Operação da PM no Borel, ontem, resultou em quatro mortes  - Reprodução / Internet
Operação da PM no Borel, ontem, resultou em quatro mortes Reprodução / Internet
Por O Dia
Rio - O Estado do Rio registrou o recorde histórico de morte por intervenção policial no primeiro trimestre de 2019. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), houve 434 vítimas entre 1º de janeiro e 31 de março. Essa quantidade é a maior registrada nos 22 anos de medição. Especialistas responsabilizam o governador Wilson Witzel e o presidente Jair Bolsonaro pelo aumento de casos.
"É uma política aberta de extermínio, de 'bandido bom é bandido morto', de sniper, o esperado era que aumentasse a letalidade policial. Como já estamos em um nível muito elevado, isso significa que estamos batendo recordes e vamos continuar assim. Isso é a consequência direta dessas políticas que são estimuladas pelos governos federal e estadual", disse o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele ainda afirmou: "A polícia, em geral, é muito sensível ao comando político. Quando o comando político indica uma direção especial, com o uso da força, a polícia vai atrás. Se o governo é mais cauteloso, prudente, defende a legalidade, a polícia se contém. Se o governo abertamente instiga a morte de pessoas, o resultado é exatamente esse".
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Como solução para o problema, Ignacio Cano sugeriu o seguinte: "Em primeiro lugar, temos que mudar essa liderança da política que está cobrando dos policiais para fazerem exatamente isso. Sem mudar a orientação política não há medida técnica, nem treinamento, nem fiscalização que dê jeito. Em segundo lugar, o Ministério Público e o Poder Judiciário, sobretudo o MP, teriam de ter um papel muito mais ativo nas investigações das execuções sumárias, o que certamente ajudaria a reduzir o volume de casos. A questão central é ver se o Ministério Público estadual vai ter valor para processar o governador como autor intelectual das mortes em que a vítima não tenha reagido. Que tenha sido morta apenas por estar em posse de uma arma sem ameaçar ninguém. Isso é obviamente ilegal, não há pena de morte no Brasil, tanto que eles estão tentando defender a chamada Lei do Abate. Eles sabem que é ilegal".
Já Carolina Ricardo, diretora do Instituto Sou da Paz, sugere uma atenção maior do Governo do Estado para as condições de trabalho e para a saúde, principalmente mental, dos policiais. "O uso da força letal pela polícia deve ser central na discussão sobre segurança pública. Tem de ser uma preocupação do estado. O estado precisa investir em inteligencia, tecnologia, formação, recuperar efetivo, dar  estrutura, acompanhamento psicológico. Não é fácil ser policial no Rio, não podemos demonizá-lo. O aumento da morte de civis em confronto não pode ser um resultado aceitável da política de segurança. O estado precisa reestruturar a polícia, combater a corrupção, recompor o salário e ampliar o efetivo", disse a especialista, que também criticou discursos do governador Wilson Witzel sobre o assunto:
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"Quando temos governantes que legitimam a violência, que manda 'mirar na cabecinha', isso tem um poder simbólico. Precisa mudar o discurso dos governantes. Tem de haver investimento sério na recuperação das tropas e investimentos sociais nas comunidade. Houve esforços recentes, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas eles não deram certo. As comunidades precisam ser de paz".
A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado, mas ele sugeriu que as secretarias de Polícia Civil e Polícia Militar fosse procuradas. Delas, apenas a de Polícia Civil respondeu até a publicação da reportagem. Ela não se posicionou porque o estudo o ISP não especifica a quantidade de mortes causadas por policiais civis. O Ministério Público do Rio de Janeiro, citado por Ignacio Cano, também foi procurada, mas não respondeu. Três emails enviados para a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, em endereço divulgado no site do Palácio do Planalto, voltaram com mensagem de 'falha na entrega'.