Por gabriela.mattos

Rio - Vinte mil pessoas são prejudicadas diariamente pela interrupção dos teleféricos do Complexo do Alemão e do Morro da Providência, parados há oito e cinco meses, respectivamente. Mas o sacrifício dos moradores no sobe e desce a pé pode estar perto do fim. O governo estadual pretende retomar o funcionamento no Alemão no segundo semestre. Já a prefeitura promete divulgar em breve a data da licitação que escolherá nova empresa para operar o transporte na Providência.

Inaugurado em 2011, o teleférico do Alemão custou R$ 253 milhões, com recursos do PAC. O serviço, administrado pelo consórcio Rio Teleféricos, foi interrompido em setembro devido ao desgaste de um dos cabos de tração. A Secretaria Estadual de Transportes afirma que o equipamento, importado, já foi adquirido. A troca ficará a cargo do operador e do fabricante, sem custo para o governo.

Inaugurado em 2011%2C o teleférico do Alemão teve o funcionamento interrompido pela última vez em setembro. O motivo alegado pela concessionária foi o desgaste de cabosSandro Vox / Agência O Dia

A rotina da dona de casa Roberta Rosa, 30, ficou complicada sem o teleférico do Alemão. Ela usava o transporte, gratuito, para levar o filho de 11 anos à escola e à fisioterapia. O menino sofre de hemiparesia esquerda, que trava um dos lados do corpo. “Antes pegava um ônibus só e chegava à fisioterapia em 10 minutos. Agora pego dois ônibus e gasto 50 minutos. O teleférico veio como doce em boca de criança, pois ajudou muito os moradores da parte alta. Agora, voltou a ser como antes.”

Com dificuldade para caminhar, Júnior Rosa, filho de Roberta, precisa andar por 30 minutos para chegar ao colégio. Quando o bondinho funcionava, ele levava 10 minutos, sem fazer esforço físico. A única alternativa hoje é transporte particular, que foge ao orçamento da família.

A falta do transporte também afetou a economia na favela. A artista plástica Mariluce Mariá, 35, coordenava um projeto de turismo que empregava 38 guias locais. Eram jovens moradores do Alemão, alguns ex-presidiários. Com o aumento da violência e sem o teleférico, o movimento despencou e os rapazes perderam a fonte de renda.

“Chegamos a levar mais de 100 turistas diariamente. Isso gerava renda na favela. Dois desses meninos voltaram para o crime e estão presos”, conta Mariluce.

Na Providência, o teleférico, que também era gratuito, foi inaugurado em julho de 2014 e parou para manutenção em 17 de dezembro do ano passado. No dia 31 do mesmo mês, o contrato de operação expirou. Construído pela Secretaria Municipal de Habitação por meio do Programa Morar Carioca, o equipamento recebeu investimento de R$ 75 milhões. A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) diz que trabalha na elaboração do edital para lançar a nova licitação.

“Esse teleférico era o jeito que o pessoal tinha para ir à Clínica da Família Nélio de Oliveira, na Gambôa. Agora é preciso pagar dois transportes e nem todo mundo tem condições”, queixa-se a aposentada Alessandra Roque, 44, deficiente física.

Moradores reclamam do mau funcionamento do plano inclinado

Os moradores do Santa Marta ainda têm o plano inclinado, mas reclamam da irregularidade do serviço, utilizado por 1.800 pessoas diariamente. Quando o transporte é suspenso para manutenção, eles precisam subir e descer 788 degraus, um trajeto de cerca de meia hora para um adulto saudável. Já para idosos, gestantes e deficientes físicos, a dificuldade é bem maior.

“O bonde está sucateado e vive parando por falta de peças. Às vezes fica dias sem funcionar. Sem contar que funciona só de 6h30 à meia-noite. Minha mãe anda de muleta e, quando volta tarde da UPA, não tem mais o bonde. Várias vezes tivemos que gastar com táxi ou Uber. A gente cansa de ver grávida e gente operada chegando de madrugada”, diz Thiago Firmino, 36, guia local.

A Rioluz, responsável pelo plano inclinado, respondeu que faz paralisação para serviços de manutenção preventiva às segundas e terças, com alternância de trechos, entre 11h e 16h. Segundo o órgão, o horário de operação não será revisto “por questão de segurança dos operadores e pela necessidade de evitar o desgaste excessivo com o funcionamento contínuo”

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