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Mariana Tavares Bokelmann, de 22 anos, não tem os movimentos da cintura para baixo. Marcos Lima, 35, perdeu a visão com apenas seis meses, em decorrência de um glaucoma. Eles fazem parte de um universo cada vez mais integrado ao mercado de trabalho. Dados do Sistema Nacional de Emprego (Sine) apontam a existência de 27.440 vagas para pessoas com deficiência no país. O Rio, aliás, é o estado com o maior número de oportunidades exclusivas (veja mais no infográfico acima).

O Ministério do Trabalho e Emprego fez ações em todo o país em alusão ao Dia D de Inclusão. No Rio, as iniciativas ocorreram em parceria com a Secretaria estadual de Trabalho e Renda (Setrab). Os atendimentos começaram no dia 13 de setembro, em São Gonçalo. A ação ainda passou pela Catedral Metropolitana do Rio, Duque de Caxias e foi concluída na quinta-feira, na sede da Portela, com cerca de 2 mil atendimentos. Cerca de 60 empresas também marcaram presença. Criada em 1991, a Lei n° 8.213, a Lei de Cotas, estabeleceu que as empresas privadas com mais de 100 funcionários devem preencher entre 2 e 5% de suas vagas com trabalhadores que tenham algum tipo de deficiência. Nos três últimos anos, ações do Dia D encaminharam 19.980 pessoas com deficiência para o mercado de trabalho. A expectativa neste ano é empregar pelo menos 8 mil pessoas.

Helton Yomura, superintendente regional do Trabalho do Rio, acredita no trabalho de aproximação entre oferta e procura como forma de ajudar na contratação de pessoas com deficiência. Com o preenchimento do cadastro de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID), é possível aproximar o candidato à vaga com mais rapidez. "Estamos fazendo um esforço nas escolas e associações para que coloquem currículos no portal (www.sine.com.br). Também estamos falando com as empresas para colocar vagas à disposição".

obstáculos

Mesmo assim, ainda há obstáculos que ainda precisam ser superados. "O primeiro desafio é localizar o deficiente. Depois, é encontrar uma vaga que seja compatível. O mais difícil é a retenção na empresa. É a barreira social que temos que superar", avalia Helton Yomura.

Marcos Lima, citado no começo da reportagem, acredita que as empresas também precisam acreditar no potencial das pessoas com deficiência. Formado em Jornalismo pela UFRJ, ele já trabalhou na assessoria de imprensa da Souza Cruz e no Comitê Rio 2016, onde participou da organização dos jogos paralímpicos. Hoje, dá consultoria para empresas que vão receber pessoas com deficiência.

Mas ainda recebe ofertas de trabalho incompatíveis com a sua qualificação profissional. "Já recebi propostas de auxiliar de balcão, estoquista. Em alguns casos, as empresas só contratam para suprir a vaga. Não acreditam que a pessoa com deficiência possa fazer alguma coisa além de atender o telefone. Com isso, só estão propagando o preconceito".

Também há experiências positivas na relação entre as empresas e as pessoas com deficiência. A cadeirante Mariana Tavares Bokelmann trabalha há dez meses como auxiliar administrativo na Coca-Cola. E se surpreendeu com o ambiente de trabalho. "Pensava que ia sofrer preconceito. Mas encontrei um ótimo ambiente. É muito importante que as pessoas com deficiência tenham oportunidade de trabalho", diz.

Em todo o país, 6,2% da população brasileira possuem pelo menos um tipo de deficiência severa, entre pessoas de 15 a 64 anos, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE.

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