Por adriano.araujo, adriano.araujo

Rio - Eram 11h20 de segunda-feira quando uma fiscal do VLT terminou de verificar se 327 passageiros tinham efetuado o pagamento da tarifa de R$ 3,80. Nenhum deles foi multado porque todos entraram no bonde e validaram espontaneamente o cartão de passagem. Outra fiscal conferiu os bilhetes de 93 pessoas em uma hora, no início da tarde: todas também foram aprovadas.

Pouco mais de seis meses após a inauguração, a impressão dos usuários é de que o VLT tem sido palco de um show de cidadania. A fiscalização começou há três meses. Os passageiros, que desconfiavam da honestidade do carioca antes da estreia do modelo inédito de transporte no Rio, sem estações e roletas, se surpreenderam. A multa por falta de pagamento é de R$ 170 ou R$ 255 para usuários reincidentes, mas é difícil ver alguém ser penalizado.

“As pessoas não levavam fé que o usuário iria pagar a passagem porque o carioca tem essa fama de dar jeitinho para tudo. Mas tem tido bastante fiscalização. Você entra e já tem algum fiscal por perto”, diz a gestora de RH Tatiana Rodrigues, de 25 anos, que nunca presenciou alguém sendo multado. Em tempos de crise, ela dá a dica: “A honestidade dos passageiros deveria servir de exemplo para os políticos no país”.

Passageiros devem validar o bilhete assim que entram no veículoEstefan Radovicz / Agência O Dia

Média de 23 multas por dia

Uma fiscal contou que, na maioria das vezes, não aplica multa. O VLT tem 33 fiscais. Do dia 5 de setembro, quando a fiscalização começou, até 19 de dezembro, a Guarda Municipal aplicou 2.374 multas por falta de pagamento no VLT. Uma média de 23 penalidades por dia. No entanto, a Concessionária VLT Carioca não respondeu quantos usuários foram fiscalizados. A Guarda diz que não contabiliza as abordagens.
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Sem dados para comparar quantos foram abordados pela fiscalização, não é possível estabelecer um parâmetro confiável, embora o número baixo chame atenção se comparado aos 4 milhões de passageiros que usaram o transporte desde que foi implantado, incluindo período em que não havia fiscalização.

Os irmãos Mateus Willian, 18, e Isabela Marina Almeida, 23, entrou no VLT e foi direto ao validador, como outros usuários. Ela acha que alguma fiscalização deveria ser adotada também no BRT, onde a taxa de calotes chega a 12%: “No BRT, falta segurança. Sempre tem um funcionário na estação, mas não pode fazer nada”, compara. O engenheiro André Miranda, 56, concorda: “As pessoas começam a ver que têm obrigações. É preciso dar um exemplo de cidadania. O caminho é esse”.

Balanço será divulgado em 2017
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Em setembro, O DIA publicou que a Secretaria Municipal de Transportes confirmou que já estava ressarcindo mensalmente a concessionária VLT Carioca devido ao excesso de calotes. O contrato de concessão prevê que, se o índice de passageiros que não pagam ultrapassar 10% do total, o município deverá dividir o prejuízo com a empresa. Após a publicação da reportagem, a prefeitura esclareceu que se equivocou ao dizer que já estava fazendo os pagamentos. A Secretaria Especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas informa que o relatório com números que apontam o comportamento dos passageiros ainda será fechado e divulgado no primeiro semestre de 2017.
Mateus e Isabela foram abordados%2C mas já tinham feito o pagamento. Multa é de R%24 170 para quem não pagaEstefan Radovicz / Agência O Dia


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