Por leo.martinez
Glória PerezAg. News

Glória Perez é a mais bem sucedida autora de novelas da atualidade. Amanhã, ela vai entrar na casa dos brasileiros com ‘A Força do Querer’, uma trama que discute a diversidade, as dificuldades de compreender e aceitar o que é diferente, e que fala do embate entre o querer e os limites éticos e morais. Rita, personagem de Isis Valverde, é adepta ao sereismo; Jeiza (Paolla Oliveira) é policial, trabalha no Batalhão de Ações com Cães e sonha se tornar lutadora de MMA. Já Juliana Paes é Bibi Perigosa, uma mulher que se envolve com um traficante por amor. Na entrevista a seguir, ela fala sobre a novela e também sobre sua discretíssima vida pessoal. Confira!

As diferentes tramas de ‘A Força do Querer’ devem ter surgido aos poucos na sua vida. Mas você lembra de como surgiu a ideia central da trama? Em que momento da sua vida? 

Leo, o que faz um escritor é o seu jeito de olhar para o mundo. Você vai vivendo, vendo os outros viverem, e sem pensar em novela nenhuma, aquelas impressões vão se acumulando dentro de você. Na hora de escrever, elas brotam.

Paolla Oliveira, Juliana Paes e Isis Valverde, entre outros, são nomes fortíssimos. Cada uma delas poderia, sozinha, protagonizar uma novela. Foi pedido seu reunir nomes de peso?
Essa é a ideia: as histórias são muito concentradas, mas todas elas podendo ser centrais. Geralmente trabalho com uma historia oficialmente central e outra que poderia ser central e se torna central ao longo da trama. Dessa vez, para tornar a narrativa ainda mais dinâmica, ampliei o leque.

Em ‘Salve Jorge’ você apostou num nome novo: a talentosa Nanda Costa. Mas o que se viu foi um preconceito do público em relação a ela. O que aconteceu?
Não foi a percepção do povo, mas gente elitista ficou muito incomodada de ver a favela como cenário central de uma novela das nove e uma menina favelada como protagonista. Incomodou que a personagem tenha fugido ao estereótipo. E haja preconceito! Teve até quem achasse irreal o fato de que ela fizesse escova no cabelo e se vestisse no mesmo estilo de qualquer outra garota carioca. Mas foi um ‘besteirol’ muito local. Mundo afora a novela fez uma bela carreira. Estive agora em Portugal, para receber um prêmio no Festival do Porto, e tanto lá quanto em Lisboa, todos exaltavam ‘La Guerrera’ (‘Salve Jorge’).

Você vai abordar um tema delicado na nova novela: travestis. Qual a receita para o público aceitar bem algo que a sociedade tem uma certa rejeição?
Eu busco sempre tocar no humano. O humano sempre foi a paisagem de todas as minhas histórias, não importa que tipo de vestimenta as personagens usem nem que língua falem. Conto histórias de gente. E é isso que vou fazer de novo em ‘A Força do Querer’. Como sempre, não quero chegar às pessoas através de discursos nem argumentos. O público simplesmente vai compartilhar o cotidiano da personagem trans, seus sonhos, suas frustrações, suas vitórias, suas angustias. E isso é tudo.

Por que você escolheu um homem (Silvero Pereira) para viver o transex e não um travesti de verdade?
Porque não estou fazendo documentário! Estou fazendo dramaturgia e dramaturgia se faz com atores. Ser trans não é sinônimo de ter talento para representar uma trans. Imagine se em ‘O Poderoso Chefão’ tivessem aberto mão de Marlon Brando para contratar um mafioso de verdade? Se em ‘Dupla Identidade’ eu tivesse que abrir mão do Bruno Gagliasso para importar um serial killler do corredor da morte? Estaria extinta a profissão de ator!

Paolla Oliveira será uma policial que sonha ser lutadora de MMA. Você gosta de lutas ou é um movimento que não para de crescer por isso não pode ser ignorado na novela?
Não me interesso por lutas, mas o sucesso das mulheres no MMA me despertou para o tema.

Juliana Paes será Bibi Perigosa, que, na vida real, foi mulher de traficante. Mas você não vai abordar o tráfico? Por que?
O foco não é o tráfico. O trafico é pano de fundo. O que eu quero é falar de uma mulher (e existem tantas como ela) que, movidas por uma paixão, acabam no mundo do crime. E pagam caro por isso.

Você é a autora mais bem sucedida no país. Mas quase nunca lhe vemos acompanhada, em relacionamentos amorosos. Eles existem e nós não descobrimos, é isso? Ou estou errado ?
É claro que existem! Sou discreta, só isso. Em 35 anos de carreira nunca expus minha casa, meus filhos, meus netos, muito menos os homens que fizeram parte da minha vida. Sua pergunta me faz pensar como é engraçado que isso pareça estranho, numa época em que o mais comum é que as pessoas vivam sua intimidade através da mídia! Ainda vou escrever sobre isso. Continuando: de um tempo pra cá estou sozinha e bem quieta. Até quando, nunca se sabe: a vida dirá

Daqui a 12 anos você fará 80 anos. Mas você parece muito jovem e ativa. Você faz algum tipo de tratamento hormonal? E como Gloria Perez se vê aos 80 anos ?
Nunca fiz tratamento hormonal. Bom… com 90, 100 anos, se eu chegar até lá, me vejo com a mais curiosidade pela vida, pelas pessoas, pelo mundo novo que está nascendo... E criando muito!

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