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Alheios às dificuldades financeiras para tocar o programa Orquestra nas Escolas, mais de mil alunos da rede municipal de Educação se dedicam para ingressar no mundo da música. Cerca de 900 meninos e meninas ficam na escola após o término das aulas para aprender a tocar um instrumento. Outros 300, que já são pequenos músicos, viajam quilômetros até um dos centros de educação musical da Prefeitura do Rio para aprimorar seus conhecimentos e ensaiar. Afinal, os 300, por conta das altas habilidades, foram pinçados na rede para integrar a Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca.

É o caso do aluno do sétimo ano da Escola Municipal Professor Alfredo Pinto Flores, Alefe Emanoel dos Santos Benício, 13 anos. O jovem trompetista, que aprendeu a tocar em casa, com o pai, sai do Magarça, em Campo Grande, todas às quartas e sextas, e percorre mais de 50 quilômetros até a Escola Rivadávia Correia, no Centro, para ensaiar. "Quero tocar na orquestra", disse com a convicção de quem vai alcançar seu objetivo.

O projeto do secretário municipal de Educação, César Benjamin, é ambicioso. Ele quer que 80 mil alunos da rede se tornem músicos até 2020. "Teremos orquestras de flauta, sopro, percussão. Teremos um coro! Todo semestre a gente lança edital para os alunos da rede, que queiram participar do programa", esclareceu a coordenadora do programa, a pianista Moana Martins. Os ensaios acontecem no contraturno e não prejudicam as aulas normais.

Enquanto os pupilos se esforçam, dedilhando, batendo ou soprando os instrumentos, seus mentores tentam sensibilizar a sociedade, de um modo geral, e o empresariado, em particular, a aderir ao projeto contribuindo com dinheiro ou doações. "Estamos fazendo a ação de captação de recursos, nos inscrevemos em todos os programas de incentivo", explicou a coordenadora.

"Eles (os empresários) podem deduzir 100% dos seus impostos. Pessoa física também pode destinar o Imposto de Renda, a pagar ou a restituir, para a orquestra", conclamou Moana. Segundo ela, uma parceria já foi fechada com a Yamaha do Brasil e outras empresas estão se mobilizando para apoiar o programa.

Moana, que também é coordenadora geral e artística do projeto social Som Eu, que existe há seis anos Morro da Providência e atende a mais de 600 crianças e jovens, acredita que a música tem o poder de transformação. "A música não tem cor, nacionalidade e nem religião. E tem a capacidade de agregar, integrar e socializar as pessoas".

Os meninos selecionados para a Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca ganham bolsa de R$ 200 e vale-transporte, inclusive para o responsável que os acompanha. Além de um lanchinho. "Basicamente, os alunos são oriundos de classes populares. E o poder público é o único responsável, ou o que se apresenta mais próximo aos meninos, para ajudá-los a conhecer coisas que não fazem parte do cotidiano deles", ensinou a professora Bárbara Portilho, que tem 35 anos de magistério e foi convocada para integrar a coordenação do Orquestra nas Escolas.

Para quem só tinha o beco da comunidade pela frente, a música mostra outros caminhos para Mariana Cristina Santana Gonçalves. A jovem começou tocando violão, mas depois mudou para a viola. "Porque gosto de som mais grave", declarou a menina que mora na Rocinha. Ela ainda não sabe se vai seguir carreira na música. Mas sabe que agora tem essa opção.

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