Eliane Giardini como Nádia em 'O Outro Lado do Paraíso' - Gshow
Eliane Giardini como Nádia em 'O Outro Lado do Paraíso'Gshow
Por Gabriel Sobreira

"Ela é preta e pobre". "Vai trazer todo aquele quilombo aqui para casa". "Neto preto eu troco no berçário" e "não sou preconceituosa". Essas são só algumas das sandices ditas por Nádia, personagem de Eliane Giardini, que não se cansa de humilhar a emprega Raquel (Erika Januza), em 'O Outro Lado do Paraíso', da Globo. "A Nádia fala barbaridades vestida de azul bebê, é muito barra pesada. Estou sofrendo um pouco de fazer. Ela é tão sem noção. Não quero apanhar na rua. Não quero que as pessoas confundam a esse ponto", reforça a intérprete.

Eliane diz que a novela das 21h, de autoria de Walcyr Carrasco, é um cardápio recheado de mazelas humanas e que é importante tratar desses temas que muitas vezes estão velados. "O nosso país é muito racista e muito violento. Mas estamos vivendo um momento de reeducação muito forte".

TRAMA

No capítulo de amanhã, a madame dará um novo piti ao descobrir que o filho, Bruno (Caio Paduan), pretende se casar com Raquel. O marido, o juiz Gustavo (Luis Melo), não fica atrás. A dondoca: "Casar com negra, não casa". O companheiro diz: "Bebê, não fala assim. É contra a lei, é racismo. Mas, meu filho, ela é só uma doméstica. É só para pegar". Bruno entra na discussão. "Se é negra, se é doméstica, que importa? Eu amo a Raquel. Ela me ama", afirma. O pai fala que existe um desnível grande de educação entre os dois. Bruno pergunta que diferença isso faz se eles se gostam. Nádia encerra a conversa: "Podem me chamar do que quiserem. Com uma negra você não casa. É racismo. Manda me prender, doutor juiz. Mas com negra meu filho não casa", avisa.

CLASSISTA

Para a atriz, sua personagem não pode ser considerada uma antagonista. "Vilã tem uma inteligência. Ela não tem uma inteligência, é uma pessoa inconsciente, inconsequente, classista, fofoqueira, preconceituosa, dondoca, que acha que é superior porque é casada com um juiz e tem quase um foro privilegiado", justifica. "As pessoas, quando têm dinheiro e não têm consciência, são o pior que podem haver", acrescenta.

CADEIA

Eliane tece todos os elogios para a colega de cena Erika Januza e diz que não sai do set de gravação com energia pesada, apesar da trama densa. "É difícil vestir uma personagem que é tudo que você não quer para a sua vida ou perto de você. Nunca tive essa experiência na minha vida. Sempre tive personagens que me apaixono por eles e defendo. Para a Nádia, eu quero que ela vá para a cadeia", torce, aos risos. "Tem muita gente assim. Conheço várias Nádias. Espero que de alguma forma as pessoas vendo isso percebam, se identifiquem e descartem essas posturas e atitudes muito fora do tempo", completa.

LABORATÓRIO

Natural de Sorocaba (SP), a atriz conta que o processo de composição da personagem aconteceu aos poucos. "Realizei algumas pesquisas no Village Mall (risos)", revela, referindo-se ao shopping de luxo localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.

HUMOR

Na história, além da reprovável atitude preconceituosa, a personagem ainda flerta um pouco o humor, quando se veste de empregada doméstica para apimentar a relação com o marido.

"Não sei se o humor pode melhorar ou piorar a Nádia. Corre o risco das pessoas curtirem ela. Pode acontecer. Para mim é uma incógnita", afirma a intérprete, de 65 anos, que tira de letra a questão da sensualidade na maturidade. "A minha geração descobriu que havia vida após os 40, 50, 60 anos. Ela também aprendeu que depois que os filhos cresciam não tinha que esperar os netos chegarem. Muitas mulheres voltaram a estudar e a trabalhar. Vemos nos últimos anos que as mulheres avançam em todos os níveis e isso é encorajador", comemora.

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