá celeridade e abrevia incômodo aos cidadãos".

A ação prendeu 26 pessoas e apreendeu um menor. Foram apreendidas duas pistolas, um simulacro de fuzil, carregadores de armas, munição, 12 carros, 13 motos, oito radiotransmissores e drogas.

 

Gabinete do comando da intervenção será no CICC
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O general Braga Netto, interventor na Segurança do Rio, instalou um gabinete de intervenção federal dentro do Centro do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), na Cidade Nova. Será chefiado pelo general de Divisão Mauro Sinott Lopes, que é um dos seus principais colaboradores. Ele se reportará diretamente a Braga Netto, sem se subordinar ao próximo secretário de Estado de Segurança, o general de Divisão Richard Fernandez Nunes.
O Comando Militar do Leste e a Secretaria de Estado de Segurança preparam a instalação do Gabinete de Intervenção Federal, que deverá funcionar a partir da próxima semana. Na terça-feira, será apresentada a equipe escolhida por Braga Netto. A programação prevê uma coletiva de imprensa no auditório do CICC, que abrigará o gabinete de Sinott Lopes.
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Durante a Olimpíada de 2016, Sinott Lopes ficou a frente do Comando Conjunto de Prevenção e Combate ao Terrorismo. Atualmente, comandava a 1ª Divisão de Exército (1ª DE). Ele é gaúcho de Pelotas e tem passagens pelas áreas de Cavalaria, Blindados e Inteligência do Exército. Também trabalhou nas Embaixadas Brasileiras em Portugal e na Colômbia. Já que continuará como comandante militar do Leste, o general Braga Netto permanecerá despachando do Palácio Duque de Caxias.
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Medida divide opiniões entre os moradores
Moradores divergiram sobre as medidas adotadas. "Qualquer operação será bem-vinda, desde que seja para o melhor do bairro. Estamos cansados de viver com medo, rodeados por bandidos armados", opinou uma moradora da Vila Kennedy. "Fui parada, pediram para eu abrir a mala e eu ainda parabenizei os mesmos, porque não devo", disse outra.
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Muitos ficaram revoltadas com o 'cadastro' ou deixaram de ir trabalhar, pois estavam acuados. "É muita humilhação. Mas aqui é favela. Quero ver fazer isso na Zona Sul", criticou um rapaz. "Ninguém quer ser confundido com um traficante", lamentou outro. Cidadãos constrangidos podem procurar o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública, de segunda a sexta, das 10h às 17h, na Rua México 11, Centro.
A ONG Justiça Global denunciou a intervenção à ONU e à Organização dos Estados Americanos.
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