Por gabriela.mattos

Rio - Aplicativos para celular e outros avanços tecnológicos têm transformado as formas de ir e vir da população e podem ser grandes aliados na melhoria da mobilidade urbana. A terceira e última reportagem da série ‘Tendências dos Transportes’ mostra o potencial dessas novas ferramentas, sobretudo as de compartilhamento de carros, bicicletas e caronas, para criar cidades inteligentes e mais conectadas.

Segundo a União Internacional dos Transportes Públicos (UITP), simulações feitas nas capitais de países da União Europeia mostram que a combinação de transporte público de alta capacidade e o compartilhamento de carros e caronas poderia remover até 65 de cada 100 carros nos horários de pico.

“Nos últimos sete anos, temos visto novas formas de utilizar os carros, graças aos smartphones, apoiados pela tendência emergente para uma economia de colaboração e participação de investidores”, declara Fabienne Herlaut, especialista em mobilidade inovadora, no último relatório anual da UITP. “Esses serviços ajudam a tirar a pressão do transporte público sobrecarregado em determinados momentos do dia. Eles também cobrem áreas e viagens que não são servidos pelo transporte público”, acrescentou.

Desde 2011%2C o Bike Rio já proporcionou 7%2C6 milhões de viagensFelipe O`Neill / Agência O Dia

Conceitos como tecnologia, economia compartilhada e inovação dos modelos de negócio definem a ideia de cidades inteligentes (‘smart city’). Na visão de Eleonora Pazos, presidente da UITP para América Latina, o Brasil avançar na discussão sobre os novos modelos de mobilidade. “Debate-se muito a questão de o Uber ser ou não ser legal (por concorrer com os táxis, regulamentados). E se surge aqui um sistema de carona e todo mundo resolve combinar carona? Isso é legal? Não é legal? Como pode ser regulado? É preciso avançar nessa discussão”, ressalta Eleonora.

Com ou sem regulação, a tecnologia para compartilhamento de caronas já chega ao Brasil. Com mais de 2 milhões de viagens compartilhadas por mês, no mundo, o aplicativo BlaBlaCar já funciona no país. De acordo com a UITP, mais de 17 milhões de usuários de sistemas de compartilhamento de caronas foram registrados na Europa em 2014 (último dado disponível). A estimativa da UITP é de que esse número duplique até 2020.

Sistemas de carona contam com diversos programas

O aplicativo BlaBlaCar, presente em 20 países, incluindo o Brasil, conecta motoristas que têm lugares vagos em seus automóveis com pessoas interessadas em dividir os custos de viagens previamente programadas.

O interessado em pegar uma carona através do BlaBlaCar precisa baixar o aplicativo em um celular Android ou iOS. O segundo passo é informar o ponto de encontro desejado, escolher data e o condutor para a viagem. Depois, é preciso fazer uma reserva online. O condutor é notificado imediatamente da reserva e a pessoa que deseja a carona recebe o contato do motorista para combinar os últimos detalhes.

O dono do carro negocia o preço da carona com o “cliente”. Na noite desta segunda-feira, por exemplo, uma viagem de São Paulo ao Rio programada para hoje estava custando a partir de R$ 50.

Outros números da BlaBlaCar apontam para o impacto da ferramenta no mundo para a mobilidade e o meio ambiente: mais de 20 milhões de membros, 15 milhões de downloads e 700 mil toneladas de gás carbônico poupadas no ar. A ocupação média por automóvel é de cerca de três pessoas. Os dados são da empresa.

O compartilhamento corporativo também está surgindo com iniciativas como o TwoGo, serviço de caronas inteligente para empresas. O aplicativo é oferecido em países como Brasil, Áustria, Argentina, Canadá, Chile França, Grã-Betanha e Estados Unidos.

Basta inserir uma proposta de carona no aplicativo que ele encontra o parceiro ideal de viagem. “Economize tempo, divida as despesas e dê o seu apoio à sustentabilidade com o serviço de carona diária”, convida o site da empresa.

O TwoGo considera fatores como dados de tráfego em tempo real para calcular com precisão rotas e horário de chegada. Assim que a carona é confirmada, o app informa por SMS, e-mail ou notificação. Se algo atrapalhar os planos da viagem, são sugeridas alternativas imediatamente.

O polêmico Uber, que oferece motoristas particulares e tem sido alvo de discussões sobre a legalidade do serviço ao redor do mundo, está disponível não só no Rio como em outras 383 cidades no mundo. A empresa já registrou mais de 1 bilhão de conexões através do aplicativo. 

Cada bicicleta do Bike Rio faz cinco viagens por dia

O Bike Rio — concessão pública municipal em parceria com uma operadora privada — é o maior sistema de compartilhamento de bicicletas na América do Sul, segundo a prefeitura. A utilização do Bike Rio é maior do que o do serviço semelhante em Paris (Velib’) e se aproxima ao de Barcelona (Bicing). No Rio, é de 4,99 a média diária de viagens por bike compartilhada, enquanto a média na capital francesa é de 3,48, e, na cidade espanhola, de 5,62.

“O compartilhamento é um facilitador, porque oferece uma opção ao cidadão. Quando o trânsito está intenso, o passageiro pode ir de bicicleta pagando barato e ainda chega mais rápido”, diz o presidente da Federação de Ciclismo do Estado do Rio, Cláudio Santos. Ele lembra que, no estado, o sistema só é oferecido na cidade do Rio e defende que seja expandido para outros municípios.

O Bike Rio registrou cerca de 7,6 milhões de viagens desde sua estreia, em 2011, e 760 mil usuários. Segundo a prefeitura, 2.735 toneladas de CO² deixaram de ser emitidos.

O Rio também conta com tecnologia para os passageiros de transporte público. A Fetranspor lançou, em 2014, o aplicativo “Vá de Ônibus”, que indica as opções de linhas de ônibus de acordo com o destino do passageiro. Em 2015, o app contabilizou 6,37 milhões de acessos. Cerca de 800 cidades no mundo possuem sistemas de compartilhamento de bicicletas. 

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