Por tabata.uchoa

Rio - Os transportes públicos do Rio registraram recordes históricos de embarques em suas estações durante os Jogos Olímpicos. Entre experiências positivas e negativas de quem encarou os sistemas coletivos nesses dias, um novo comportamento está surgindo. Alguns motoristas perceberam vantagens na ‘opção’ quase forçada e pretendem manter o automóvel na garagem mesmo após o evento.

Rosilene (de verde) e Leonardo (azul) querem manter o carro na garagemarquivo pessoal

É o caso da cuidadora de idosos Rosilene Campos, 50 anos, moradora de Benfica. Nos últimos quatro anos, ela ia todo dia de carro para o trabalho, na Barra da Tijuca. Com a implantação das faixas olímpicas na Linha Amarela (válidas só até amanhã), passou a optar pelos ônibus, que são autorizados nessas pistas, para driblar engarrafamentos.

“Depois, vou continuar usando ônibus porque é mais barato e seguro, principalmente devido aos frequentes roubos a carros na Linha Amarela”, diz ela. Outra vantagem para Rosilene foi financeira. “A gente coloca R$ 50 de combustível e só dá para ir duas vezes.”

A marca histórica do MetrôRio foi no dia 12, com 1,02 milhão de passageiros. Normalmente são 850 mil por dia útil, em média, e o último recorde tinha sido em 1º de abril (938 mil). No dia 17, a SuperVia teve 735.024 acessos, superando o limite de outubro passado (729.550) e a média diária de 700 mil pessoas. O grande dia para o BRT foi o mesmo que para o metrô, quando 855 mil pessoas utilizaram o sistema. O consórcio registrou mais de 800 mil embarques e desembarques em todos os dias úteis da semana passada. A CCR Barcas atingiu o máximo de usuários em fins de semana na linha Rio-Niterói, nos dias 13 e 14, com 139.651 pessoas — aumento de 458% em relação à média de sábados e domingos.

O vigilante Leonardo Campos, 31, filho de Rosilene, segue a iniciativa da mãe: “A economia de tempo e dinheiro contou a favor. Vou ver como vai ficar o trânsito depois para saber se vale a pena continuar com ônibus.”

Outros, no entanto, não veem a hora de voltar à rotina motorizada, como a advogada Sheila Ribeiro de Lima, 45, que tem ido trabalhar de ônibus e metrô. “Passei a usar o transporte público devido às interdições e por não ter que ficar procurando lugar para estacionar, mas não temos um atendimento com excelência nesse campo”, opina.

Já Sheila reclama da qualidadearquivo pessoal

Frequência e qualidade são desafios

Muitos fatores contribuíram para os recordes nos transportes coletivos no período, como a impossibilidade de acesso de carro aos locais de competição, as restrições no trânsito e o aumento de turistas na cidade — a RioTur ainda não fechou o balanço, mas eram esperados 350 mil visitantes estrangeiros e 650 mil nacionais.

“Há uma superposição de três públicos: o usuário da cidade, os turistas e o público que vai às olimpíadas. Os dois últimos têm menos opção de transporte (exceto táxi e Uber) e os cariocas que usam carro podem ter sentido dificuldade em se locomover pelas restrições e estacionar”, analisa José Eugênio Leal, professor do departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio.

Para Ronaldo Balassiano, do Programa de Engenharia de Transportes da PET/Coppe/UFRJ, os desafios para que o transporte público continue sendo a primeira opção dos cariocas são manter a frequência dos serviços e aumentar a qualidade. “O BRT ligando Jardim Oceânico ao Parque Olímpico tinha frequência de menos de 1 minuto entre saídas nos horários de maior movimento”, lembra.

Para Alexandre Rojas, engenheiro de Transportes da Uerj, conforto, segurança — dentro do transporte e nos acessos entre casa e o ponto de embarque —, pontualidade e preço são os critérios de escolha do meio de locomoção que merecem mais atenção.

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