Por cadu.bruno

Rio - A estátua do Cristo Redentor não é só o símbolo do Rio. Quem se afasta 319 quilômetros da capital encontra novamente a mesma imagem nas placas de identificação de Itaperuna pela BR-356. Mas a semelhança entre as duas cidades se limita ao monumento. O principal município do Noroeste Fluminense é o menos identificado com a Cidade Maravilhosa, se comparado às outras sedes do Mapa Estratégico do Comércio, do Sistema Fecomércio-RJ. O próprio sotaque dos moradores já entrega uma influência mineira de uma cidade que faz fronteira com Patrocínio de Muriaé, em Minas Gerais.

Do Mirante do Cristo é possível contemplar boa parte da cidade. Turistas não dispensam fotosHerculano Barreto Filho / Agência O Dia

Em uma visita à estátua, conhecida como o segundo maior monumento ao Cristo do país, com 20 metros de altura, é possível identificar alguns contrastes. Em vez de turistas de todo o mundo posando para foto de braços abertos em frente à estátua — só dez metros maior em comparação ao de Itaperuna — há um quiosque fechado, antenas de TV e dois homens descendo a cavalo pela rua íngreme que dá acesso ao local. Ali do alto, não se veem praias paradisíacas abaixo das nuvens, em contraste com uma cidade em movimento. Só há o silêncio contemplativo de um lugar onde é possível ver a cidade de cima, com um pequeno açude, um aeroporto desativado e ruas sem movimento.

Na tarde de quinta-feira, só um carro parou em 30 minutos lá. Tennei Freitas Café desceu para mostrar o local ao amigo Gildazio Andrade dos Santos, que veio de Vitória, no Espírito Santo. “Aqui é bom de tirar foto. É o Cristo de Itaperuna”, apresenta. Em meio à oitava etapa do Mapa, entre quinta e sexta-feira, foi discutida a ideia de explorar mais o Cristo para atrair turistas. Existe uma Itaperuna abaixo do Cristo que não é movida pela fé ou por iniciativas para alavancar o turismo. Mas atrai pessoas de todos os lugares do país pela esperança de solucionar graves problemas de saúde. Há seis anos, o Hospital São José do Avaí passou a tratar pacientes pelo SUS com problemas neurológicos e cardíacos por meio de radiação e acesso venoso, sem a necessidade de intervenção cirúrgica.

O crescimento tecnológico do hospital, que tem 1.170 funcionários, também representou crescimento para o comércio, responsável por 36% do valor adicionado do município. É que a unidade fica no centro comercial que se desenvolveu para atender esse público. “Meus clientes são bancários, comerciantes, universitários e pessoas que trabalham no hospital”, revela a empresária Aline Cardoso, dona de um restaurante. O cenário por ali reflete essa diversidade.

O restaurante fica na Rua Assis Ribeiro, entre a Avenida Cardoso Moreira e a Rua Dez de Maio, no miolo do comércio. A voz de um locutor anunciava as promoções de uma pequena farmácia, com uma música do Wesley Safadão ao fundo. Há dezenas de lojas abertas. Mas é a lotérica, onde há fila de dez pessoas acima de 50 anos, é que recebe mais gente.
Na esquina, um camelô vendia meias expostas no chão. Ao lado, o músico Samuel Samo reproduzia o próprio álbum numa caixa de som e oferecia o CD por R$ 5 para quem passava. “Aproveita pra fazer uma propagandinha pra mim”, pediu. E levou.

Muitos quilômetros em busca da cura

No Hospital São José do Avaí, há histórias diárias de gente que vem de longe em busca da cura. Raianne Sena da Silva, de 16 anos, mora em Boa Vista, Roraima. Diagnosticada com aneurisma no cérebro desde 2014, ela passou a percorrer 3,5 mil quilômetros de avião até o Rio de Janeiro.
De lá, enfrenta mais de 300 quilômetros de ônibus até chegar a Itaperuna para o tratamento. Mas ninguém se queixa.

“Quando começou o tratamento, em Teresina (Piauí), foram mais de dois meses para fazer a cirurgia. Aqui, o atendimento é bem mais rápido”, compara Raimundo Nonato Sena da Silva, que acompanha a filha na sala de enfermaria.

Raianne está na maca ao lado da dona de casa Maria Glória do Nascimento, 66, que saiu de Niterói para fazer operação de aneurisma cerebral e se recuperava da cirurgia ao lado do filho.
Acostumada a enfrentar longas listas de espera para operar, ela se surpreendeu com a rapidez da intervenção cirúrgica. “Fui pega de surpresa. Pensei que ia ficar a semana inteira aqui esperando”, sorri.

Bermuda e da água mineral

Dois pequenos distritos foram apontados pelo empresário Edmilson Ladeira, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Itaperuna como regiões com potencial para crescimento econômico. Boaventura, sede de fábricas de confecção de roupas, ficou conhecida como a capital da bermuda no país. A principal indústria tem 500 funcionários e passou a produzir bermudas com estampa da Disney.
Em Raposo, há potencial de expansão de um turismo voltado para a terceira idade, com quatro estações de água mineral, estância hidromineral e um parque com banhos termais sulfurosos. No distrito, há 180 empregos gerados pela rede hoteleira, que possui cerca de 580 apartamentos.

A estrutura é insuficiente para receber um público que chega a 20 mil pessoas na tradicional Festa dos Carros de Boi, no fim de maio, com mais de 50 anos de existência. No Parque Soledade, a guia Fátima Alves mostra uma piscina de água fluoretada e calcificada. E outra menor, com água sulfurosa e gasosa, onde as pessoas fazem um bronzeamento natural e ficam em um banho de imersão pelo período mínimo de duas horas.

O parque funciona das 7h às 17h, com intervalo de uma hora e meia no horário de almoço, pelo simbólico preço de R$ 2 por pessoa. “A água não tem tratamento químico”, diz Armando Gomes, um dos proprietários. Em Raposo, há três fabricantes de água, que já exportam os seus produtos por todo o estado e para Minas Gerais e Espírito Santo. Todo dia, 22 caminhões distribuem a água.

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