Por leo.martinez
Maria JoãoDivulgação

Maria João, que interpretou Letícia em 'Novo Mundo', conversou com este colunista. A atriz portuguesa que está há 17 anos entre Brasil e Portugal, falou sobre a diferença entre a dramaturgia dos dois países, conta que já foi vítima de violência aqui e revela que já teve um amor brasileiro.


A primeira vez que você veio ao Brasil trabalhar foi há 17 anos e desde então você já tem um apartamento aqui. É verdade que você vai se mudar de vez para cá?
Mudar de vez é uma expressão muito radical. Eu sempre fiquei me dividindo entre os dois países e eu tenho uma carreira em Portugal e na Europa que eu gosto muito e que também me proporciona trabalhos muito bacanas. A minha intenção é conseguir trabalhar nos dois mercados, mas eu estou pretendendo passar mais tempo no Brasil.

O mundo está tão globalizado que o que era longe, hoje já não é mais.
Pois é! Há dois finais de semana eu fui a Portugal na sexta e voltei no domingo para um trabalho. Parece estranho falar isso, mas não é muito longe para mim porque o hábito também nos leva a criar essa familiaridade até com a própria viagem. O o mundo está ficando todo muito próximo.

Você fez muito sucesso em Portugal com ‘Destinos Cruzados’ e aí gravou um CD. Quantas pessoas estavam lá no Pavilhão Atlântica?
Estavam 15 mil pessoas no primeiro show no Pavilhão Atlântica e no segundo show, que aconteceu no Pavilhão de Guimarães que é no norte, estavam oito m il porque é um lugar menor.

Você inclui a palavra cantora agora no se currículo ou não ainda?
Não. Eu cantei no âmbito da minha carreira de atriz, porque nunca tinha cantado antes. A ideia inicialmente era de ter uma música , porque a personagem seria uma cantora fracassada. A gente gravou cinco músicas originais, mas tudo no âmbito da personagem. A fama dela extrapolou a trama e recebi muitos convites para cantar pelo mundo inteiro, mas eu nunca fui. Quando a novela terminou, o público escreveu muitas cartas e muitos emails para o canal de televisão pedindo, então fiz um show de despedida.

Mas as pessoas gritavam o que no show? Liliane Marise?
Quando eu estava atrás do palco esperando, gritavam o nome da personagem. Foi uma emoção inacreditável e quando eu estava no palco, todo mundo cantava, dançava, chamava o nome dela. Foi uma sensação incrível.

Qual a diferença da dramaturgia de Portugal para a do Brasil? Qual a diferença mais gritante, mais pontual?
Não tem muita diferença. A gente tem uma longa história no teatro, com os maravilhosos atores e com a teledramaturgia forte nesse aspecto. Sobre a televisão, o diferencial que existe entre o Brasil e Portugal é a estrutura que a Globo tem. A emissora produz e exporta para o mundo inteiro. A Globo tem 50 anos de experiência em televisão! Existe um grande investimento que o nosso mercado em Portugal não tem porque Portugal não exporta. Apenas produz. A gente escreve boas histórias. Em Portugal agora existe muita produção de ficção porque o público português quer. Ele gosta. Tanto que a novela portuguesa é a ficção de maior audiência do país.

As pessoas precisam se ver na televisão, né?
Claro, as pessoas querem a sua realidade e a sua cultura. Óbvio que as pessoas gostam de ver a novela brasileira porque é muito boa. Mas é outra realidade... Elas não se identificam. As pessoas querem ver os atores portugueses, os produtos portugueses e a gente está caminhando bem.

E a imprensa? Ela é muito diferente a portuguesa da brasileira? 

Não é muito diferente nã. Tem vários tipos de imprensa, tal como tem aqui: tem uma imprensa mais sensacionalista, outra menos... Mas a curiosidade é muito semelhante.

Novo Mundo’ é uma obra prima. Concorda que só a TV Globo seria capaz de produzir uma novela com essa riqueza?
É uma riqueza absurda que a Globo não só tem o capital para fazer, como o poder de conhecimento e a experiência dos diretores de produzirem e criarem séries tão boas como a Globo faz. ‘Novo Mundo’ é uma novela muito rica de detalhes. O diretor Vinícius Coimbra e a equipe têm feito um trabalho extraordinário.

