Por O Dia

Considerada heroína em Janaúba, a professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, morreu após tirar crianças do salão em chamas e lutar com o vigilante Damião Soares dos Santos, de 50, na manhã de quinta-feira. Ela teve 90% do corpo queimado, que foi velado ontem, com caixão fechado.

Heley já havia perdido o filho mais velho, afogado numa piscina, há dez anos. Ela deixou outros três filhos, um bebê de 1 ano e dois adolescentes, além do marido.

Ela tentava socorrer as crianças quando percebeu que o vigilante estava retornando com mais combustível. A professora, então, tentou impedir o criminoso. "Pelo que falaram, ele disse: 'Se não quiser que as crianças morram, então vai morrer eu e você'. Depois, segurou ela e os dois queimaram", afirmou a professora Doralice de Abreu.

Já são oito as vítimas de Janaúba
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Subiu para sete o número de crianças mortas no incêndio da creche em Janaúba, norte de Minas. Segundo o Corpo de Bombeiros, o total de mortos na tragédia, agora, é de nove: além dos alunos, uma professora e o vigia da creche que provocou o incêndio. O criminoso, aliás, atraiu as crianças oferecendo sorvete. Com uma mochila nas costas e um pote azul nas mãos, o vigilante Damião Soares da Silva, de 50 anos, entrou no salão, fechou a porta e chamou as crianças. "Eu vou dar picolé para vocês." Silva atirou álcool nos alunos e no próprio corpo, depois ateou fogo a tudo. Cinco vítimas foram enterradas ontem.
Inaugurada em 2000, a creche municipal Gente Inocente não tinha extintor, sistema antifogo nem alvará dos bombeiros. O coronel Primo Lara de Almeida, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, afirmou que o imóvel, antes, era usado como residência e sempre funcionou sem alvará. "A creche tem 200 metros quadrados e a necessidade do combate a incêndio era de projeto técnico simplificado", disse. "Não havia sinalização de emergência, extintores, nem monitoramento de brigada. Mas, por causa da dinâmica de como as coisas aconteceram, independentemente de ter todo o aparato, o resultado seria o mesmo, porque a queima foi rápida", frisou Almeida.
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Segundo o coronel, a prefeitura de Janaúba solicitou aos bombeiros, após a tragédia, que vistoriassem todos os prédios municipais. A prefeitura confirmou a informação. "Para ele (o prefeito), estava tudo OK, porque já vinha de outras gestões", afirmou Almeida. "Infelizmente, no Brasil, só depois que acontece o fato é que vai correr atrás."
"Tenho a tranquilidade de dizer que não me pesa nenhuma culpabilidade pelo que aconteceu. Isso vem desde 2000", afirmou o prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB).
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O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano Chaves, afirmou que a maior preocupação da equipe médica responsável pelo tratamento das vítimas é com relação a queimaduras nas vias aéreas. Chaves esteve pela manhã no Hospital de Pronto Socorro João XXIII. "Além do comprometimento da superfície corporal, tem a gravidade do comprometimento pulmonar", disse Chaves. O médico informou que o banco de peles de Porto Alegre tem material suficiente para 15 crianças.
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