Objetivo é mapear a deficiência ou normalidade de 14 micronutrientes, além de aferir peso e altura - Divulgação
Objetivo é mapear a deficiência ou normalidade de 14 micronutrientes, além de aferir peso e alturaDivulgação
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Pesquisadores estão espalhados no Rio e em outros quatro municípios da Região Metropolitana, até o fim de maio, com uma missão inédita no Brasil. Coordenados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os profissionais buscam famílias com crianças de até 5 anos para mapear a composição de nutrientes no sangue, hábitos alimentares e o estado nutricional dos pequenos, como a situação da obesidade e da desnutrição. O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), encomendado pelo Ministério da Saúde, vai visitar 670 domicílios no estado e 15 mil no país todo. O levantamento pretende auxiliar a criação de políticas públicas na área de saúde e nutrição.

Números do primeiro trimestre deste ano do Sistema de Informação da Pastoral da Criança mostram que 5,9% das crianças que vivem no Estado do Rio e 7,3% da população infantil do Brasil sofrem de sobrepeso. Já a desnutrição acomete 2,9% das crianças do território fluminense, percentual maior que o índice nacional, de 2,6%.

Além da cidade do Rio, fazem parte do roteiro da pesquisa, no estado, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Niterói e São Gonçalo, totalizando 52 bairros. Segundo o coordenador nacional do Enani, Gilberto Kac, o estudo tem três objetivos centrais. O primeiro é mapear a deficiência ou normalidade de 14 micronutrientes, como os minerais zinco e selênio e vitaminas A, D e do complexo B. Informações sobre esses marcadores serão obtidas com coletas de sangue nas residências. Outra meta é avaliar a alimentação infantil através de entrevistas pessoais, para identificar hábitos alimentares e estudar a prática do aleitamento materno. Os pesquisadores também medem o peso e a altura das crianças.

"Temos alguns estudos brasileiros sobre deficiência de vitamina A e anemia, mas, com uma magnitude de 15 mil crianças e esse conjunto ampliado de marcadores, vai ser o primeiro. Para avaliar a alimentação, vamos estudar a prática do aleitamento e o consumo infantil usando um procedimento chamado ‘recordatário de 24 horas’, que estuda o que a criança consumiu nas últimas 24 horas. Isso permite avaliar a qualidade e a quantidade do consumo”, ressalta Gilberto Kac.

De acordo com o coordenador, a pesquisa norteará o Ministério da Saúde a definir sua agenda de prioridades. Segundo ele, estudos já disponíveis no país sobre nutrição infantil apontam que a desnutrição vem diminuindo, ao contrário da obesidade, que permanece estável. “Os dados sobre estado nutricional poderão ajudar a responder, por exemplo, se a desnutrição está realmente diminuindo como um problema epidemiológico. Por outro lado, o estudo deverá corroborar a acertada definição do Ministério da Saúde em indicar a prevenção da obesidade com prioridade em sua agenda”, esclarece.

Morador do Centro de Nova Iguaçu e pai de três crianças de 9 meses, 1 e 4 anos, o segurança Thiago Bento Barbosa, 32, apoiou a iniciativa, inclusive porque o diagnóstico colhido nos domicílios serão entregues gratuitamente às famílias depois. Uma entrevistadora passou cerca de uma hora na casa deles na semana passada e a coleta de sangue foi agendada para data futura. “Um ponto positivo de terem vindo aqui é porque, se tivermos que levá-los a consultas ou exames, não conseguimos agendar tudo no mesmo dia na rede pública por causa das idades diferentes”, ressaltou Thiago.

Para garantir a segurança da população visitada, todos os entrevistadores estão identificados com camisa e crachá do Enani, que exibem a logo do Ministério da Saúde. Os nomes e as fotos dos pesquisadores estão disponíveis no site https://enani.nutricao.ufrj.br. Em caso de dúvidas, a população pode se informar pelo telefone 0800 808 0990.

País deve combater sobrepeso

Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), de 2006, apontam que a prevalência de baixo peso para estatura em crianças menores de 5 anos observada no Brasil foi de 1,8%, enquanto o excesso de peso foi de 7,3%. Houve queda cumulativa de 72% no déficit estatural entre os anos de 1974 e 2003. Já a obesidade infantil ficou estável entre o período de 1974-1975 e 2006-2007, com percentuais em torno de 6 a 7%.

O coordenador do Enani, Gilberto Kac, explica razões para o aumento da obesidade e redução dos problemas acarretados pela desnutrição. “A transição das sociedades tem encaminhado nesse sentido. A desnutrição vem diminuindo porque hoje temos maior cobertura de serviços de saúde, aumento da amamentação, mais vacinação e mais saneamento, que embora ainda esteja ruim, já foi pior. A criança se desnutre mais quando tem mais infecções e diarreia”, aponta.

Os desafios do combate ao sobrepeso e à obesidade, segundo Kac, passam pelos hábitos de alimentação e pelo sedentarismo da modernidade. “Hoje tem todo um cenário que favorece a redução do gasto energético, como aumento do tempo de televisão e do videogame. Houve mudanças também nos hábitos alimentares, que enfatizam os alimentos ultraprocessados”, conclui.

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