Por ANGÉLICA FERNANDES

Eles enxergam o lixo como material fundamental para fazer arte. Papelão e entulho de obra ganharam vida nas mãos dos artistas Antonio Ton e Laurent Renaud e viraram artigos de decoração até de luxo. As peças sustentáveis, que servem de inspiração para prática de reciclagem, ficarão expostas a partir de quinta-feira, no Galpão das Artes da Comlurb, na Gávea.

Há seis anos, o francês Laurent chegou ao Brasil e, espantado com tanto lixo pelas ruas, decidiu recolher papelão para fazer artesanato. Pela internet e por livros, ele aprendeu a desenhar peças, apenas com a ajuda de cola branca, estilete, lixa e régua.

"O papelão é super valioso e as pessoas jogam no lixo. Com a exposição, vamos mostrar que transformamos o lixo em peças de arte", apontou o artista, que criou a marca Lolo Carton para revender diversos artigos, que vão de R$ 150 a R$ 2 mil, como é o caso dos móveis de alta durabilidade. "Tem móvel que demoro uma semana para confeccionar e, dependendo do papelão, ele dura o mesmo tempo de um móvel de madeira", explicou.

No seu quarto, no Leblon, o universitário Antonio Ton, de 23 anos, utiliza entulhos de obra para criar materiais de arte. "Não interpreto nada como lixo, acredito que tudo tem um destino", revelou Ton, que faz . No caminho de casa para a faculdade, ele recolhe diversos elementos de construção civil, como vigas e pedras portuguesas. "Esses materiais carregam uma memória. Eu crio uma narrativa, uma poesia, e faço as peças", completou o jovem.

OFICINAS PARA CRIANÇAS

Além das mostras, Antonio e Renaud vão ministrar oficinais gratuitas para as crianças de escolas públicas, como uma espécie de contrapartida. A iniciativa, segundo o Galpão das Artes, vai atrair, principalmente, estudantes da região.

A exposição de Ton, 'Natureza Urbana', ficará disponível na Galeria II do Galpão das Artes. Um dos artigos de destaque é o dispositivo removível que, encaixado à saída da lata de spray, impulsiona a tinta através da pressão. Já a mostra de Lolo Carton, a 'Design do papelão', será na sala contemporânea. As mostras ficam em cartaz até 23 de dezembro, de segunda a sexta, das 9h às 17h.

Criado em 2002, o Galpão das Artes Urbanas recebe artistas e cidadãos envolvidos na prática da reciclagem, com o objetivo de reduzir, através da arte, a enorme quantidade de resíduos urbanos produzidos na cidade.

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