Por BRUNNA CONDINI

Betty Faria, desde os anos 1970, é vista em papéis bastante ousados na televisão. A atriz sempre interpreta personagens fortes, que não deixam de ser quem são por causa de ninguém, nem marido, nem filho, nem sociedade, nem nada. À lista de mulheres que interpretou - e que incluem o papel-título de 'Tieta', hoje sendo reprisada no Canal Viva com bastante audiência - acrescenta-se agora a Elvira, de 'A Força do Querer'. Ela é da linhagem da Tieta: só faz o que quer, não dá atenção para "não" de ninguém, vai a baile funk no morro mesmo sendo perigoso (o que gerou uma das cenas mais comentadas da trama de Gloria Perez) e até se encantou por Sabiá (Jonathan Azevedo), que lhe "passou a visão" (bordão do traficante) de poder e fortuna.

BETTY E ELVIRA

O que será que tem de Elvira na Betty Faria, e o contrário? "Ela é única, não busquei inspirações. Ela é muito diferente, e baseada na história dela, fui construindo a personagem", diz a veterana atriz, cujas estripulias em novelas como 'Pecado Capital' e 'Partido Alto' (ou filmes como 'A Estrela Sobe', de Bruno Barreto) marcaram época e solidificaram a visão de que, se o texto pedia mulheres que faziam de tudo para conseguirem realizar seus sonhos e não abaixavam a cabeça, era um trabalho para Betty Faria.

Mas ela ressalta que o estilo de vida da personagem é muito diferente do dela, em aspectos básicos: "Elvira é uma mulher sem filhos, desgarrada. A situação é diferente quando você tem filhos e netos para dar satisfação. Por mais liberta que eu seja, se meus filhos e netos forem atingidos por meus atos, sempre penso dez vezes para poupá-los", conta Betty, que nunca tinha ido a um baile funk na vida, nem pretende ir a um, mas achou bem legal e divertido fazer a cena.

EVOLUÇÃO

A maior preocupação de Betty no atual momento? "O poder do tráfico e suas armas", afirma. E a atriz, que posou nua nos anos 1970 - quando isso ainda não era nem um pouco comum no Brasil -, acha que tudo anda muito careta.

"Acho que as pessoas têm medo de dar opinião. Tudo desagrada e o ofende. Se você não gosta de unha do pé vermelho, ofende. Não gosta de roupa de oncinha, ofende. Não acha bonito não sei o que, ofende. Então, fica tudo na hipocrisia para não levar porrada. E isso é um atraso para o país. Assim fica difícil melhorar e evoluir", acredita Betty, que não sabe explicar por que a Elvira virou uma das personagens mais amadas da novela. "Fico feliz com isso, mas sucesso não se explica. As pessoas gostam e pronto, né?".

VELHICE

Com 76 anos, Betty se diz vaidosa e continua tendo cuidados básicos para beleza e saúde. "Mas não tenho muita rotina, exatamente por causa da vida que levo. Sempre faço alguma coisa para me sentir legal", conta ela, que já deu entrevistas falando das dificuldades de envelhecer. "A pessoa, quando envelhece, fica mais frágil fisicamente, tem sempre alguma doença ou algum problema. Acorda com dor, é um saco. Tem sempre alguma coisinha. Acho que o bom é que você se engana menos com as pessoas, e não espera nada delas. Então, o que vem, você acaba ficando no lucro", acredita a atriz, que - como é público e notório - vai à praia, põe maiô e, sempre que é perguntada a respeito de como é ter a idade que tem, costuma responder que idade não é empecilho para nada, nem para mostrar o corpo.

O quanto uma mulher que sempre foi tida como uma das mais bonitas do Brasil valoriza a beleza? "Gosto de gente bonita. Tenho um senso estético bastante exigente. E se vier acompanhado de um interior belo, aí o conjunto faz a pessoa realmente bonita", brinca Betty.

TIETA NA TV

Betty está casada ou namorando? "Estou platonicamente apaixonada", diz a atriz, que já foi casada com o ator Claudio Marzo (com ele, tem a filha Alexandra Marzo, que é atriz e fez várias novelas nos anos 1980, como 'Top Model') e com o ator e diretor Daniel Filho (com quem tem o filho João Daniel, que acabou de se casar num castelo na França, com a presença dos pais).

Há 20 anos, ela se converteu ao budismo, e diz que a religião provocou uma verdadeira revolução em sua vida. "O budismo mudou bastante meu temperamento, que era explosivo, sem sabedoria. Eu às vezes era bem arrogante, com excesso de sinceridade", recorda a atriz, que após terminarem as aventuras de Elvira, espera mesmo é "mais trabalho".

Além de 'A Força do Querer', Betty, sempre que pode, tem também acompanhado a reprise de 'Tieta'. E tem só lembranças boas da novela, que fez muito sucesso em 1989. "Muitos sentimentos de gratidão a Jorge Amado (autor do livro que gerou a novela) e Zélia Gattai (mulher de Jorge), Aguinaldo Silva (autor da novela) e Paulo Ubiratan, que foi o diretor geral, de quem sinto muitas saudades. Assisto à reprise sempre que posso e também sinto essas saudades de colegas que já foram embora. Fico encantada com as cenas. Acho ótima e linda. 'Tieta' é muito boa até hoje", elogia.

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