Por karilayn.areias
Karina caminha a pé até o cursoarquivo pessoal

Rio - Desempregada desde fevereiro e sem dinheiro para a passagem, a estudante Karina Dias, 34 anos, vai a pé do Rio Comprido até Botafogo, três vezes por semana, onde faz curso técnico de Administração. Como ela é bolsista, a caminhada de uma hora e meia é necessária para não perder a vaga. Levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) indica que a crise chegou aos transportes: 24,7 milhões de passageiros deixaram de andar de ônibus na Região Metropolitana do Rio em 2015, em comparação com 2014.

A perda na região foi de 4,2% dos usuários, considerando os que pagam passagem. A queda no país foi de 4,1% — o setor deixou de transportar 900 mil por dia. Os piores cenários foram em Curitiba, com diminuição de 8% da demanda, Goiânia (- 7,9%) e Teresina (- 7,8%).

Segundo o presidente da NTU, Otávio Cunha, foi a maior queda registrada nacionalmente nos últimos quatro anos. Ele aponta a crise econômica e o aumento do desemprego como vilões, já que, sem trabalhar, as pessoas se deslocam menos.
“Levamos em conta a inflação em patamar muito elevado e o desemprego que atingiu índices recordes nas últimas pesquisas”, avalia. No caso do Rio, Cunha também considera as obras espalhadas na cidade como motivo para a migração do ônibus para o trem, metrô e, em alguns casos, moto e carro.
O estudo se baseia em números colhidos em 16 cidades e em duas regiões metropolitanas (a do Rio e a de Porto Alegre), que detêm dois terços dos passageiros do Brasil.

De acordo com o presidente da NTU, a evasão nos anos anteriores era pequena e absorvida com menos dificuldade. Em 2014, a variação nacional foi de 2% negativos em relação ao ano anterior. Em 2013, houve redução de 1,4% e, em 2012, de 1,8%. Em 2011, a demanda aumentou 4,5%.

“As aulas são de segunda a sexta, mas só vou nos dias mais importantes. Deixei de ir de ônibus quando terminou o saldo do meu Bilhete Único, que tinha sido depositado pela empresa”, lamenta Karina, que trabalhava como assistente administrativa.

Segundo o presidente da Fetranspor (federação dos ônibus do estado do Rio), Lélis Teixeira, a crise afeta a renovação da frota, porque, segundo ele, as empresas enfrentam dificuldades: “A idade média dos ônibus na cidade era de 3,42 anos em dezembro de 2012 e passou para 4,44 anos em dezembro de 2015.”

No último trimestre de 2014, a taxa de desemprego no país era de 6,5%, e de 5,6% na Região Metropolitana do Rio. Nos três últimos meses de 2015, chegou a 9% no Brasil e a 7,7% no Grande Rio, aponta o IBGE.“O principal motivo para as viagens no transporte são as atividades econômicas. Se o trabalho diminui, a queda na demanda se justifica”, ressalta Alexandre Rojas, especialista em mobilidade da Uerj.da Uerj.

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Trem e metrô têm mais passageiros

As linhas do Consórcio Santa Cruz, que atua na Zona Oeste, foram as que mais perderam passageiros, percentualmente, de 2014 para 2015, no município do Rio. A demanda caiu 14%, com menos 23,5 milhões transportados. O segundo grupo mais afetado foi o Transcarioca, com redução de 13,2% (31,3 milhões de passageiros), seguido doIntersul (- 4,8%) e do Internorte (- 3,3%).

“Em algumas regiões, a crise é mais impactante. A Zona Oeste tem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, analisa Lélis Teixeira, da Fetranspor.

Considerando apenas as linhas municipais do Rio, a variação percentual da demanda foi de 0,4% negativos em 2015, cerca de 3,5 milhões de passageiros. A Secretaria Municipal de Transportes argumenta que os números da cidade mostram estabilidade devido a investimentos como corredores de BRT e BRS e a refrigeração da frota. A evolução da demanda na capital e no Grande Rio nos anos anteriores a 2014 não foi detalhada no estudo da NTU.

Para Alexandre Rojas, da Uerj, as baldeações iniciadas com a racionalização das linhas da Zona Sul também causaram rejeição pelos ônibus. Nas barcas, a demanda caiu de 28,4 milhões de passageiros, em 2014, para 26,9 milhões, em 2015. Opções para fugir do trânsito, a SuperVia e o MetrôRio têm outra realidade. O metrô fechou 2015 com 840 mil usuários diários, contra 740 mil em 2014. Os trens tiveram 659 mil por dia em 2015, 53 mil a mais que em 2014.

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