Por Pai Wellington de Omolu Apresentador do programa 'No Templo dos Orixás'

Já não resta dúvida que estamos atravessando um período de retrocesso galopante. Primeiro, o surgimento de diversos casos de intolerância religiosa, com números cada vez maiores de terreiros destruídos e pessoas hostilizadas por suas vestimentas típicas das religiões afro-brasileiras. Como se não bastasse, o último episódio desse cenário devastador culminou na tal liminar que permite tratar a homossexualidade como doença.

Infelizmente, a perseguição é generalizada. Da liberdade de credo à orientação sexual. Difícil, ou diria quase impossível, não acreditar que por trás dos últimos acontecimentos não exista o tão famigerado fanatismo religioso. A liminar que permite a submissão de gays e lésbicas a práticas de terapias de 'reversão sexual' nos dá a entender que a laicidade do estado deixou de existir, dando espaço ao cerceamento de direitos e ao rebaixamento da dignidade humana.

É tão lamentável que em um país como o Brasil, onde a diversidade impera, tenhamos a nossa liberdade de culto e de expressão e a nossa individualidade ameaçadas de maneira tão estapafúrdia. Agora, mais do que nunca, nós, líderes religiosos, zeladores de santo, temos que nos unir cada vez mais e nos posicionarmos frente a essa onda de intolerância.

Tenho o dever de utilizar a minha religião, o Candomblé, para reforçar o nosso respeito à diversidade. Até porque somos uma das poucas religiões que permitem sacerdotes homossexuais e acolhem pessoas de diferentes denominações, sejam elas budistas, cristãs, espíritas. Por isso, a cada dia que passa, tenho mais orgulho dos preceitos e ensinamentos que transmito aos meus seguidores, amigos e todos aqueles que me procuram para tratar da espiritualidade. Não precisamos invadir o espaço de ninguém nem convencer quem quer que seja de que o Candomblé é a religião que detêm a verdade absoluta.

É o que sempre digo a todos que me procuram: se você é feliz sendo católico, continue no Catolicismo; se você é feliz sendo budista, continue no Budismo. O respeito às religiões e a individualidade do ser humano estão acima de qualquer coisa. Talvez essa seja a hora de pensarmos em terapias de reversão para tratar mentes retrógradas e incapazes de manifestar qualquer gesto de empatia e respeito às diferenças.

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