Parte da frente do altar, em mármore, já foi destruída, antes da paralisação das obras, mas painel ao fundo ainda está preservado - Francisco Edson Alves / Arquivo / Agência O DIA
Parte da frente do altar, em mármore, já foi destruída, antes da paralisação das obras, mas painel ao fundo ainda está preservadoFrancisco Edson Alves / Arquivo / Agência O DIA
Por O Dia

Rio - A "guerra santa" por causa da polêmica que envolve a conturbada reforma do altar da Paróquia de São Sebastião (de 1859), a principal de Barra Mansa, no Sul do estado, parece cada vez mais longe do espírito natalino de paz. Fiéis contrários às obras já iniciadas – e aparentemente suspensas - prometem comparecer em massa, ostentando faixas e cartazes à uma audiência pública do Conselho Municipal de Cultura, prevista para às 19h desta quarta-feir, no Palácio Barão de Guapi, próximo ao Jardim das Preguiças, com entrada de frente para a Câmara de Vereadores.

Fechado desde o final de novembro, o templo só tem sido aberto para missas aos domingos, com tapetes sobre os escombros da frente do altar semidestruído.

Esta semana, católicos indignados vão enviar aproximadamente mil assinaturas coletadas nas rus e pela internet ao Papa Francisco, pedindo intervenção imediata do Vaticano ao que chamam de "aberração e teimosia".

Integrantes do órgão da prefeitura, que não embargaram as obras, pretendem ouvir a população sobre a reforma, embora a audiência só estar sendo divulgada em grupos de WhatsApp ligados a grupos de orações conservadores e à cúpula da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda.

Entenda

Conforme o DIA vem divulgando, as obras serão questionadas pelo Ministério Público estadual (MPRJ), através dos Direitos Difusos e Coletivos à Proteção de Patrimônios. O MPRJ já abriu várias ações impetradas por fiéis nesse sentido.

O principal motivo da discórdia é a intenção do pároco, o croata Milan Knezovic, com as bênçãos do bispo da diocese local, o italiano Dom Francisco Biasin, de erguer um outro painel do altar à frente do atual, com distância de um metro e meio entre um e outro, que poderia ser visitado por um corredor.

Ainda intacto, o antigo, de milenar arte árabe-portuguesa, em azulejos vitrificados, datado de meados do século passado, deverá ficar escondido por outro painel, com outro desenho, cujos custos ultrapassariam a casa dos R$ 70 mil.

Desde o mês passado o DIA vem solicitando a Milan e a Biasin, através da assessoria de imprensa da Cúria, detalhes sobre o projeto e custos, sem sucesso. Em reunião no Conselho Cultura, Biasin alegou que as obras, amplamente criticadas nas redes sociais, seriam para "readequar o altar à lei de acessibilidade".

Croqui do novo painel, que deve encobrir o atual - Divulgação / Cúria de Barra do Piraí-Volta Redona

Manifestações públicas

Pelo Facebook, Instagram e outros canais digitais, os inconformados com a ideia, que ganharam até manifestações públicas de apoio de três padres da Congregação Verbo Divino que passaram pela paróquia, convocam outros descontentes. Com base em opiniões de advogados e juristas especializados, garantem que a paróquia cometeu infração grave, sob "vista grossa" do governo municipal, ao ignorar a lei de tombamento da Igreja Matriz de São Sebastião (4.492/2015)".

O bispo e o pároco são acusados por fiéis e por alguns padres verbitas de "implicar com o desenho do antigo painel", supostamente por atribuírem a ele "inspiração maçônica"

"Não se trata de uma reforma, mas de uma alteração de todo o contexto artístico que a Matriz de São Sebastião tem desde meados do século passado. Se o projeto for aprovado, quando a igreja for reaberta, os fiéis entrarão em uma outra igreja. Por isso, convocamos a todos que compareçam à essa audiência para defender a memória da cidade e da igreja", Bruna Chaves postou em uma rede social. "Meia dúzia de puxas-sacos de WhatsApp não pode decidir pela maioria dos católicos. Vamos comparecer na audiência e demonstrar nossa indignação", apelou José Roberto Tavares, também pela Internet.

Mariangêla Augusta Bernardo, 69 anos, por sua vez, saiu em defesa da reforma. "A igreja não tem mais nada de original. Se for para deixá-la mais bonita, tudo bem"”.

Liberado de seus votos de celibato para se casar, Alcino Camatta, de 90 anos, lamentou, em artigo no jornal A Voz da Cidade, as intervenções, que podem mudar totalmente o que ele ajudou a construir. "Este é o grande painel que está lá na igreja com o crucifixo e os quatro evangelistas. Será este o erro? Por isso, estranhamos. Estragar um painel de arte sobrepondo outro?! Pra quê?! A trindade e o Espírito Santo são as principais devoções da congregação do Verbo Divino", escreveu.

Outros dois padres - Renê de Oliveira e Nilton Gonçalves, que passaram pela paróquia e ajudaram na reforma do painel – também já se manifestaram publicamente contra a reforma.

Abraço à Matriz e vigília

No dia 1º de dezembro, paroquianos contra o novo painel sacro deram um abraço simbólico à Matriz, mesmo sob chuva. Independente da audiência, eles também vêm prometendo acampar dentro e fora da igreja. "Se precisar, vamos fazer uma vigília constante na igreja para impedir a continuidade da derrubada desnecessária e cara do altar", adiantou Teuto Benevides, de 43 anos.

Sem dar explicações através dos meios de comunicação, Milan e Biasin vêm usando o jornal da diocese e falas em missas para tentar expor o projeto. Na única nota emitida, no mês passado, sem assinatura, a diocese argumenta que as mudanças teriam sido aprovadas "em reuniões do Conselho Pastoral da paróquia, nos meses de setembro e outubro".

"Mentira! Vão querer usar assinaturas de presenças nas reuniões para alegar apoio, o que não é verdade. Nunca houve debate, apenas comunicado sobre a execução das obras", rebateu Mariléia Braz, de 48 anos.

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