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A fiel comparsa de Irene, Mira, vivida pela atriz Maria Clara Spinelli, está longe de ter dias de sossego ao lado da vilã. Morando com ela após ter sido desmascarada por Dantas (Edson Celulari), a secretária se complica cada dia mais envolvida nas armações com a amiga. "Ela vai aprontar muito com Irene ainda. E as coisas começam a ficar mais pesadas, porque elas não têm mais que se esconder. A Irene começa a ficar cada vez mais obcecada pelo Eugênio. Em contrapartida, Mira fica cada vez mais acuada e exposta, porque ela não mudou o nome, então fica com mais medo", esclarece Maria Clara, referindo-se à trama que envolve Garcia (Othon Bastos) e Elvira (Betty Faria). E avisa: "Essa dupla é uma bomba relógio prestes a explodir".

MADRINHA

A estreia da atriz na TV foi pelas mãos da autora de 'A Força do Querer', Gloria Perez, em 'Salve Jorge' (2013). "Ela já havia me dito há um bom tempo que trabalharíamos juntas novamente. Me disse também que me acha uma grande atriz. Acho uma honra ter começado pelas mãos dela, é minha madrinha. Só tenho a agradecer e faço com prazer essa personagem. Acredito que escrita especialmente para mim", diz ela. "Tudo que a Gloria fizer e me convidar, não preciso nem saber qual é o personagem... Faço! Ela é uma visionária, faz parte da história da teledramaturgia deste país".

TRAMA DA VIDA

Na mesma trama em que a secretária Mira se une a Irene para destruir o casamento de Eugênio (Dan Stulbach), Ivana, interpretada por Carol Duarte, vive um processo de transição de gênero. História que se mistura à vida da atriz, que passou pelo mesmo processo, do gênero que nasceu, o masculino, para o seu reconhecido como verdadeiro, o feminino.

"O assunto na novela está sendo desenvolvido com muita sensibilidade e poesia. Isso é maravilhoso. É importante ressaltar a seriedade da pesquisa responsável dela e de sua equipe sobre o tema", destaca Maria Clara, que fala abertamente sobre o assunto com um objetivo claro. "Sou reservada. A minha história de vida é algo muito caro para mim. Mas penso que, se a minha experiência puder ajudar outras pessoas, dentro dos meus limites, é bom. Então, o que puder dizer, mostrar, para tentar ser um bom exemplo de alguma maneira, trazer luz a esse assunto que é a transexualidade, que minha experiência e visibilidade seja usada de forma positiva", analisa.

A atriz frisa a importância de o tema estar numa novela em horário nobre. "Acho que a estratégia da Gloria é essa: uma estratégia para salvar a humanidade. O que falta hoje no mundo é a capacidade de compaixão, é você se colocar no lugar do outro. Quando você faz isso, entende a dor do outro, pode evitar fazer coisas que não gostaria que fizessem com você".

Para Maria Clara, a autora tem o 'dom' de gerar identificação com seus personagens, sejam próximos ou distantes da realidade do grande público. "Ela conta suas histórias de uma forma que o público se sinta ligado ao personagem, com vínculo e afeto por ele. E aí, quando ele sofre, aquilo atinge o público também, que se coloca no lugar dele", conclui.

O SONHO VENCEU

Na TV, a atriz de 42 anos fez também as séries 'Supermax' (2016) e 'Carcereiros', que estreia ainda este ano. "A personagem é a Kelly, uma mulher transgênero, que está presa neste presídio masculino. Faço par romântico com Diogo Sales, que faz o Binho, o 'príncipe' do presídio. Ela é um pouco parecida com a Bibi Perigosa, uma mulher que ama demais. Faço o episódio de estreia, que foi exibido em Cannes e a série premiada", revela.

Contabilizando quase 20 anos como atriz, ela conta que deixou a estabilidade financeira de um cargo público para se dedicar exclusivamente ao ofício de interpretar.

"Fui servidora pública estadual muitos anos. Tinha essa carreira e a de atriz em paralelo. Mas optei, abri mão para seguir meu grande sonho e minha vocação. Hoje, o sentido da minha vida é ser atriz", confessa. "Estou tão feliz com esse momento. E já estudando projetos no cinema, TV e teatro para depois da novela", comemora Maria Clara, que brilha no seu primeiro papel cisgênero na TV (termo utilizado para se referir ao indivíduo que se identifica com o seu 'gênero de nascença'), como Mira, uma mulher misteriosa, mostrando a versatilidade de uma atriz que tem sede de personagens. "Espero que 2018 seja tão incrível profissionalmente como este ano está sendo. Aí, venho contar para vocês".

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