Por gabriela.mattos
Lando Colette está há 24 anos no país e oferece comidas típicas africanas nos eventos da Junta Local Divulgação

Rio - A togolesa Louise Nya vende djenkoumé, uma iguaria feita com fubá acompanhada de carne, peixe e legumes. Os venezuelanos Gonzalo e Misshel Sánchez preparam cachapas, uma espécie de panqueca feita a base de milho verde ralado e coado, esquentada na chapa com recheio de queijo.

Para acompanhar, papelón, uma limonada com rapadura. Os sírios Tülin e Sanah Hashemi oferecem awame, um doce típico vendido nas ruas de Damasco, feito com farinha, iogurte e calda de especiarias orientais. O cardápio ainda inclui tabules e labnes, uma coalhada seca e artesanal, temperada com azeite e hortelã.

Essa diversidade de receitas é o trunfo de um projeto desenvolvido há um ano com participação de estrangeiros em feiras gastronômicas. A iniciativa é da Junta Local, em parceria com a Cáritas-RJ, ONG que desenvolve programa de atendimento a refugiados.

Em junho, no Dia Mundial dos Refugiados, foi organizado um evento com a participação de oito feirantes no Museu do Amanhã, na Praça Mauá. No dia 25 deste mês, ocorrerá mais uma feira. A expectativa é que as feiras gastronômicas com refugiados ocorram mensalmente. “O principal objetivo é que surja uma fonte de renda para os refugiados.Mas também é uma reconexão social, de resgate a uma atividade ligada ao país de origem. É como se fosse uma integração deles com o Rio a partir das feiras”, compara Luciara Franco, colaboradora do projeto.

Há 24 anos, Lando Colette fugiu de uma Angola em guerra com o marido e o filho recém-nascido. Embora adaptada ao país, ela ainda conserva a própria cultura. Na feira, vende comidas típicas do país de origem. “É uma oportunidade para que a gente mostre a nossa cultura. O público gosta e aparece para experimentar a minha comida”, sorri.

Dificuldades com idioma

Um contraste com a história da venezuelana Maria Elias El Warrak, que chegou no país há 11 meses com o marido e os dois filhos, depois de fugir do país de origem, onde a família era obrigada a pagar propina a milicianos. Ela ainda tem dificuldades para se comunicar em português, mas é fluente na cozinha. De origem libanesa, prepara tabules, molhos e saladas artesanais. “As pessoas gostam do tempero. Estamos tendo uma interação legal com os brasileiros”, diz.

O sírio Rami Shurdaji, de 25 anos, também está em fase de adaptação. No Rio há dez meses, ele já trabalhou numa fábrica de imóveis. Mas a experiência não deu certo. Agora, aposta todas as fichas na venda de comida árabe nas feiras.

‘Refoodgees’ busca parceria

As feiras organizadas em parceria entre a Cáritas-RJ e a Junta Local não são as únicas que reúnem refugiados para oferecer pratos típicos ao público. Há apenas dois meses, uma iniciativa promovida por jovens empreendedores para ajudar uma refugiada nigeriana que vendia comida por encomenda no Largo do Machado deu origem ao ‘Refoodgees’ (trocadilho em inglês misturando as palavras ‘refugiados’ e ‘comida’).

O grupo, que ainda busca parcerias para garantir capacitação aos refugiados, estuda a possibilidade de criação de um site para formar uma espécie de plataforma, incluindo todos os refugiados parceiros.

O ‘Refoodgees’ já organizou dois eventos de gastronomia em parceria com restaurantes. A página no Facebook do grupo teve mais de 1,5 mil curtidas. “O nosso trabalho é criar uma logomarca e divulgar os eventos nas redes sociais, para que as pessoas também façam encomendas”, explica a arquiteta Gabriela Ribeiro de Oliveira, uma das idealizadoras do projeto.

Segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça, há cerca de 9 mil refugiados no país, de 79 nacionalidades diferentes. Um em cada quatro deles são sírios, o equivalente a 2,3 mil estrangeiros.

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