Rio - ‘Quilombo São José tem o jongo e a feijoada dos deuses’, anuncia a placa que dá acesso à comunidade quilombola mais antiga do estado do Rio, numa área de 476 hectares na Serra da Beleza. Ao passar Conservatória, distrito de Valença, há uma estrada de terra cercada por vegetação fechada. Fim de tarde de quinta-feira. Apesar do frio, o sol brilhava entre as nuvens num trajeto silencioso de cinco quilômetros. Não havia carros. Apenas um senhor negro a cavalo, com chapéu e chicote na mão, cavalgando no meio da mata. Era seguido por um cão e dava gritos incompreensíveis para o cavalo enquanto seguia seu trajeto. Mais à frente, outros quatro homens do outro lado da estrada seguiam a pé, carregando enxadas e foices às costas, para plantar um pomar de laranjas, mangas e abacates.
Era a entrada do quilombo que abriga cerca de 200 descendentes de escravos, que vieram do Congo, Guiné e Angola. “Pode entrar!”, grita um deles. Era Antônio Carlos Gonçalves Fernandes, 29 anos, o caçula dos três filhos do líder do quilombo, responsável por buscar crianças e as duas professoras cedidas pela prefeitura para a escola da comunidade, de kombi.
À frente, estava Toninho Canecão, 70 anos, líder do quilombo. “Essa é a casa da tia Santinha. Ela é uma das moradoras mais antigas e tinha mais força do que muito homem. Pegava um balaio de 120 quilos e jogava em cima do burro. Ela tá lúcida até hoje”, conta, apontando para a foto de Santinha Sarapião, de 91 anos, que ilustrava um dos cartazes expostos ali. Acima, estava escrito: ‘casa quilombola’, com tradução para o inglês, logo abaixo. Iniciativa patrocinada pelo governo federal, que serve de carta de apresentação para visitantes.
Mais uma área que explora o turismo histórico de uma região que integrou o ciclo do café, com fazendas habitadas por barões e pela família imperial, no fim do século 19. No quilombo, há uma casa de estuque, argamassa feita de pó de mármore, cal fina, gesso e areia pelos primeiros quilombolas a habitar aquela terra. O casebre é preservado como patrimônio cultural da cidade. Trancada com cadeado, a casa possui fogões a lenha, onde é feita a feijoada em passeios turísticos à comunidade.
Perto dali, está a escola municipal Antônio Alves Moreira, onde 35 crianças têm aulas até o quinto ano do ensino fundamental. “É tudo filho aqui do quilombo. Aqui existe o respeito. O mais novo pede a bênção de joelhos pro mais velho”, diz Toninho, revelando um detalhe preservado da cultura local. Religião? “Aqui é umbanda”, sorri. “Falo até com orgulho, porque a gente viveu sempre a umbanda no passado”.
Mas nem toda a cultura dos descendentes dos escravos permanece indiferente à passagem dos anos. No quilombo, há atendimento médico e internet. Mas também há parteiras e o sinal do telefone é fraco. Por isso, Toninho Canecão diz preferir morar com a mulher em Santa Isabel do Rio Preto, para atender as ligações de quem busca contato com o líder, que deixou o quilombo aos 16 anos para adquirir conhecimento a mando do avô, o patriarca da época. Em três décadas fora, perambulou por cidades do Rio e São Paulo depois de servir ao Exército. Um uniforme que ele ainda usa, quase 50 anos depois.
Todo mês o quilombo recebe visitas pagas de pelo menos duas escolas da capital. É assim que o quilombo consegue se manter, oferecendo visitação, feijoada e palestra, que inclui a história do jongo, tipo de dança e música que originou o samba, ensinada aos filhos do quilombo em sala de aula.
Uma história contada pelo último dos líderes do quilombo, função herdada do avô. “Temos uma associação, para dividir ações. A liderança vai morrer comigo.”
Oito mil visitas por ano
O Jequitibá, árvore com 400 anos, é um dos principais pontos de visitação do quilombo e era usado como refúgio pelos antepassados. Na hora do almoço, todos são iguais e precisam esperar na fila, que inclui até as autoridades que vão ao local. Na festa do dia 13 de maio, data da abolição da escravidão, mais de mil pessoas comeram a feijoada feita no forno a lenha. Todo ano, são cerca de oito mil visitantes.
O quilombo atrai até mesmo gente de fora, que cria raízes. É o caso da Caravana Arco Íris pela Paz, uma iniciativa de cultura itinerante financiada pelo governo federal que já rodou por mais de 25 países da América Central e América do Sul. “Me identifiquei com esse lugar. Casei com uma quilombola e tive três filhos com ela. Agora, faço parte daqui”, sorri o viajante Nelson da Costa Pedro, de 64 anos, que descansa no quilombo antes de pegar a estrada novamente.
O apelo turístico faz da região uma área de importância para o Mapa Estratégico do Comércio, do Sistema Fecomércio RJ, entre quinta e sexta-feira, em Valença. “O desafio é identificar todos esses atrativos, que hoje estão espalhados, e juntá-los num calendário de eventos da cidade. A partir disso, é possível montar uma estratégia de divulgação da região. Aí, potencializa esse atrativo”, analisa Irineu Frare, coordenador da FGV Projetos.
Pesquisadores pretendem criar polo ufológico na Serra da Beleza
Na Serra da Beleza, há a lenda da Mãe do Ouro, como quilombolas se referem a uma bola de fogo que aparecia atrás de uma pedra no horizonte. Um ponto de encontro entre os descendentes de escravos e os ufólogos que analisam aparições de OVNIs ali há três décadas. Os estudiosos pretendem criar um polo ufológico na Fazenda Beleza da Serra, em frente à Cordilheira da Mantiqueira, área que engloba Varginha, em Minas Gerais, onde houve vistamento de um ET. A ideia é elaborar um calendário de eventos e vender produtos, como camisas e souvernirs para turistas.
A iniciativa é dos ufólogos Arthur Sergio Ferreira Neto e Julio Cesar Ferreira, que costumam fazer vigílias no local. Uma delas, no dia 3 de agosto de 2013, acabou retratada pelo ‘History Channel’. Eram 17h quando a dupla decidiu fazer um pacto: caso fizessem algum avistamento, eles não iriam fotografar. Em seguida, presenciaram um clarão que tomou a montanha por cinco minutos. “Era uma luz branca do tamanho de um carro que parecia uma solda. Estávamos iluminados”, lembra Arthur, que testemunhou o fenômeno usando binóculos.
O avistamento foi interrompido quando Julio decidiu pegar a câmera. Ao soltá-la, as luzes voltaram. E se apagaram de vez quando o ufólogo colocou as mãos na máquina fotográfica pela segunda vez. Os ufólogos, então, decidiram deixar o local, de carro. Arthur, então, entrou no veículo e Julio esperou, para fechar a porteira da fazenda onde ocorreu o avistamento. Quando Arthur passou acelerou, sentiu um forte impacto no veículo, semelhante a uma colisão. “As duas rodas dianteiras saíram do chão”, relata Arthur. Ao descer, percebeu que o veículo estava intacto. “Possivelmente, houve algum deslocamento de ar provocado por um objeto muito grande que saiu dali”, analisa o ufólogo.
Depois do episódio, a história foi investigada pelo ‘History Channel’. Julio, que observou o fenômeno a olho nu, acordou com os olhos inchados na manhã seguinte. Um oftalmologista diagnosticou conjuntivite por exposição a radiação. A máquina fotográfica passou por perícia, que constatou ação eletromagnética intensa, danificando todos os componentes.