Rio - Quinta-feira, 10 da manhã. O estudante Lucas Bezerra, de 22 anos, saiu de casa em Botafogo, na Zona Sul, em direção ao trabalho em Copacabana. Entre as opções de transporte, ele decidiu pelo Bike Rio, já que ele é cadastrado e paga R$ 10 mensalmente. Ao tentar pegar a bicicleta, veio a decepção. A estação em frente ao Shopping Rio Sul tinha apenas uma. No entanto, ao solicitar a liberação pelo smartphone, o sistema não estava funcionando.
“Não é a primeira vez que acontece isso. É frequente. Pago o sistema todo mês, mas se eu usar quatro vezes durante trinta dias é muito. Sempre tem algum problema. Estou aqui há uns quinze minutos tentando a liberação e nada”, reclamou, antes de partir atrasado para pegar um ônibus para o trabalho.
A dificuldade de Lucas é a mesma de muitos usuários ouvidos pelo DIA, que circulou por estações do Centro e da Zona Sul e verificou diversos problemas. Segundo os usuários do serviço, o funcionamento dos equipamentos e das estações, além da manutenção das bicicletas, têm piorado, deixando muitos cariocas que optam pelo meio de transporte a pé.
Transporte complementar
Com uma malha de ciclovias de 450 quilômetros, a maior da América Latina, o Rio tem ganhado cada vez mais adeptos do uso da bicicleta. O projeto Bike Rio, serviço de aluguel das ‘laranjinhas’, funciona desde 2011 e conta com quase um milhão de usuários cadastrados. Segundo especialistas, é um meio de locomoção para curtas distâncias, complementar ao transporte público, e que substitui os automóveis nos pequenos deslocamentos, contribuindo para a mobilidade urbana.
As estações, que eram 60 no primeiro ano, hoje saltaram para 260. Segundo a Subsecretaria de Projetos Estratégicos da Prefeitura do Rio (Subpe), em média, 3 mil pessoas fazem uso do serviço diariamente e 9,6 milhões de viagens aconteceram desde 2011. Atualmente, diz o órgão, 2.600 bikes estão a disposição dos cariocas.
Prefeitura diz que trocou operadora
A Subsecretaria de Projetos Estratégicos da Prefeitura do Rio reconhece que a prestação dos serviços de compartilhamento de bicicletas apresenta problemas e informa que a concessionária responsável pelo sistema atual foi substituída. A Serttel, que estava na gerencia do Bike Rio desde a sua implantação na cidade e que deveria prestar os reparos, perdeu a concessão, diz o órgão. O trabalho passará a ser gerido pela empresa Samba. O contrato foi assinado no último dia 10 de abril. De acordo com a Prefeitura, a empresa assumiu a concessão com todas as atribuições determinadas em contrato — como operação e manutenção — e apresentará cronograma de investimentos e melhorias a ser validado e acompanhado pelo município.
Com o novo contrato, a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente, responsável pelo mobiliário urbano, fiscalizará o cumprimento das obrigações da concessionária. A não observância do contrato prevê uma série de procedimentos a serem tomados pela prefeitura, que vão de notificação a autuação e multa. O contrato com a nova empresa tem vigência até 2018, informou Subsecretaria de Projetos Estratégicos.
O DIA circulou no Centro e na Zona Sul e encontrou diversas falhas no sistema
Na manhã da última quinta-feira, três estações do Bike Rio entre Copacabana e o Leme estavam vazias, apesar de o sistema informar que os locais teriam bicicletas. A poucos quilômetros dali, a situação era inversa. Em frente ao Botafogo Praia Shopping, a estação estava lotada de bicicletas, no entanto, o sistema informava nos smartphones que estava vazia. “Quando você mais precisa do Bike Rio ele te deixa na mão”, reclama o universitário Lucas Bezerra.
“O intuito desse sistema seria aliviar o trânsito reduzindo, portanto, a poluição da cidade. Mas, na prática é só dor de cabeça. É um absurdo que, com tantas estações, existam tão poucas bicicletas em funcionamento. Costumo usar o Bike Rio para me locomover em trechos que, geralmente, não existe linha de ônibus, mas as estações sempre estão fora do ar ou sem bicicleta. É revoltante”, afirma o jornalista Lucas Cardoso, 25, que tentava usar as laranjinhas no Centro.
“São R$ 10 reais por mês, mas eu paguei e quero usar, mas não consigo bicicletas”, reclamava a assistente social Brenda Rio Branco, 32 anos, que tentava, sem sucesso, usar a ‘magrela’, no Largo do Machado. No caso dela, o sistema dizia que a estação estava vazia, no entanto, o local tinha bicicletas.
Na mesma estação, o universitário Maurício Gonçalves, 24, queria liberar o equipamento. Ao contrário de Brenda, o sistema em seu celular mostrava que era possível solicitar o equipamento. “Eu tentei tirar (a bicicleta), no primeiro momento dizia que estava tudo certo. Depois aparecia que estava em uso mas a bicicleta não saiu. Perdi meu tempo”, contou.
Em várias estações da Lagoa, Jardim Botânico e Humaitá é possível observar bicicletas com problemas. Freio traseiro e guidão quebrado, pneus furados e bicicletas sem correntes são alguns das dificuldades encontradas pelos usuários.
Alexandre Rojas, professor de Engenharia de Transportes da Universidade Estadual do Rio (Uerj), afirma que o projeto de compartilhamento de bikes é muito bom e importante. O especialista lembra que, por ser algo que todos usam, é preciso ter uma manutenção adequada e uma visão cidadã. “É necessário haver consertos permanentes nesses equipamentos, no entanto quem usa precisa lembrar que aquilo irá servir para outra pessoa.” Rojas afirma que, além da manutenção dos equipamentos, a prefeitura precisa cuidar mais das ciclovias, que, segundo ele, estão esburacadas e não incentivam o uso da bicicleta. “É necessário que os órgãos competentes cuidem e deem estrutura para esse projeto funcionar adequadamente”, lembra o professor.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento, sob supervisão de Claudio de Souza