E ela não atrai só o público mais velho. Tem uma história de amor que atinge em cheio a juventude.
Sem dúvida! E tem um lado de comédia. É tudo muito encantador. Tem alguns personagens que são caricaturados na perfeição e na medida certa. A novela está muito, muito linda.

O que você achou dos brasileiros falando com sotaque português?
Acompanhei os meus colegas e até os ajudei na preparação e eu acho muito bom. Não seria possível falarem o português de Portugal correto porque é muito difícil e leva muito tempo, mas eles encontraram o seu próprio jeito de falar com uma interpretação tão boa que fica aceitável. A Ingrid (Guimarães), então está maravilhosa!

Agora vamos falar do seu personagem?
A Letícia é uma personagem que foi encantadora para mim de trabalhar por conta do universo que ela retrata. Letícia e o Ferdinando (Ricardo Pereira) representam os diversos naturalistas que viajaram do mundo inteiro para o Brasil atrás de conhecimento, da evolução, da ciência, fazendo expedições na mata, estudando a flora, a fauna para que hoje em dia pudesse ter muitas das coisas que a gente tem. Para que a ciência pudesse evoluir. Mergulhei em um universo totalmente diferente do meu. Já fiz muitos trabalhos de época, especialmente no cinema europeu. Mas eu e Ricardo fizemos imersões na mata para estudar as plantas, bibliografias imensas de personagens incríveis que deram a vida deles por este conhecimento. Isso me fez crescer muito como pessoa e como atriz.

Me diga alguma situação do cotidiano em que você ainda se surpreenda com o povo brasileiro.
Essa pergunta é muito difícil. Desde o primeiro dia que eu coloquei os pés aqui eu senti uma identificação tão grande... Como se eu estivesse no meu habitat natural. Me identifico muito com a forma de viver do brasileiro. Aprendi a viver o presente no Brasil. O europeu e o ser humano de uma forma geral é formatado para pensar no futuro. É bom programar, mas tem esse lado prático da vida que eu desenvolvi no Brasil que eu me identifico muito.

Se bobear é assim também por conta da crise que o país está: vamos viver o presente e amanhã a gente pensa no amanhã.
Sim, claro! Porque aqui é um fácil ser feliz com pouco dinheiro: você tem praia de graça, uma beleza natural imensa gratuita... Tem um mar incrível, pessoas bacanas... Você compra uma água de coco e pronto.

Pela nossa geografia é muito difícil distinguir quem é quem, né? Quem é o rico e quem é o pobre.
Na verdade, você passa um dia incrível que nem sente nessa praia maravilhosa, com custo quase zero. Eu não sei, mas tem uma energia muito especial no Brasil e no brasileiro que eu me identifiquei desde os primeiros dias. Talvez por isso essa relação com o Brasil dure tanto tempo e seja tão especial. Tem coisas encantadoras, como tem coisas que eu gostaria que fossem diferentes... Gostaria que não houvesse tanta violência no Brasil. Me dói ver os casos que a gente vai assistindo no dia a dia, no cotidiano brasileiro.

Mas você já foi vítima?
Fui vítima de um assalto em Porto Alegre. No Rio, felizmente, nunca presenciei nenhuma situação complicada, mas assisto televisão e eu vivo essa dor como todo o povo brasileiro.

Qual é o seu estado civil atual?
Solteira.

Feliz?
Muito feliz.

Você já se envolveu com algum brasileiro?
Ah isso eu não posso contar. Já tive um amor brasileiro há muito tempo.

O brasileiro é diferente do europeu no amor?
Naturalmente são dois países bem diferentes e isso interfere também na forma da pessoa ser. Mas as relações entre as pessoas são relações, né? Encontros são encontros, independentemente da nacionalidade. Já morei em vários lugares do mundo, como Nova York, Bélgica, Paris, Madri, Barcelona, e eu gosto de viajar de férias para conhecer praias paradisíacas. Mas também gosto de viajar e ficar morando no lugar, sentindo a cultura. Gosto de viajar com olhar de local e não de turista, porque isso vai me agregar muito como pessoa e como atriz. 

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